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Colunista
Publicado em 12 de julho de 2024 às 08h29.
De tempos em tempos, somos impactados com notícias sobre turistas que acabam se acidentando enquanto utilizam o celular em pontos turísticos, como montanhas ou alto-mar. São situações extremas, é claro, mas há outra prática muito comum e pouco percebida como perigosa: profissionais que passam as férias conectados com o trabalho. À beira da piscina ou relaxando em uma rede na varanda de uma casa de campo, conferem seus emails.
Sempre plugados no trabalho, vivem sob o Fear of Switching Off (FOSO), ou “medo de se desconectar”. São colaboradores que, na merecida pausa, mantêm-se disponíveis para conversar à distância e, por vezes, até executam tarefas e participam de reuniões.
O FOSO predomina entre os nativos digitais. Acostumados a estarem conectados desde cedo, alguns já a partir da infância, eles apresentam muita dificuldade para ficar off-line. A crença principal é que se desconectar por vários dias do escritório irá atrapalhar o andamento das demandas e elevar a pressão na volta.
Esse comportamento pode ser associado a uma das heranças da pandemia, quando os limites entre vida pessoal e profissional praticamente sumiram. Muitas pessoas faziam refeições trabalhando, esticavam o horário e levavam pendências para o final de semana. Os impactos desse excesso de trabalho são bem conhecidos: burnout, ansiedade, insônia, depressão, entre outros.
Em uma sociedade hiperconectada, pode parecer necessário e até inofensivo continuar ligado ao trabalho durante as férias. No entanto, as consequências a longo prazo tendem a ser desastrosas. Garantir um período de descanso total é importante para recarregar as baterias e assegurar que a saúde mental e física continue em ordem para entregar bons resultados.
Quem não para nunca de trabalhar acaba se tornando menos produtivo. O estresse tende a se instalar e levar a doenças, falta de disposição, mau humor, entre outros prejuízos físicos e psicológicos. O resultado mais drástico pode ser uma parada longa e obrigatória, por determinação médica.
É crucial que a empresa atue na solução disso, tratando as férias conectadas como um problema, e não como uma conduta tolerável ou desejável. Uma cultura que respeite e valorize o descanso, a saúde e a qualidade de vida dos funcionários incentiva atitudes nesse sentido.
Os gestores devem dar o bom exemplo. Se eles se desconectam nas férias, é provável que seus times sigam o mesmo caminho. É aconselhável também definir as expectativas em relação ao período e compartilhar essa informação com os funcionários. Se está claro que a regra é ficar off-line, todos se sentirão seguros para se desconectar.
Outra medida indispensável é organizar a delegação de responsabilidades durante as ausências. Isso ajuda tanto a evitar a sobrecarga e falhas do time quanto a estimular que o descanso absoluto seja visto como algo positivo, já que os colegas irão dar cobertura.
Uma das muitas vantagens de disseminar a cultura de férias saudáveis é a atração e retenção de talentos. Companhias que ajudam a cuidar do bem-estar dos funcionários tornam-se mais interessantes aos olhos de quem já trabalha ou pretende trabalhar nelas.
Férias bem aproveitadas contribuem para a motivação e criatividade. Para que o retorno às atividades aconteça da melhor forma, é necessário que os gestores pensem em:
Se até as máquinas requerem pausas para manutenção, o que dirá um ser humano. Empresas que levam a sério o descanso e as fronteiras entre as esferas pessoal e profissional são grandes parceiras dos profissionais. Todos só têm a ganhar com isso.
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*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar