Pedestre em Tóquio, no Japão: país começou nesta semana um grande experimento (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 30 de janeiro de 2016 às 06h00.
São Paulo - O Japão teve uma semana e tanto.
No espaço de dias, a terceira maior economia do mundo (depois de Estados Unidos e China) conheceu dados desanimadores de comércio exterior, perdeu um ministro acusado de corrupção e implementou uma manobra ousada de política monetária.
Está aberta assim uma nova fase do governo Shinzo Abe, reeleito primeiro-ministro em 2012 com a expectativa de sucesso do Abenomics, seu plano de recuperação da economia.
Os resultados por enquanto não são muito animadores: o PIB do país cresceu apenas 0,7% no ano passado, segundo as últimas estimativas.
Entenda melhor o que aconteceu nesta semana e como isso afeta as perspectivas do Japão:
1. Comércio exterior no negativo
Na segunda-feira, o Japão divulgou que suas exportações caíram 8% em dezembro na comparação anual, pior do que os 6,8% negativos esperados por economistas ouvidos pela Reuters.
Foi a terceira queda seguida e a maior desde setembro de 2012. As exportações para a China, sua maior parceira comercial, caíram 8,6% na comparação anual.
Mais da metade das exportações japonesas vão para a Ásia, e o cenário difícil da região já havia sido antecipado por dados de países como a Coreia do Sul, considerados o "canário da mina de carvão" da economia global.
2. Queda de ministro
Na quinta-feira, o ministro da Economia, Akira Amari, renunciou após mais de 3 anos no cargo.
Ele é aliado próximo de Abe e foi um dos principais arquitetos da sua política econômica, além de ter negociado a participação japonesa na recém-concluída Parceria Transpacífica.
Sua saída do governo foi uma reação a denúncias de corrupção feitas por uma revista local. Amari e assessores teriam recebido dinheiro e presentes no valor de cerca de US$ 100 mil de uma companhia de construção em troca de favores relacionados a posse de terras.
O ex-ministro diz que se tratava de uma doação política legítima registrada incorretamente. Ele foi substituído no cargo por Nobuteru Ishihara, até então ministro do meio ambiente.
3. Juros negativos
No dia 21 de janeiro, o presidente do banco central japonês, Haruhiko Kuroda, disse que não havia planos de adotar taxas de juros negativas no país. Nesta semana, aconteceu a reunião de política monetária e foi exatamente isso que eles decidiram.
De forma inédita, a taxa sobre recursos financeiros que os bancos comerciais depositam no BC vai passar de 0,1% para -0,1% a partir de agora.
Isso significa que na prática, os bancos vão ter que pagar uma pequena taxa para deixar seu dinheiro parado. A ideia é fazer com que o os recursos circulem e estimulem a economia, puxando para cima uma inflação que teima em ficar abaixo da meta.
A experiência será acompanhada de perto pelos economistas, uma vez que o Japão já tentou muita coisa para escapar da virtual estagnação em que se meteu há décadas. Na medida em que sua população envelhece, a Europa pode ir pelo mesmo caminho.
Além disso, os bancos centrais esgotaram desde a crise de 2009 o seu típico arsenal de políticas contra recessões: agora, zero não é mais o limite.