Indústria: para economista Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre, houve desaceleração muito forte na previsão de investimentos no período de um ano (Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2014 às 15h48.
Rio - O ano de 2014 será de baixo investimento produtivo do setor privado na indústria da transformação. "Não é um quadro de ruptura, mas sim de desaceleração", afirmou o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloisio Campelo.
Segundo ele, a taxa de juros mais elevada, a previsão de desembolso menor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a crise na Argentina (que preocupa pelo lado da exportação) podem estar comprometendo as perspectivas das empresas para o investimento.
Nos próximos 12 meses, 34% das empresas preveem investir mais, contra 43% um ano antes. Já as que pretender reduzir os investimentos são 16%, contra 13% na mesma comparação. A piora do cenário macroeconômico foi determinante para essa mudança de avaliação.
"Não é só uma deterioração no sentido de que há piora nos fundamentos da economia. A situação fiscal está pior, a inflação se mostra resistente, mas há também componentes de incerteza, que se somam justamente por essa piora e por novos ingredientes, como as manifestações, a discussão sobre o risco de racionamento e a crise na Argentina", disse Campelo.
Para a economista Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre, da FGV, houve uma desaceleração muito forte na previsão de investimentos no período de apenas um ano. Ela notou ainda que o movimento é mais intenso até do que o ocorrido entre 2008 e 2009, período crítico da crise financeira mundial.
A incerteza e o pessimismo são outros fatores que podem estar influenciando as previsões. Campelo observou que, quanto mais alto o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), maior o número de empresas que dizem pretender ampliar os investimentos ao longo do tempo. "Neste ano, o Nuci praticamente não caiu, mas a previsão de investimentos recuou muito", disse.
Segundo o superintendente, é possível que tenha havido antecipação dos investimentos ao longo de 2013, em função de taxas de juros mais baixas, do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e do desembolso recorde do BNDES. Na comparação interanual, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) ainda mostra certo vigor, em razão de investimentos já encomendados, mas a tendência é de redução do ritmo.
A previsão de taxa média de expansão da capacidade de produção dos bens de capital no triênio 2014-2016 caiu a 18,3%, de 25,9% no triênio 2013-2015, segundo a sondagem. Para Campelo, esse movimento se deve à volatilidade dessa categoria de uso. "Há um ímpeto muito grande quando a economia começa a crescer, e, quando inverte, há uma correção muito forte para baixo", disse.
Para a indústria de transformação como um todo, essa taxa média caiu a 19,6% no triênio 2014-2016, o menor nível desde o período 2002-2004 (19,5%), quando foi iniciada a pesquisa. "Era o momento da saída do racionamento energético. Ainda tinha a crise da Argentina, o 11 de setembro e a bolha na bolsa de Nasdaq", notou Campelo.