Fraco desempenho da atividade industrial já se arrasta desde 2010, e foi decisivo para desacelerar o crescimento do PIB brasileiro em 2011 (Laílson Santos/VEJA)
Da Redação
Publicado em 15 de janeiro de 2012 às 16h00.
São Paulo – Um estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) conclui que a desaceleração do crescimento do PIB brasileiro em 2011 teve cinco razões. Dentre elas, a questão cambial.
Segundo a instituição, o real ainda muito valorizado tem prejudicado a competitividade dos produtos brasileiros nas exportações, e aumentado a concorrência da produção nacional com os importados.
O PIB do Brasil cresceu 7% em 2010, mas, depois de turbulências no cenário externo, e devido aos efeitos de políticas macroeconômicas, deve fechar 2011 com um avanço de cerca de 3%. Veja abaixo as cinco razões que, segundo o Ipea, explicam o menor crescimento da economia do país.
Fraco desempenho da indústria
Boa parte do desaquecimento da economia mundial em 2011 teve a ver com o fraco desempenho da indústria ao longo do ano, e mesmo durante o terceiro trimestre de 2010. Em um ano e três meses, a atividade industrial no Brasil cresceu apenas 1,1%. Neste mesmo período, o setor de serviços, por exemplo, teve desempenho bem melhor, crescendo 3,4%.
Segundo o Ipea, a indústria de transformação, que engloba a fabricação de produtos de base ou de bens de consumo, teve o pior desempenho ao longo do ano passado. Um dos fatores por trás dos resultados negativos foi o efeito cambial. Apesar de ter perdido valor frente ao dólar em 2011 – o câmbio começou o ano na casa dos 1,67 reais, e fechou 2011 cotado a pouco mais de 1,86 reais – o real não chegou a um patamar suficiente para beneficiar a indústria.
“Ao mesmo tempo em que torna mais caros os produtos nacionais no mercado externo, o nível atual de câmbio acirra a concorrência entre a produção voltada para o mercado doméstico e os produtos similares importados, desestimulando a indústria de bens de consumo duráveis”, diz o estudo do Ipea.
Aperto monetário
No fim de 2010 o governo lançou mão de um combo de medidas para conter um possível superaquecimento da economia – que, diga-se de passagem, cresceu 7% naquele ano. Os recursos envolviam medidas macroprudenciais para inibir a expansão do crédito, e o início de um ciclo de aperto monetário que levou a taxa Selic de 10,75% a 12,50% ao ano em sete meses.
O pacote foi usado diante de um cenário de ameaças como um possível descontrole da inflação e o desequilíbrio entre oferta e demanda. Esta combinação de ações pôs um freio na atividade econômica, o qual se manifestou em um crescimento bem mais modesto do PIB se comparado com 2010.
Política fiscal
Apesar de ser considerado um pouco mais fiscalista que o de seu antecessor, o governo da presidente Dilma Rousseff ainda não alcançou um nível de política fiscal que permita que o Brasil tenha um crescimento sustentado em ambiente de juros baixos. Sem mais espaço para baixar os juros, por causa da inflação, o crescimento da economia permanece “amarrado”.
Acúmulo de estoques
Um acúmulo indesejado de estoques na indústria, observado nos últimos meses, também ajudou a esfriar a economia. Setores importantes fizeram ajustes em sua produção para lidar com este acúmulo, como é o caso da indústria automobilística. Estes fatores, segundo o relatório do Ipea, influenciaram o comportamento dos índices de confiança da indústria, em queda desde o fim de 2010.
Crise europeia
Segundo o Ipea, a turbulência no cenário internacional também ajuda a explicar a desaceleração da atividade econômica, contribuindo para deprimir ainda mais a confiança dos empresários. A possibilidade de que os problemas na Europa se espalhem, originando uma nova crise mundial, eleva o grau de incerteza e reduz a intenção de investimentos na indústria.