São Paulo - A desigualdade se tornou uma questão importante na China.
Atualmente, um terço da riqueza do país está nas mãos do 1% mais rico enquanto os 25% na base da pirâmide tem apenas 1% da riqueza.
As conclusões são de uma pesquisa anual feita em 15 mil domicílios de 250 cidades por um instituto da Peking University e financiada pelo governo.
O coeficiente de Gini do país saltou de 0,3 em 1980 para 0,49 em 2012, com queda para 0,45 em 2015 (nesta medida, 0 representa igualdade perfeita e 1 representa desigualdade total).
A título de comparação, o Banco Mundial estima o indíce de Gini dos Estados Unidos em 0,41, o do Japão em 0,32 e o da Alemanha em 0,3, enquanto o do Brasil está em outro patamar: 0,52.
Estes números devem ser olhados com cuidado. O censo americano mostra o índice de Gini em 0,47, mais alto do que o chinês, mas um estudo da Universidade de Michigan estima que o Gini chinês esteja na verdade em 0,55.
Cenário
A questão é central porque a China não é uma democracia e a estabilidade do seu governo depende da sensação de que o padrão de vida está melhorando de forma generalizada.
Uma pesquisa do Pew Research Center no ano passado mostrou que a desigualdade crescente é vista como problemática por 3 em cada 4 chineses.
No ranking de preocupações, fica atrás apenas de oficiais corruptos, poluição do ar e poluição da água.
Este desafio se torna ainda maior no momento atual. O crescimento do país está desacelerando para o menor nível em 25 anos e o mercado está afundado em incertezas sobre a transição para um modelo econômico menos dependente de investimento pesado.
A desigualdade no país é fruto de várias divisões criadas ao longo desse último ciclo de desenvolvimento: mais notadamente entre diferentes regiões do país e entre os moradores de áreas urbanas e rurais.
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1. O que os olhos não veem...
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1/17 (David Leventi/Anna Skladmann/Gabriele Galimberti & Paolo Woods)
São Paulo - A desigualdade
não para de subir há mais de 30 anos na maioria dos países ricos, de acordo com a Organização para Cooperaçao e Desenvolvimento Econômico (
OCDE). "Nos países membros, na maioria industrializados, os 10% mais ricos da população ganham 9,6 vezes a renda dos 10% mais pobres. Essa relação era de 7:1 nos anos 80, subiu para 8:1 nos anos 90 e para 9:1 nos anos 2000", diz um relatório da organização. O tema motivou o Occupy Wall Street, foi
capa da revista EXAME e deu à luz ao fenômeno Thomas Piketty, cujo "Capital no Século XXI" se tornou um best-seller improvável. Myles Little, um editor de fotografia em Nova York, decidiu contribuir com o que conhece. Reuniu trabalhos de fotógrafos consagrados ao redor do mundo que conversassem de alguma forma com o tema e montou uma exposição para instigar o debate. 7 países já tem edições confirmadas (Estados Unidos, China, Emirados Árabes Unidos, Nigéria, Guatemala, Bósnia e País de Gales) e um livro pode surgir de
financiamento coletivo no Kickstarter. Joseph Stiglitz, vencedor do prêmio Nobel em Economia, também prepara um texto exclusivo. Veja a seguir 15 fotos selecionadas por EXAME.com junto com dados dos últimos relatórios e estudos sobre desigualdade no mundo. Também foram incluídos trechos de um ensaio do premiado romancista inglês Geoff Dyer para a exposição, assim como de Little:
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2/17 (Anna Skladmann)
O aumento da desigualdade não é um problema só dos mais pobres,
mas da economia como um todo. A OCDE estima que o aumento da desigualdade entre 1985 e 2005 retirou 4,7 pontos percentuais do crescimento acumulado entre 1990 e 2010 nos seus membros (na sua maioria países industrializados). Na América Latina, a desigualdade está em queda graças a uma maior convergência de educação e salários. Mas em alguns emergentes como Rússia e China, ela também está em alta desde os anos 2000.
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3/17 (Zed Nelson)
Os hábitos de consumo dos super-ricos
podem estar alimentando a concentração de renda de forma estrutural em um efeito ‘bola de neve’, de acordo com um estudo de Nathan Wilmers, da Universidade de Harvard. Ele analisou se os setores que dependem muito destes nichos de super-ricos reproduzem essa desigualdade na sua própria estrutura através de fatores como aluguéis e disputa pelos trabalhadores mais qualificados com os nichos menos favorecidos. A resposta é sim: “a dependência de uma indústria em consumidores de elite está associada com um aumento da desigualdade de salários dentro dessa indústria, mesmo desconsiderando variações relacionadas a ocupação, educação e outras particularidades”.
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4/17 (Nina Berman/NOOR)
Geoff Dyer, romancista inglês, no texto da exposição: “Elegância e degradação se revelam vizinhas. Ao admirar as agradáveis evidências de riqueza, ficamos complícitos em - ou, no mínimo, reconhecemos a extensão pelo qual somos beneficiados por - um sistema econômico que deploramos rotineiramente. Para usar só um exemplo, aqueles gráficos que à primeira vista parecem estar gravando a saúde de um paciente - suposição encorajada pela foto adjacente de uma rinoplastia - na verdade estão mostrando fluxos financeiros e números."
