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Processos seletivos devem abrir caminhos, não impor barreiras

O talento profissional não pode ser julgado por qualquer característica irrelevante para a função

39% das organizações não possuem políticas claras para promover a igualdade de gênero (EXAME.com/Divulgação)

39% das organizações não possuem políticas claras para promover a igualdade de gênero (EXAME.com/Divulgação)

Publicado em 28 de março de 2025 às 07h57.

Última atualização em 28 de março de 2025 às 10h32.

Mesmo com os avanços rumo a um ambiente corporativo mais inclusivo, barreiras invisíveis ainda dificultam o acesso equitativo ao mercado de trabalho. Vieses inconscientes e estruturas desatualizadas afetam especialmente as mulheres, limitando oportunidades e atrasando a evolução da diversidade nas empresas. O cenário, no entanto, pode - e deve - mudar.

Segundo dados da última edição do Índice de Confiança Robert Half, 30% dos recrutadores apontam que estereótipos de gênero ainda influenciam decisões de contratação e promoção. Apesar do desafio, há um movimento positivo: 45% das companhias já investem em treinamentos sobre viés inconsciente.

Com exceção às vagas afirmativas, essenciais para acelerar o processo de redução de desigualdades, o conceito de contratação baseada exclusivamente em competências técnicas e comportamentais deve ser o pilar central dos processos seletivos. O talento profissional não pode ser julgado por idade, gênero, etnia ou qualquer outra característica irrelevante para a função.

Ainda assim, os números do ICRH mostram que há um longo caminho a percorrer: 39% das organizações não possuem políticas claras para promover a igualdade de gênero, e apenas 16% estabelecem metas ou cotas para aumentar a representatividade feminina em cargos de liderança. Isso indica que, sem um compromisso real e estruturado, o progresso caminhará a passos lentos.

Por outro lado, a partir do momento em que a diversidade passa a ser tratada como uma estratégia de negócio, o desafio das empresas não é somente “contratar mais mulheres”, mas garantir que o recrutamento seja desenhado para identificar e valorizar talentos de forma equitativa.

A seguir, destaco algumas medidas que podem fazer a diferença:

  • Treinamento contínuo para recrutadores: capacitar as equipes para reconhecer e mitigar vieses inconscientes é fundamental para que decisões sejam tomadas de maneira justa;
  • Critérios bem definidos: estruturar entrevistas e avaliações com base em competências reduz subjetividades e evita que fatores irrelevantes influenciem o processo;
  • Metas e indicadores de diversidade: o que não é medido, não pode ser melhorado. Estabeleça metas claras para representatividade e monitore os avanços ao longo do tempo.

A equidade de gênero não deve ser uma preocupação apenas no recrutamento. Criar um ambiente que favoreça o crescimento e a retenção de talentos femininos é igualmente importante. Políticas de flexibilidade, mentorias, programas de liderança e ações estruturadas de inclusão fazem parte dessa jornada.

O mercado de trabalho está em constante transformação, e as companhias que não se adaptarem inevitavelmente ficarão para trás, seja no médio ou no longo prazo. Para atrair e reter melhores talentos no futuro, é preciso construir processos seletivos que abram caminhos para a diversidade.

Aqui, neste Blog, você encontra outros artigos sobre carreira, gestão e mercado de trabalho. Também é possível ter mais informações sobre os temas na Central do Conhecimento do site da Robert Half. Se você gosta de podcasts, não deixe de acompanhar o Robert Half Talks.

*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar

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