Investir no Tesouro Direto é imoral?
Você já assinou minha newsletter? Fique por dentro de meus artigos, vídeos e outras publicações. Cadastre-se clicando aqui. Na semana passada, abri uma exceção aqui no blog para falar de assuntos mais relacionados ao cenário político/institucional (mas me esforcei para não perder o foco das finanças pessoais), no artigo “Chega de Luxo”. Vou fazer isso mais uma vez, para aproveitar o momento um tanto turbulento que estamos vivendo, mas novamente vou tentar […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2015 às 15h36.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 07h54.
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Na semana passada, abri uma exceção aqui no blog para falar de assuntos mais relacionados ao cenário político/institucional (mas me esforcei para não perder o foco das finanças pessoais), no artigo “ Chega de Luxo ”.
Vou fazer isso mais uma vez, para aproveitar o momento um tanto turbulento que estamos vivendo, mas novamente vou tentar “amarrar” as questões políticas e institucionais ao contexto das finanças pessoais e dos investimentos.
Na semana passada, tive uma discussão muito interessante com um amigo que eu não via há um bom tempo, o Adeodato “Dato” Netto, que, recentemente, fundou a Eleven Financial ( www.elevenfinancial.com ), uma empresa de research focada em renda variável, voltada para empresas de menor porte e que se beneficia da experiência dele com empresas de capital fechado. A propósito, a Eleven Financial oferece uma interessantíssima newsletter com análises financeiras e comentários econômicos (tem uma versão gratuita! Confira clicando aqui ), que eu mais do que recomendo.
Uma coisa curiosa sobre a nossa amizade é que fomos aproximados, há alguns anos, exatamente pelas nossas diferenças. O Dato é um ferrenho defensor do investimento em empresas de capital fechado ( private equity, venture capital etc), enquanto eu tenho “os dois pés atrás” com esse tipo de investimento (algo que poderá mudar após uma revisão dos meus conceitos em um futuro próximo…). Eu sou “bolsa de nascença” e prefiro empresas de capital aberto, especialmente para aqueles investidores menos abastados e sofisticados. Mas, apesar dessas divergências, nos tornamos amigos e temos um grande respeito mútuo. Chegamos até mesmo a trabalhar em alguns projetos em conjunto (e não nos matamos!).
Pois bem, nesse nosso reencontro recente, encontramos mais uma diferença de visão. Eu sou (nenhuma novidade…) um entusiasta do Tesouro Direto. Já o Dato…. adivinha só, não é um grande fã.
O argumento dele é mais moral do que técnico, mas ainda assim é interessante, e tenho certeza que alguns leitores vão concordar. Ao emprestar para o governo, via Tesouro Direto ou outros meios (como os fundos que investem em títulos públicos), estamos criando um incentivo pernicioso para que o governo siga se endividando de forma irresponsável.
Isso não invalida a tese de que o Tesouro Direto é um excelente investimento (aliás, enquanto escrevo este texto, vejo taxas de quase 8% ao ano acima do IPCA em alguns títulos – isso me faz salivar!). O próprio Dato admitiu que é difícil competir com a atratividade dessas taxas de juros, mas, como cidadãos, fica complicado a gente reclamar da irresponsabilidade fiscal do governo ao mesmo tempo em que emprestamos dinheiro para ele. É mais ou menos como emprestar dinheiro para uma pessoa viciada, que você tem certeza que vai usar o dinheiro no cassino ou para encher a cara…
O cerne do nosso debate foi: Investir no Tesouro Direto é algo imoral? Bem, considerando a atual situação do governo, o caos fiscal e os escândalos de corrupção, talvez a coisa mais “moral” a se fazer fosse, de fato, tentar sufocar o governo, financeiramente, de todas as formas possíveis, não emprestando dinheiro e procurando minimizar o pagamento de impostos (pelas vias legais – ressalto que não estou, de forma alguma, pregando desobediência tributária, que pode até ser algo moral, mas é ilegal e pode ter consequências um tanto “desagradáveis”…).
Mas, enfim, como a gente sai deste dilema? O universo das finanças pessoais é um pouco “amoral” nesse sentido. As finanças pessoais e, em particular, a educação financeira, até têm uma preocupação com a sociedade e com a coletividade; porém, o foco é no indivíduo (ou em grupos próximos, como famílias). O elemento “pessoal” é muito forte nas finanças pessoais (está no nome!).
Vendo pelo ponto de vista estritamente técnico e financeiro, é difícil achar algo melhor é mais seguro que o Tesouro Direto neste momento. O senso comum das finanças pessoais prega algo como “tome as decisões que são mais benéficas para você e que maximizem o valor dos seus recursos”. Leia-se: “invista no Tesouro Direto”, ainda que o dinheiro não vá ser usado da forma que você gostaria…
Já pelo lado moral, a resposta nem sempre é tão clara. Alguns podem considerar que a coisa correta a fazer é parar de alimentar o governo. Outros podem argumentar que um governo ruim é melhor que governo nenhum, então é melhor ajudar a financiar a dívida pública ainda assim. Outros, ainda, simplesmente “gostam” do governo (eu hein!?) e emprestam de bom grado. E um outro grupo de pessoas simplesmente prefere não pensar no assunto e vai atrás das melhores condições de investimento, sem dar muita bola para as questões morais.
