São Paulo - A Grécia tem até a próxima terça-feira para pagar 1,6 bilhão de euros para o Fundo Monetário Internacional (FMI).
É um dinheiro que ela não tem, então as negociações continuam tensas com os credores (que também incluem Banco Central Europeu e Comissão Europeia).
Eles exigem mais cortes e reformas em troca de recursos, uma dinâmica que já se arrasta há anos e ficou mais tensa desde que o partido Syriza assumiu prometendo condições melhores para o povo grego.
O mercado não está exatamente indiferente, mas a sensação geral é que o setor público e privado do resto da Europa e do mundo se blindaram nos últimos anos e nunca estiveram tão preparados para uma possível "Grexit".
Em fevereiro, uma pesquisa mostrou que os empresários da União Europeia já se preocupam mais com o Reino Unido deixando o bloco ("Brexit") do que com a Grécia fazendo o mesmo.
Enquanto isso, a fuga de recursos se acelera. Com medo de que um controle de capitais seja estabelecido a qualquer momento, turistas são orientados a levar mais dinheiro vivo e pedem cofres aos hotéis para guardá-lo.
Para o Goldman Sachs, o cenário-base hoje é que as coisas "pioram antes de melhorar": nenhum acordo é feito no curto prazo e há um calote técnico com controle de capitais.
Eventualmente, a pressão do mercado força ambas as partes a fazer concessões e resolver o impasse. O banco enviou nesta semana um relatório que resume o tamanho do problema da Grécia (veja aqui em versão maior):
O gráfico de baixo da esquerda mostra que as medidas de corte de gastos e aumento de impostos negociadas com os credores refletiram em uma melhora do déficit.
No entanto, como mostra o gráfico de cima da direita, isso não foi capaz de reanimar a economia: o PIB da Grécia perdeu mais de um terço do seu valor desde 2008, uma derrocada que já supera a Grande Depressão americana.
Sem crescimento, fica muito difícil estabilizar a relação entre dívida e PIB - que como mostra o gráfico de cima da esquerda, explodiu de 110% em 2008 para 180% em 2014.
Economistas apontam que apertar a Grécia ad infinitum não vai mudar essa trajetória, e que algum perdão e reestruturação de dívida é inevitável - como já aconteceu muitas vezes na história europeia.
O medo dos líderes da UE é que facilitar para os gregos estimularia a ascensão de partidos como o Syriza em lugares como a Espanha. Além disso, o histórico da Grécia não é exatamente promissor: o país passou 90 dos últimos 192 anos em crise da dívida.
Enquanto isso, o sistema bancário sangra (como mostra o gráfico de baixo da direita) e quem mais sofre é a população grega. A renda disponível entre os mais ricos já voltou para níveis de 1985. Entre os mais pobres, o dinheiro na mão é equivalente ao registrado em 1980.
O desemprego é o maior da União Europeia (25,7% em janeiro) e chega a 50% entre os mais jovens. 3 a cada 4 desempregados gregos estão procurando emprego há mais de um ano.
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1. Falando grego
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1/8 (Louisa Gouliamaki/AFP)
São Paulo - Há 5 anos, o debate sobre a crise da
Grécia gira em torno de duas questões: o país vai ou não sair do
euro? E quais seriam as consequências disso? O cenário institucional já mudou muito, mas o retórico é basicamente o mesmo, povoado por caricaturas de gregos preguiçosos, alemães autoritários, tecnocratas sem coração e políticos sinuosos. Não faltam simbolismos e lições de moral. Há quem lembre que a Grécia basicamente vive em um
estado perpétuo de crise da dívida. Os gregos rebatem com
episódios sombrios da história recente da
Alemanha. O teatro chegou a outro nível com a entrada em cena de
Yanis Varoufakis, ministro de Finanças grego, adepto de imagens fortes que frequentemente
o colocam em saias justas. Veja 7 metáforas sobre a crise da Grécia e o que elas explicam:
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2. O efeito dominó
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2/8 (Aussiegall/WikimediaCommons)
O efeito dominó é simples de entender: quando você tem várias peças enfileiradas e a primeira cede, é impossível de evitar que uma derrube a outra até que não sobre nenhuma de pé. A metáfora é usada amplamente desde 2010 para ilustrar o que aconteceria caso algum país saísse da zona do euro: o pânico e a especulação acabariam empurrando outras nações vulneráveis ao mesmo destino. Já em 2011, muito antes de sequer sonhar em virar ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis
explicou em seu blog o que vê de errado com essa metáfora: "com cada 'transição', o custo de 'resgatar' o próximo país aumenta ao mesmo tempo em que recai sobre um número menos de países. É uma dinâmica muito mais calamitosa do que a alegoria do dominó consegue capturar".
