Brasil: revisões constantes (para baixo) do crescimento da economia (Pilar Olivares/Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de março de 2020 às 06h41.
Última atualização em 4 de março de 2020 às 07h40.
São Paulo — Pelo terceiro ano seguido, a economia brasileira deve mostrar um crescimento tímido, em cerca de 1%. O ano de 2019 começou com a expectativa de uma expansão de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), mas o mercado não contava com o desabamento de uma das barragens da Vale em Brumadinho (MG), nem com a escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China.
As incertezas ao longo da tramitação da reforma da Previdência e a recessão na Argentina, importante parceiro comercial do Brasil, também não estavam no radar e contribuíram para o desempenho pífio.
O resultado do PIB do ano passado será revelado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A mediana das expectativas do mercado financeiro, calculada pelo Banco Central, mostra uma alta de 1,2% no PIB anual, resultado bem próximo do 1,3% de 2017 e do 1,1% de 2018.
Em relação ao quarto trimestre do ano, a expectativa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) é de que a economia tenha crescido 0,6%, o mesmo ritmo do trimestre imediatamente anterior.
O destaque negativo deve ficar para o investimento, segundo o Ibre, que pode mostrar forte recuo no quarto trimestre, “com perspectivas ainda nebulosas para este ano, a despeito da recuperação consistente da construção civil”, diz em relatório. Já a indústria, segundo o instituto, registrou retração de 1,1% no ano. “A redução do comércio internacional e, em particular, a grave crise argentina tiveram papel central no resultado”, afirma o Ibre.
O instituto ressalta que é preocupante o fato de a indústria de transformação ter permanecido estável em 2019 (+0.1%), ou seja, com praticamente nenhum crescimento. A produção de bens de capital caiu 0,4%, diretamente relacionada à modesta expansão do investimento.
Em relação ao comércio varejista, outro imprevisto: indicadores sugerem que o impulso gerado pela liberação dos recursos do FGTS no fim do ano passado foi parcialmente anulado pela inflação mais salgada no final do ano.
A expectativa é de que a demanda doméstica continue se aquecendo neste ano, ainda que com ímpeto um pouco menor do que antes esperado. Infelizmente, 2020 parece que começa a repetir a história do ano passado: expectativas em alta que vão se deteriorando ao longo do tempo.
Com o agravamento da epidemia global de coronavírus, as revisões já começaram. O Goldman Sachs rebaixou na terça-feira, 3, sua expectativa para o crescimento da economia brasileira em 2020 de 2,2% para 1,5%. Agora é torcer para que a temporada de revisões pare por aí.