Economia

5 pontos de atrito para um acordo comercial entre Xi e Trump

O problema: a resolução de qualquer um deles exigiria que a China repensasse um modelo que tornou o país rico e manteve o Partido Comunista no poder

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e presidente da China, Xi Jinping, durante cerimônia em Pequim (Thomas Peter/Reuters)

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e presidente da China, Xi Jinping, durante cerimônia em Pequim (Thomas Peter/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 18 de agosto de 2018 às 08h00.

Última atualização em 18 de agosto de 2018 às 23h26.

Das reclamações do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre o déficit comercial às preocupações do presidente chinês, Xi Jinping, sobre os esforços dos EUA para conter a ascensão da China, muitas coisas separam os líderes das duas maiores economias do mundo.

No entanto, deixando de lado as discussões gerais, cinco pontos de atrito são mencionados pelos diplomatas, executivos e negociadores comerciais que procuram acabar com a guerra comercial entre Washington e Pequim.

O problema é que a resolução de qualquer um deles exigiria que a China repensasse um modelo de desenvolvimento que tornou o país rico e manteve o Partido Comunista no poder muito tempo após a Guerra Fria.

1. Transferência de tecnologia

Os EUA argumentam que os requisitos chineses para que empresas estrangeiras entrem em joint ventures em diversos setores, como o automotivo e o aeroespacial, representam na realidade uma obrigação de compartilhar tecnologia patenteada com empresas locais.

O governo Trump citou tais preocupações em relação à propriedade intelectual ao mesmo tempo em que propunha tarifas sobre cerca de US$ 250 bilhões em produtos chineses usando a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974.

A China nega forçar empresas a transferir tecnologia e argumenta que as cláusulas relativas às joint venture são essenciais para fechar a lacuna industrial do país com o Ocidente.

Pequim também vê a prática como um direito garantido com a ascensão da China em 2001 à Organização Mundial do Comércio como uma economia em desenvolvimento.

2. Excesso de capacidade industrial

Laços estreitos com o partido e o dinheiro fácil dos bancos públicos alimentaram uma vasta expansão das empresas estatais chinesas durante o longo boom econômico do país.

Essas gigantes industriais estão demorando para eliminar o excesso de capacidade à medida que o crescimento se modera, inundando os mercados globais com produtos e pressionando os empregos no exterior. O excedente de aço chinês foi maior do que toda a produção combinada da França e da Alemanha no ano passado.

3. Reforma das estatais

Embora a adesão da China às forças do mercado capitalista tenha impulsionado a expansão do país, o partido nunca cedeu o controle sobre os meios de produção. As empresas estatais detêm cerca de 40 por cento dos ativos industriais do país e incluem alguns dos maiores bancos do mundo. A China mostrou pouco interesse pelas reformas de mercado e pelos esforços de privatização buscados pelo governo Trump.

De fato, tornar as empresas estatais “grandes e fortes” é uma peça fundamental da estratégia da Xi para expandir a influência econômica chinesa e uma série de fusões estão substituindo os oligopólios estatais por monopólios.

Reduzir seu número removeria uma ferramenta poderosa para controlar a economia e gerenciar riscos. "Sem empresas estatais, a China não poderia mais se chamar de sistema socialista", disse Lu Xiang, especialista em relações EUA-China na Academia Chinesa de Ciências Sociais.

4. Políticas industriais

Outro legado das raízes socialistas da China são as políticas industriais planejadas centralmente, que direcionam os vastos recursos do país para objetivos estratégicos.

Xi construiu grande parte de seu plano para realizar a ascensão da China ao status de superpotência com base em uma série de políticas próprias, como "Made in China 2025". O programa direciona subsídios para que 10 indústrias fundamentais, como aeronaves, veículos de energia nova e biotecnologia, sejam dominantes.

O secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, descreveu o programa como um ataque à "genialidade americana", porque dá às empresas chinesas uma vantagem em relação a empresas como Boeing e Intel. Mas as autoridades chinesas veem isso como uma maneira de escalar a cadeia de valor.

5. Computação na nuvem

A internet representou um enorme desafio ao esforço do partido de controlar os quase 1,4 bilhão de cidadãos da China, levando Xi a promulgar um rígido regime de “soberania cibernética” para administrar melhor as informações que entram e saem de suas fronteiras.

Embora essa iniciativa tenha sido alvo de uma série de queixas de empresas dos EUA, as reclamações são particularmente notáveis na área de computação na nuvem.

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