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3. O castelo de cartas
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3/8 (Arealast/Wikimedia Commons)
No seu post de 2011, Varoufakis comparou a zona do euro com um grupo de alpinistas de tipos físicos diversos na beira de um abismo e ligados por uma única corda. De repente, acontece um terremoto e um deles (a Grécia) começa a cair; o segundo mais próximo também acaba cedendo, e assim sucessivamente, aumentando cada vez mais o peso sobre os remanescentes. A dúvida é se os mais fortes (a Alemanha) vão continuar tentando puxar o grupo para cima ou se vão cortar a corda. Em fevereiro deste ano, já como ministro, Yanis escolheu uma metáfora mais simples e popular: a do castelo de cartas. "O euro é frágil, é como construir um castelo de cartas. Se você tirar a carta da Grécia, os outros entram em colapso", disse ele em entrevista para um canal italiano.
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4. O vírus Ebola
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4/8 (Cynthia Goldsmith/AFP)
Outra metáfora comum nos discursos sobre efeitos em cadeia na economia global é a da doença: o "contágio" financeiro. No caso da Grécia, o uso mais notório foi feito por Angel Gurria, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) ainda em 2010. Em entrevista para a Bloomberg, ele disse: "isso não é uma questão de contágio. O contágio já aconteceu. Isso é como o
ebola. Quando você percebe que tem, precisa cortar a sua perna para sobreviver". Curiosamente, a doença só voltaria para as manchetes mundiais no início do ano passado. O novo surto em países da África Ocidental como Sierra Leoa e Libéria já matou até agora mais de 10 mil pessoas.
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5. Afogamento simulado
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5/8 (Mark Wilson/Getty Images)
O afogamento simulado é uma técnica de tortura que consiste em despejar água sobre um pano ou toalha colocado no rosto de alguém imobilizado. Muitos oficiais americanos evitar classificar como "tortura" o método, amplamente utilizado na guerra contra o terror. O escritor Christopher Hitchens
aceitou se submeter a técnica para dar seu veredicto (conclusão: é tortura sim). Varoufakis foi o primeiro a chamar de "afogamento simulado fiscal" as políticas duras de austeridade que a União Europeia exigiu como contrapartida dos seus pacotes de resgate. Em uma
entrevista recente para a revista alemã Der Spiegel, ele disse que os torturadores são os "tecnocratas do trio FMI-BCE-Comissão Europeia enviados para implementar e monitorar um programa destrutivo" e defendeu a analogia: "Conseguiu capturar sua atenção, não é mesmo? Então funcionou."
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6. Cavalo de Tróia
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6/8 (Domínio público/Giovanni Domenico Tiepolo)
Desde que o partido de esquerda Syriza chegou ao poder no final de janeiro, a Grécia está na corda bamba, tendo que se mostrar aberta a negociações sem recuar da promessa de mudar fundamentalmente os acordos de resgate. No dia 19 de fevereiro deste ano, os gregos
enviaram uma carta para o grupo de ministros de Finanças da UE pedindo formalmente uma extensão de 6 meses do programa atual. A resposta dos alemães,
vazada para a imprensa, tinha o seguinte trecho: "a proposta [grega] representa um cavalo de tróia, com o objetivo de garantir uma ponte de financiamento acabando com a substância do programa atual". Diz a lenda que após 10 anos de luta, os gregos deram um cavalo gigante como sinal de trégua aos troianos. O presente foi aceito e colocado no centro da cidade; no meio da noite, os soldados escondidos na estátua de madeira saíram e tomaram o território inimigo. Em tempo: dias depois da polêmica, os gregos enviaram uma lista de reformas prometidas e
conseguiram uma extensão de 4 meses do programa atual.
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7. A perna amputada
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7/8 (.)
Muita coisa mudou desde que a crise da Grécia estourou em 2010. Nas negociações atuais, uma tática da Alemanha para melhorar sua posição de barganha tem sido sinalizar que a
Europa já não deve temer tanto assim uma possível "Grexit". Há cerca de duas semanas, uma
matéria do Financial Times afirmou que alguns oficiais alemães estão propagando a "teoria da perna amputada, segundo a qual a Grécia deve ser cortada como um membro gangrenado para poupar o resto do corpo da zona do euro". Outros continuam adeptos da metáfora do dominó - quando o primeiro cai, fica difícil segurar o processo.
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8. A pistola dágua
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8/8 (Zoom Zoom / Wikimedia Commons)
A última metáfora da lista vem, novamente, do ministro Varoufakis. Em meados de janeiro, ele disse que o
programa de compra de títulos do Banco Central Europeu para estimular a economia europeia e evitar a deflação equivale ao de "uma pistola d'água sobre um incêndio na floresta". Em entrevista
publicada no seu blog, ele aliviou para o presidente do BCE,
Mario Draghi, que sofreu constragimentos políticos e legais para agir de forma mais rápida e incisiva: "Não tenho dúvidas de que ele entende que o que está fazendo é muito pouco, muito tarde. Mas ele acha que uma pistola d'água é melhor que nada. Se há um fogo devastador, ele gostaria de usar o canhão d'água, e gostaria de ter usado antes, mas não foi permitido". Algum efeito, a pistola deve estar tendo - o otimismo com a economia europeia aumentou sensivelmente nas últimas semanas, e o crescimento está próximo do
maior nível em 4 anos.