São Paulo - Os mercados globais começaram o ano com fortes emoções.
Segunda-feira foi um dia de quedas generalizadas e as bolsas da China encerraram o pregão precocemente, seguindo uma nova regra que interrompe as atividades automaticamente quando as perdas superam 7%.
O iuane foi desvalorizado para o menor nível desde março de 2011 e para piorar o clima, a Coreia do Norte anunciou hoje que realizou com sucesso seu primeiro teste de bomba de hidrogênio, mais poderosa até do que a nuclear.
Mas no fundo, a raiz das turbulências continua a mesma: a sensação de que a economia chinesa está desacelerando demais e tropeçando muito na tentativa de modificar suas bases de crescimento.
Quando se trata de um dos motores da economia global, todo cuidado é pouco. Veja 4 razões que deixam o mundo preocupado com a China:
1. Dados fracos de indústria e serviços
A atividade industrial da China encolheu pelo 10º mês seguido em dezembro, de acordo com a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês)
O número caiu para 48,2, abaixo dos 48,6 de novembro e dos 49 esperados pelo mercado (qualquer leitura abaixo de 50 sinaliza contração).
Isso não preocuparia tanto se o setor de serviços estivesse despontando para ocupar este espaço, mas não é o que vem acontecendo.
O índice PMI dos serviços também caiu: de 51,2 em novembro para 50,2 em dezembro, o nível mais baixo desde julho de 2014 e o segundo mais baixa desde que a medição começou há uma década.
2. A dívida explosiva
A China tem uma dívida de US$ 28 trilhões entre governo, famílias e empresas. Com uma explosão de crédito para sustentar o crescimento no pós-crise financeira, a taxa passou de 170% do PIB em 2008 para 235% do PIB hoje.
O problema não é o número em si, superado por países como o Japão. O problema é que na China o endividamento ocorreu de forma rápida, opaca e antes que o país enriquecesse.
Conta a favor da China o fato de que a esmagadora maioria dessa dívida é doméstica. O governo central controla quase todo o sistema financeiro e a maior parte dos devedores, o que facilita e muito a rolagem da dívida. Mas a história traz lições duras para este tipo de processo:
"Todo país que criou tanta dívida tão rápido inevitavelmente se deparou com problemas de sistema financeiro, incluindo desvalorização da moeda, recapitalização bancária e alta inflação, e não esperamos que a China seja uma exceção", diz uma nota recente do Bank of America Merrill Lynch.
3. O "canário na mina de carvão"
As exportações sul-coreanas caíram 13,8% em dezembro na comparação anual, o 12º mês consecutivo de dados negativos e mais do que o previsto por economistas.
A Coreia do Sul tem uma economia bastante aberta e dependente de outras grandes economias, e este dado é o primeiro a ser divulgado entre elas.
Por isso, ele foi apelidado de "canário na mina de carvão", referência a uma tática usada pelos mineiros para monitorar o nível de gases tóxicos debaixo da terra. O canário era o primeiro a morrer, indicando que chegava a hora de fugir.
Vale lembrar que sozinha, a economia chinesa absorve um quarto das exportações sul-coreanas e este fluxo caiu 5,6% em 2015 na comparação com 2014.
3. A queda do transporte de frete
Já que as estatísticas oficiais de crescimento não são lá muito confiáveis (como até eles mesmo admitem), analistas gostam de usar medidas como consumo de eletricidade e volume de cargas para tirar o pulso da economia chinesa.
E nesse caso, os números preocupam. O volume de transporte de frete ferroviário caiu 10,5% na China em 2015, divulgou ontem a Reuters citando a revista chinesa de negócios Caixin.
Além de ser o maior declínio da história do país, é duas vezes maior do que a queda de 4,7% em 2014. O governo chinês alega que como a economia chinesa está mudando de perfil, este tipo de dado tem se tornado menos representativo.
