Indústria extrativa mineral cresceu bem no trimestre, mas o resto do setor não acompanhou o movimento (Ana Cecília Rezende/EXAME)
Da Redação
Publicado em 2 de setembro de 2011 às 12h54.
São Paulo - Um dos números do PIB no terceiro trimestre que chamam a atenção é o da indústria. Na comparação com o trimestre anterior, o setor permaneceu praticamente sem crescer, avançando apenas 0,2%.
Embora alguns segmentos tenham apresentado um desempenho melhor, como a indústria extrativa mineral (alta de 2,2%), outros não cresceram nada. O atual momento, combinado com as dificuldades no cenário internacional, preocupa economistas especializados no setor.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) comunicou que vai rever sua atual projeção, e que o PIB do setor vai crescer menos que o esperado em 2011. O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogério de Souza apontou alguns fatos sobre o PIB que mais preocupam a indústria brasileira. Veja abaixo cinco deles.
1 Pé fora do acelerador
O crescimento industrial veio baixo, sim. Mas, segundo Rogério de Souza, o que realmente preocupa é que a economia brasileira como um todo está tirando o pé do acelerador. “Em qualquer comparação que você fizer, vai ver que o ritmo de crescimento está caindo. Isso tem a ver com as medidas de desincentivo do governo via restrição de crédito, ou mesmo a taxa de juros alta. Tudo bem, o Banco Central reduziu os juros na quarta-feira. Mas ele aumentou cinco vezes este ano. Isso desacelerou a economia e a indústria acompanhou”, diz o economista.
2 Crescimento mal distribuído
Crescer pouco preocupa. Mas, se o crescimento fosse mais bem distribuído, seria melhor. A indústria como um todo cresceu 0,2% no último trimestre, mas segmentos como o de transformação ficaram estagnados. Souza diz que o cenário é preocupante. “Os setores com melhor crescimento foram o da indústria extrativa mineral, por causa das commodities, e a ligada aos serviços de utilidade pública, como água, luz, saneamento, construção civil. São estes setores que estão puxando a indústria.”
3 Enxurrada de importados
No caso da indústria, em particular, há outros fatores que contribuem para a fraqueza. A maioria gira em torno do eixo da competitividade. “Produzir no Brasil é caro demais”, diz o economista. Logo, o que o Brasil produz também fica mais caro. O problema é que, com o real forte, a tendência é que os produtos importados entrem no país com um preço competitivo, ameaçando a indústria nacional.
A crise na Europa e nos Estados Unidos atrapalha ainda mais o cenário. “Em 2008 e 2009, a saída para as economias desenvolvidas era empurrar seus produtos para mercados emergentes, em franco crescimento, como era o caso do Brasil. Deve acontecer a mesma coisa agora”, explica Souza. Estes produtos tendem a ocupar lacunas que a indústria nacional não consegue preencher, ou substituir itens fabricados aqui por terem um preço competitivo.
4 Investimentos perdem espaço
Os investimentos da indústria, expressos no indicador da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), perderam terreno nos últimos trimestres. Isto fica claro quando se considera a comparação trimestre a trimestre. No terceiro trimestre de 2010 o crescimento havia sido de cerca de 21%. No segundo trimestre deste ano, o crescimento foi de 5,9%. “Esta queda nos preocupa porque os investimentos garantem que haverá oferta para a demanda futura, que ainda está aquecida. Além disso, a FBCF é importante para garantir o crescimento do país”, diz Souza.
O crescimento dos investimentos é “decepcionante”, na opinião do economista do Iedi. “Atualmente os investimentos representam 17% do nosso PIB. A meta do governo é chegar a mais de 23%. Esse alvo ajudaria o país a cumprir suas obrigações financeiras e crescer àquela taxa tão almejada de 4,5% ao ano. Mas estamos muito longe disso ainda e se continuar assim, não vamos chegar nunca.”
5 O cenário futuro desanima
Outra razão para os calafrios na indústria: a perspectiva até o fim do ano é de que o crescimento continue baixo. De acordo com o economista do Iedi, os dados da produção industrial mostram que a tendência é desacelerar mais. O comportamento do setor de bens intermediários, itens que serão usados na fabricação de outros produtos, desenha essa tendência com mais clareza. “Este setor cresceu 0,6% em produção. Acontece que ele é o de maior peso na indústria e é um termômetro do setor. Se ele cresce abaixo da média da indústria, isto significa que o setor todo ainda vai cair mais um pouco.”
“Não vejo nada que possa mudar de forma mais precisa ou contundente o cenário da indústria”, afirma Souza. Segundo ele, o plano Brasil Maior, do governo federal, pode ajudar alguns setores, mas não a indústria toda. Assim, o crescimento trimestral da indústria até o fim de 2011 deve continuar abaixo ou em torno de 1%. “O plano mostra que o governo é sensível, quer ajudar. Mas o Brasil Maior é incompleto. Precisamos avançar muito”, diz.