Economia

4 gráficos que mostram a explosão da desigualdade no mundo

As 80 pessoas mais ricas do planeta tem hoje uma riqueza equivalente aos 3,5 bilhões de habitantes mais pobres, diz ONG britânica

Desigualdade, pobreza (Getty Images)

Desigualdade, pobreza (Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 19 de janeiro de 2015 às 16h06.

São Paulo - A ONG britânica Oxfam divulgou nesta segunda-feira dados assustadores sobre a evolução da desigualdade no mundo nos últimos anos.

A ideia é chamar a atenção para o problema às vésperas do Fórum Econômico Mundial, que começa nesta quarta-feira a reunir a elite econômica mundial em Davos, na Suíça.

Com base em números do Credit Suisse e da revista Forbes, a ONG mostrou que a parcela da riqueza mundial nas mãos do 1% mais rico da humanidade cresceu de 44% do total em 2009 para 48% em 2014.

Veja no gráfico: na coluna da esquerda, está a proporção da riqueza global. A linha verde é a dos 99% mais pobres e a linha roxa é do 1% no topo. 

(Oxfam)

Se as coisas continuarem caminhando deste jeito, o 1% mais rico pode ter já em 2016 uma riqueza maior do que o resto dos 99% combinados.

As linhas pontilhadas apontam a concentração no futuro próximo caso a tendência entre 2010 e 2014 continue inalterada:

(Oxfam)

A concentração é ainda mais intensa no topo do topo. Em 2010, as 80 pessoas mais ricas do planeta tinham uma riqueza conjunta de US$ 1,3 trilhão. Em 2014, esse número já era de US$ 1,9 trilhão - um aumento de 600 bilhões de dólares (ou 50%) em apenas 4 anos.

A riqueza deste grupo depende bastante do comportamento do mercado de ações, que caiu muito durante a crise mas se recuperou de forma mais rápida e intensa do que o resto da economia desde então.

Enquanto isso, o patrimônio da metade mais pobre do mundo é hoje menor do que em 2009. Veja no gráfico: a linha roxa é a riqueza nominal dos 80 mais ricos e a linha verde é a riqueza da parcela dos 50% mais pobres: 

(Oxfam)

De acordo com a Forbes, o mundo tem 1.645 bilionários - quase 30% são americanos e cerca de um terço herdou parte (ou toda) sua riqueza.

Os 80 maiores bilionários tem hoje o equivalente aos 3,5 bilhões de habitantes mais pobres do planeta. Em 2010, era necessário juntar as 388 pessoas mais ricas do mundo para atingir uma proporção equivalente.

(Oxfam)

“Nos últimos 12 meses, vimos líderes mundiais do presidente Obama à [presidente do FMI] Christine Lagarde falarem mais sobre abordar a desigualdade extrema mas ainda estamos esperando que muitos deles façam o que é preciso. Chegou a hora dos nossos líderes enfrentarem os interesses que ficam no caminho de um mundo mais próspero e justo", diz Winnie Byanyima, diretora-executiva da ONG. 

Ela vai co-presidir alguns painéis em Davos. O tema da desigualdade ficou em primeiro lugar no ano passado na lista de riscos econômicos divulgada pelo Fórum, mas perdeu espaço este ano para temas geopolíticos e ambientais.

A Oxfam sugere 7 linhas de atuação para começar a enfrentar o problema: 

1. Combater a elisão e evasão de impostos por indivíduos ricos e corporações

2.  Investir em serviços públicos livres e universais como saúde e educação

3. Dividir o peso dos impostos de forma justa, transferindo a taxação do trabalho e do consumo em direção a capital e riqueza

4. Introduzir salários mínimos e caminhar em direção a um salário suficiente para todos os trabalhadores

5. Introduzir legislação de pagamento igualitário e promover políticas econômicas que deem às mulheres uma recompensa justa

6. Garantir redes de segurança para os mais pobres, incluindo uma garantia de renda mínima

7. Concordar com uma meta global de enfrentamento da desigualdade

Atualização em 19/01/2015 17h01: a metodologia da Oxfam foi criticada na Reuters e no Spectator por considerar patrimônio como ativos menos dívida - dessa forma, um americano endividado parece mais pobre no papel do que um africano sem qualquer ativo. Definir (e calcular) o que é riqueza para os mais pobres é bem mais difícil do que para bilionários. No ano passado, a Oxfam escreveu um post esclarecendo e justificando suas escolhas metodológicas. 

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