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1. 1. Esvaziamento da aliança transatlântica
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1/11 (Reuters)
Desde a Segunda Guerra Mundial, o sistema global é sustentado por algumas instituições construídas de forma conjunta por
Estados Unidos e
Europa: pense nas Nações Unidas, no FMI, na OTAN, na OMC, etc. Só que o mundo mudou nas últimas décadas. Atores importantes despontaram na margem do sistema (como a China) enquanto os Estados Unidos oscilavam entre o unilateralismo de Bush e o comedimento de Obama. Esta tensão não resolvida deve esquentar com a eleição deste ano. Já a Europa hesitou, se voltou para dentro e foi capturada por medos e populismos. O crepúsculo de Angela Merkel e a possibilidade de saída do Reino Unido da União Europeia dão margem para novas alianças, e isso fica claro nas divisões sobre como lidar com Ucrânia, Síria e outros problemas globais. "Europeus e americanos vão cada vez mais ir para seus caminhos separados. Padrões comerciais e alianças políticas vão divergir. O risco mais importante diz respeito ao sistema de segurança global. Simplesmente não há mais qualquer tipo de "bombeiro" (...) Pensou que o Oriente Médio foi problemático em 2015? Isso garante que ele vai piorar", diz o texto da Eurasia.
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2. 2. Uma Europa fechada
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2/11 (Michaela Rehle / Reuters)
"As divisões da
Europa não são nada novo. Elas definiram os desafios europeus por décadas. Mas em 2016, atingirão um novo ponto crucial na medida em que emerge uma crise de identidade entre a Europa aberta e a Europa fechada - e uma combinação de desigualdade, refugiados, terrorismo e pressões políticas de base estabelecem um desafio fundamental aos princípios nos quais o bloco foi fundado", diz a Eurasia. A Europa superou (até certo ponto) a crise do euro e está até voltando a crescer, mas as forças de fragmentação podem ser fortes demais para serem contidas. O continente envelhece e precisa mudar seu perfil demográfico, mas hesita em aceitar refugiados. Enquanto isso, populistas à direita e à esquerda exploram a narrativa da decadência e conseguem despontar usando a união como bode expiatório. Some a isso o terrorismo, o possível fim da utopia das fronteiras abertas e o enfraquecimento da mão firme de Merkel na Alemanha e temos uma Europa cada vez mais fechada - e também mais fraca.
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3. 3. A desaceleração chinesa
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3/11 (Natalie Behring-Chisholm/Getty Images/Getty Images)
As últimas décadas viram uma explosão vertiginosa da
importância da economia chinesa para o mundo. Ela já é a maior do mundo em paridade de poder de compra, teve papel decisivo na
queda da pobreza mundial e move globalmente fatores como o preço das commodities. Mais recentemente, a
China passou a traduzir essa relevância em atuação geopolítica, mexendo com o xadrez global. Só que a economia chinesa está mudando ao mesmo tempo em que desacelera, e ninguém sabe de exatamente de qual forma e em qual grau. "Muitos países no mundo inteiro já reconhecem que a China é o mais importante e o mais incerto ator para uma longa variedade de questões críticas. Isso está enervando aqueles que estão mais expostos a China do que nunca, mas não estão prontos para esta mudança, não entendem ou concordam com as prioridades chinesas, e não saberão como reagir ao novo estado das coisas", diz a Eurasia.
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4. 4. O Estado Islâmico e seus "amigos"
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4/11 (AFP)
"O
Estado Islâmico é a organização terrorista mais poderosa do mundo. As respostas internacionais a sua ascensão são inadequadas, mal direcionadas ou contraditórias. Em 2016, este problema se provará insolúvel, e o EI e outras organizações terroristas vão tirar vantagem disso", diz o texto da Eurasia. De acordo com a consultoria, a reação militar pode até tirar território do EI, mas terá efeito limitado já que o grupo criou raízes que vão além de Iraque e Síria, além de responder aos anseios e frustrações de vastas populações sunitas oprimidas. A resposta hostil da Europa aos refugiados e as divergências entre os grandes poderes sobre como criar uma solução política para a guerra da Síria também deve fortalecer tanto o EI quanto outros grupos do tipo.
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5. 5. Arábia Saudita
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5/11 (Waseem Obaidi/Bloomberg)
O preço do
petróleo está em queda livre e isso não é nada confortável para a maior economia do
Oriente Médio, a Arábia Saudita. O país
pode quebrar em poucos anos, segundo o FMI, e está se mexendo para
taxar seus cidadãos pela primeira vez. Outro problema é de política interna: "O rei Salman se moveu para empoderar seu filho de 30 anos, Mohammed bin Salman, quase que certamente o preparando para ser seu sucessor, aumentando a frustração dos competidores dentro da família real", diz a Eurasia. E não acaba aí: a Arábia Saudita está tendo que lidar com a reabilitação econômica e política do seu rival histórico, o Irã, com quem acaba de
cortar relações diplomáticas após um ataque contra sua embaixada em Teerã (outros países a seguiram).