Bem, do meu lado, acho que estou ficando velho (e também um pouco cínico) e isso me deixa um tanto descrente na capacidade (e intenção) das pessoas em influenciar as atitudes do governo (pelo menos pela via financeira). Vou continuar investindo naquilo que acho melhor (e incentivando as pessoas a fazerem o mesmo) e torcer para que nosso povo, um dia, aprenda a tomar melhores decisões: sejam de investimento, sejam de consumo ou sejam políticas…
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Na semana passada, abri uma exceção aqui no blog para falar de assuntos mais relacionados ao cenário político/institucional (mas me esforcei para não perder o foco das finanças pessoais), no artigo “ Chega de Luxo ”.
Vou fazer isso mais uma vez, para aproveitar o momento um tanto turbulento que estamos vivendo, mas novamente vou tentar “amarrar” as questões políticas e institucionais ao contexto das finanças pessoais e dos investimentos.
Na semana passada, tive uma discussão muito interessante com um amigo que eu não via há um bom tempo, o Adeodato “Dato” Netto, que, recentemente, fundou a Eleven Financial ( www.elevenfinancial.com ), uma empresa de research focada em renda variável, voltada para empresas de menor porte e que se beneficia da experiência dele com empresas de capital fechado. A propósito, a Eleven Financial oferece uma interessantíssima newsletter com análises financeiras e comentários econômicos (tem uma versão gratuita! Confira clicando aqui ), que eu mais do que recomendo.
Uma coisa curiosa sobre a nossa amizade é que fomos aproximados, há alguns anos, exatamente pelas nossas diferenças. O Dato é um ferrenho defensor do investimento em empresas de capital fechado ( private equity, venture capital etc), enquanto eu tenho “os dois pés atrás” com esse tipo de investimento (algo que poderá mudar após uma revisão dos meus conceitos em um futuro próximo…). Eu sou “bolsa de nascença” e prefiro empresas de capital aberto, especialmente para aqueles investidores menos abastados e sofisticados. Mas, apesar dessas divergências, nos tornamos amigos e temos um grande respeito mútuo. Chegamos até mesmo a trabalhar em alguns projetos em conjunto (e não nos matamos!).
Pois bem, nesse nosso reencontro recente, encontramos mais uma diferença de visão. Eu sou (nenhuma novidade…) um entusiasta do Tesouro Direto. Já o Dato…. adivinha só, não é um grande fã.
O argumento dele é mais moral do que técnico, mas ainda assim é interessante, e tenho certeza que alguns leitores vão concordar. Ao emprestar para o governo, via Tesouro Direto ou outros meios (como os fundos que investem em títulos públicos), estamos criando um incentivo pernicioso para que o governo siga se endividando de forma irresponsável.
Isso não invalida a tese de que o Tesouro Direto é um excelente investimento (aliás, enquanto escrevo este texto, vejo taxas de quase 8% ao ano acima do IPCA em alguns títulos – isso me faz salivar!). O próprio Dato admitiu que é difícil competir com a atratividade dessas taxas de juros, mas, como cidadãos, fica complicado a gente reclamar da irresponsabilidade fiscal do governo ao mesmo tempo em que emprestamos dinheiro para ele. É mais ou menos como emprestar dinheiro para uma pessoa viciada, que você tem certeza que vai usar o dinheiro no cassino ou para encher a cara…
O cerne do nosso debate foi: Investir no Tesouro Direto é algo imoral? Bem, considerando a atual situação do governo, o caos fiscal e os escândalos de corrupção, talvez a coisa mais “moral” a se fazer fosse, de fato, tentar sufocar o governo, financeiramente, de todas as formas possíveis, não emprestando dinheiro e procurando minimizar o pagamento de impostos (pelas vias legais – ressalto que não estou, de forma alguma, pregando desobediência tributária, que pode até ser algo moral, mas é ilegal e pode ter consequências um tanto “desagradáveis”…).
Mas, enfim, como a gente sai deste dilema? O universo das finanças pessoais é um pouco “amoral” nesse sentido. As finanças pessoais e, em particular, a educação financeira, até têm uma preocupação com a sociedade e com a coletividade; porém, o foco é no indivíduo (ou em grupos próximos, como famílias). O elemento “pessoal” é muito forte nas finanças pessoais (está no nome!).
Vendo pelo ponto de vista estritamente técnico e financeiro, é difícil achar algo melhor é mais seguro que o Tesouro Direto neste momento. O senso comum das finanças pessoais prega algo como “tome as decisões que são mais benéficas para você e que maximizem o valor dos seus recursos”. Leia-se: “invista no Tesouro Direto”, ainda que o dinheiro não vá ser usado da forma que você gostaria…
Já pelo lado moral, a resposta nem sempre é tão clara. Alguns podem considerar que a coisa correta a fazer é parar de alimentar o governo. Outros podem argumentar que um governo ruim é melhor que governo nenhum, então é melhor ajudar a financiar a dívida pública ainda assim. Outros, ainda, simplesmente “gostam” do governo (eu hein!?) e emprestam de bom grado. E um outro grupo de pessoas simplesmente prefere não pensar no assunto e vai atrás das melhores condições de investimento, sem dar muita bola para as questões morais.
Bem, do meu lado, acho que estou ficando velho (e também um pouco cínico) e isso me deixa um tanto descrente na capacidade (e intenção) das pessoas em influenciar as atitudes do governo (pelo menos pela via financeira). Vou continuar investindo naquilo que acho melhor (e incentivando as pessoas a fazerem o mesmo) e torcer para que nosso povo, um dia, aprenda a tomar melhores decisões: sejam de investimento, sejam de consumo ou sejam políticas…
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