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5/17 (Paolo Woods & Gabriele Galimberti/INSTITUTE)
Geoff Dyer, romancista inglês, no texto da exposição: “Aqueles padrões abstratos e fluxos são transações cujas consequências serão manifestas em algum lugar de forma tão tangível quanto uma cirurgia. Seus efeitos estão ao redor de nós, como a água no qual um homem flutua serenamente em Singapura - mas como as quebras de 1929 e 2008 provaram, a borda pode não ser tão infinitamente segura quanto parece"
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6/17 (Jörg Brüggemann/OSTKREUZ)
Com base em números do Credit Suisse e da revista Forbes,
a ONG britânica Oxfam mostrou que em 2010, as 80 pessoas mais ricas do planeta tinham uma riqueza conjunta de US$ 1,3 trilhão. Em 2014, esse número já era de US$ 1,9 trilhão - um aumento de 600 bilhões de dólares (ou 50%) em apenas 4 anos. Os 80 maiores bilionários tem hoje o equivalente aos 3,5 bilhões de habitantes mais pobres do planeta. Em 2010, era necessário juntar as 388 pessoas mais ricas do mundo para atingir uma proporção equivalente.
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7/17 (Juliana Sohn)
A expectativa de vida dos mais ricos também está crescendo muito mais rápido que a dos mais pobres,
de acordo com um estudo dos economistas Barry P. Bosworth e Kathleen Burke para o Brooking Institution publicado no ano passado. Para os homens, os ganhos são de cerca de 2 anos para indivíduos no primeiro decil (os 10% mais pobres) e 6 anos para aqueles no topo da distribuição (os 10% mais ricos).
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8/17 (Nina Berman/NOOR)
Apesar da desigualdade, a pobreza está em queda e a classe média está em alta no plano global, de acordo com uma análise recente do Pew Research Center com 111 países. A classe média mundial foi de 7% para 13% da população entre 2001 e 2011, enquanto a porcentagem de pobres foi foi de 29% para 15%, a de renda baixa foi de 50% para 56%, a de renda média-alta foi de 7% para 9% e a de ricos foi de 6% para 7%.
Faça o cálculo e veja onde você está nessa pirâmide.
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9/17 (David Leventi)
Em alguns lugares do mundo, você não precisa
andar muito para encontrar um milionário. Em Mônaco, por exemplo, praticamente um em cada três habitantes tem patrimônio acima de US$ 1 milhão, e isso sem contar o valor da sua moradia principal. É as cidade do mundo com maior concentração de milionários, seguida por Zurique e Genebra, ambas na Suíça.
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10/17 (Greg Girard)
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11/17 (Floto+Warner)
Myles Little, fotógrafo curador da exposição: “Fui inspirado por "Family of Man", uma famosa exibição fotográfica de 1955 no Museu de Arte Moderna de Nova York com curadoria de Edward Steichen que mostrava pessoas trabalhando, jogando, rezando, etc. Ela defendia, em suas próprias palavras, "a essencial unidade da humanidade" - que não importa da onde você é, rico ou pobre, estamos no mesmo barco. Admiro muito a amplitude e a estética daquela exibição, mas a tese de Steichen não se sustenta mais. A elite está ficando cada vez mais rica, muito mais rápido do que os outros; é difícil falar de um mundo agora, mas sim de dois. Então tentei responder achando fotos nas mesmas categorias de"Family of Man" mas em um mundo de privilégios."
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12/17 (Andrew Moore/Yancey Richardson Gallery)
Myles Little, fotógrafo curador da exposição: “Minha motivação foi iniciar uma conversa sobre justiça. É justo que nos últimos anos o 1% dos EUA tenha visto sua renda crescer mais de 30% enquanto a dos 99% cresceu menos de 1%? É justo que os 6 herdeiros da fortuna do Walmart tenham mais riqueza do que os 40% mais pobres do país? Acredito em igualdade de oportunidade, não igualdade de resultados. Mas quem pode realmente alegar que a igualdade de oportunidade existe?"
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13/17 (Daniel Shea)
1 em cada 9 americanos fará parte do 1% mais rico em algum momento da vida,
de acordo com um estudo publicado pela PLOS ONE. "Muitos experimentam mobilidade intermitente ou de curto prazo no topo da pirâmide, contra uma parcela menor que persiste neste degrau ao longo de vários anos consecutivos", dizem Thomas A. Hirschi, da Universidade de Cornell, e Mark R. Rank, da Universidade de Washington em St. Louis. Outras conclusões do estudo não são nada otimistas: 54% da população vai experimentar pelo menos um ano na pobreza ou próximo dela.
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14/17 (David Chancellor)
No Catar, o PIB per capita está acima dos 100 mil dólares -
o maior do mundo, apesar de um histórico lamentável de direitos humanos e das mortes que se acumulam nas construções para a Copa do Mundo de 2022. Já a Tanzânia
está no 159º lugar mundial, com renda per capita de US$ 1.670 (ajustada por paridade de poder de compra), na lista de 184 países da Global Finance Magazine.
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15/17 (David Chancellor)
Rica em recursos naturais, a Tanzânia cresceu bastante na última década e
e está na lista do Banco Mundial das economias que devem se destacar nos próximos anos. No entanto, isso não tem se refletido em melhoras na vida da maioria: "os pobres desfrutaram pouco dos ganhos do crescimento na Tanzânia e suas perspectivas de escapar da pobreza parecem prejudicadas pela alta desigualdade", diz o último relatório do Banco Mundial sobre o país.
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16/17 (Christopher Anderson/Magnum Photos)
Um crescimento rápido e desproporcional do setor financeiro é
má notícia para o crescimento econômico, de acordo com um estudo publicado no final do ano passado pelo Banco de Pagamentos Internacionais, a organização financeira mais antiga do mundo. A tese dos autores Stephen G. Cecchetti e Enisse Kharroubi é que o setor financeiro privilegia de forma desproporcional projetos com produtividade mais baixa, mas garantias elevadas.
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17/17 (Senet/Wikimedia Commons)