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6. 6. A ascensão dos atores tecnológicos
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6/11 (Getty Images)
A tecnologia tem um papel cada vez maior na nossa vida, e não por acaso gerou uma nova geração de atores influentes (como o grupo
Anonymous) e uma série de
bilionários: pense em Mark Zuckerberg, Sergey Brin, Jack Ma, Jeff Bezos e tantos outros. Esta turma quer cada vez mais poder político, o que não é um problema em si mas gera incertezas. Por exemplo: o que significa para os EUA quando o Facebook corteja o governo da China? Que tipos de candidatos eles pretendem financiar e que tipo de política pública vai surgir disso? "Governos testemunhando essa evolução vão certamente jogar junto quando verem vantagens. Porém mais frequentemente do que não, a ascensão política dos 'tecnologistas' vai criar conflitos entre centros concorrentes de poder", diz a Eurasia.
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7. 7. Líderes imprevisíveis
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7/11 (Aleksey Nikolskyi/RIA Novosti/Kremlin/Handout via Reuters)
A Eurasia recomenda que neste ano, você lembre de 4 nomes:
Vladimir Putin (presidente da Rússia), Tayyip Erdoğan (presidente da Turquia), Petro Poroshenko (presidente da Ucrânia) e bin Salman (na linha de sucessão da monarquia da Arábia Saudita).
O que eles tem em comum? Todos são líderes de atuação errática com histórico de criação de crises internacionais e necessidade de autoafirmação. Pior: todos são atores centrais em uma ou em várias crises do mundo atual, tal como a ascensão do Estado Islâmico.
"Estes líderes imprevisíveis fazem nossa lista este ano porque suas intervenções se sobrepõe e entram em conflito. Um líder poderoso e errático é sinal de problema: quatro são sinal de volatilidade para o sistema internacional e muito mais turbulência", diz a Eurasia.
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8. 8. Crise no Brasil
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8/11 (Reuters)
"A crise política e econômica deve piorar ao longo de 2016. Ao contrário das esperanças de alguns comentaristas e atores do mercado, a batalha do impeachment de Rousseff no começo do ano não deve terminar o impasse político", diz a Eurasia. O problema é que se Dilma sobreviver no cargo, provavelmente não terá cacife para aprovar as reformas necessárias para conter o déficit público, além de ter que fazer acenos à esquerda. Caso Temer assuma (o que a Eurasia considera menos provável) poderia haver um otimismo inicial mas o PMDB de Temer continuaria sendo alvejado pela Lava Jato. Ele ainda teria que lidar com dois obstáculos: um PT sem medo de ser oposição e desemprego crescente. Para a Eurasia, a solução mais "limpa" é a menos provável: anulação da eleição de 2014 pelo Tribunal Superior Eleitoral com base na acusação de contribuições ilícitas de campanha.
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9. 9. Falta de eleições em países emergentes
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9/11 (Veejay Villafranca / Stringer)
2014 e 2015 tiveram muitas
eleições decisivas em países emergentes importantes. Estes processos trazem bastante volatilidade para os mercados, mas em 2016 será o contrário: a falta de eleições é que é o problema. Na medida que conflitos internos não poderão ser processados pela via eleitoral, eles tendem a aumentar a chance de protestos. A evolução tecnológica facilita a coordenação enquanto a decepção com a falta do crescimento prometido se torna um "fator de risco". De acordo com a Eurasia, isso é especialmente verdadeiro em países como Brasil (onde os blocos pró e anti-governo contam com a força das ruas), África do Sul (onde o governo
vem agindo de forma atrapalhada), Tailândia e Indonésia.
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10. 10. Turquia
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10/11 (Umit Bektas / Reuters)
Depois de governar a
Turquia como primeiro-ministro por mais de uma década, Erdogan passou para o papel de presidente e agora busca consolidar o poder em suas mãos. Só que no processo, deve exacerbar os conflitos internos do país. Isso significa: ataques a opositores e mídia, pressões por uma política monetária e fiscal mais flexível, clima de incerteza em relação aos investimentos e nacionalismo no campo da política externa. E isso sem falar na crise de refugiados (o país é o maior foco mundial), a tensão com a Rússia (inclusive com sanções) e o problema de terrorismo, que tudo indica estar se agravando.
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11/11 (Thinkstock)