Economia

3 razões pelas quais a Copa não vai ajudar tanto o Brasil

Efeitos do torneio serão "fugazes" e não devem ter grande impacto na economia brasileira, de acordo com nota da agência Moody's lançada hoje

Vista aérea do estádio de futebol Arena Amazônia, uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, em Manaus (Bruno Kelly/Reuters)

Vista aérea do estádio de futebol Arena Amazônia, uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, em Manaus (Bruno Kelly/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 31 de março de 2014 às 19h05.

São Paulo - Até pouco tempo atrás, os benefícios econômicos e o legado de infraestrutura eram apontados como os principais motivos para realizar a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

"O Brasil vai investir em infraestrutura até 2014 o que não investiu em 30 anos", disse o presidente Lula em 2010.

Ele não estava sozinho: em 2011, o Itaú previa que só a Copa aumentaria o PIB brasileiro em 1,5 pontos percentuais. Hoje, o banco acha que a economia não vai conseguir crescer nem 1,5% em pleno ano do torneio.

A agência de rating Moody's lançou hoje um relatório apontando os motivos pelos quais o impacto econômico da Copa não se materializou. Veja a seguir:

1. Torneio curto em economia grande

O Ministério do Turismo espera que os 600 mil turistas internacionais e 3 milhões de turistas domésticos durante a Copa injetem cerca de R$ 25 bilhões na economia.

É um número grande, mas que "empalidece", segundo a Moody's, diante do tamanho do PIB nacional: US$ 2,2 trilhões. A agência acredita que o evento de 32 dias terá apenas impactos "fugazes".

O setor de turismo deve sentir algum efeito no longo prazo com a melhora da reputação e visibilidade do país, mas isso depende do torneio acontecer sem maiores contratempos.

Para o governo brasileiro, a contribuição da Copa ao crescimento do PIB será de 0,4% entre 2010 e 2019.

2. Alguns ganham, outros perdem

Para alguns setores, a Copa será uma ajuda e tanto: hoteis, empresas de publicidade e locadoras de veículos são alguns dos exemplos. 

Outro grande beneficiado será o setor de alimentos e bebidas: só a Ambev deve experimentar um aumento de 2% nas vendas anuais, diz a Moody's. A empresa também deve lucrar com a exposição internacional da sua marca, assim como outros patrocinadores oficiais do evento como Adidas, Oi e Coca-Cola.


As empresas de construção - como a Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS - também ganham com o evento, mas a essa altura, a maior parte das obras está feita e o impacto já foi contabilizado. Para as aéreas, é uma faca de dois gumes: o evento aumenta o tráfego, mas o controle de preços segura a lucratividade.

No entanto, o trânsito mais carregado, a possibilidade de de que os protestos fujam do controle e a piora na produtividade pesam contra partes da indústria e do varejo - e isso sem falar nos feriados da Copa, que podem causar uma perda de US$ 30 bilhões no PIB, de acordo com a Fecomercio. A inflação também deve aumentar.

3. O investimento em infraestrutura não é tão grande assim

De acordo com a Moody's, o investimento em infraestrutura por causa da Copa é de 303 projetos com valor total de R$ 25 bilhões.

Parece muito, mas é apenas 0,7% do investimento total público e privado previsto para o país entre 2010 e 2014. E até o final de fevereiro, só metade deste valor já havia sido desembolsado.

Apesar de tudo, são estes investimentos que podem deixar algum tipo de legado. Melhores estradas, aeroportos e portos devem "fortalecer a competividade brasileira, mas com poucos meses faltando para o torneio, a maior parte do impacto já foi sentida", diz a agência.

Outro consolo é que por serem modestos, os investimentos estão numa margem confortável dentro do orçamento dos governos locais (entre 0,24% a 12,75% da receita total prevista para este ano) e não devem afetar significativamente a dívida pública.

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