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Gestão descentralizada acelera decisões e resultados

Apesar disso, a rigidez e o controle da hierarquia tradicional ainda são comuns e impedem boas ideias e iniciativas por parte dos colaboradores

 (Shutterstock/Shutterstock)
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Fernando Mantovani — Sua Carreira, Sua Gestão

Publicado em 10 de junho de 2022 às, 08h30.

*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar

O modo como trabalhamos está em constante transformação. Trabalhar a vida toda em uma mesma empresa, das 9h às 17h, seguindo regras e ordens super-rígidas, já foi muito comum. Décadas atrás, a obediência, a pontualidade e a longa permanência em um emprego eram qualidades importantes. Pensar e agir diferente, em contrapartida, soava como uma ameaça ao controle praticado pelos gestores. Um funcionário seria considerado exemplar se fosse capaz de repetir suas tarefas dia após dia, sem questionamentos.

Hoje, inovação, flexibilidade, raciocínio crítico, ousadia e proatividade são atributos esperados dos profissionais. Mas, por incrível que pareça, essas qualidades ainda não são bem-vindas em todas as empresas. Isso porque muitas ainda funcionam com modelos de gestão do século 20, buscando restringir, em vez de ampliar, a participação dos colaboradores nos rumos da corporação. Nem mesmo um dos maiores legados trazidos pela pandemia, que foi o trabalho remoto, modificou esse cenário, como seria de se esperar. Comprovei esse fato com a pesquisa “Realidade e Percepções da Alta Liderança frente à Crise”, que realizamos com 230 executivos, em 2020. 

De acordo com 32% dos entrevistados, as decisões naquele ano foram tomadas de forma mais democrática, com a inclusão de mais lideranças que no passado. No entanto, para 37% dos executivos ouvidos, a percepção foi de que o processo decisório se tornou mais centralizado e com menor participação de outros níveis hierárquicos, que não o dos situados no topo da pirâmide. 

Seja pela natureza de suas operações, pois algumas necessitam de processos altamente metódicos, ou por receio de que um clima mais aberto traga problemas como desinteresse ou desorganização, as empresas adotam diferentes estilos de gestão. De modo geral, é possível classificá-las em duas categorias: as que operam com uma gestão centralizada e, portanto, uma estrutura vertical; e as que preferem uma gestão descentralizada, apoiada em uma estrutura horizontal. As distinções entre um e outro tipo de gestão são bem definidas

Na gestão centralizada, as decisões partem de cima para baixo, e as normas e orientações pautam com rigor as relações, os processos e as rotinas da corporação. Na gestão descentralizada, os colaboradores são preparados para participar das decisões e assumir responsabilidades, e têm as metas e a política da empresa como balizas para sua conduta.

Além de marcante, preciso ressaltar que essa diferença não é somente técnica ou administrativa. Tem implicações profundas e concretas nas organizações, dada a magnitude do ato de decidir. As decisões de uma corporação afetam desde detalhes do dia a dia, como o lugar do café no corredor, até os valores, as crenças, a reputação, os planos, as metas e os resultados dos negócios. 

Descentralizar amplia as chances de sucesso de todos

Se o poder de decisão é algo tão importante, o que acontece quando a imensa maioria dos colaboradores fica à margem desse processo, e poucos líderes decidem quase tudo sozinhos? 

Em primeiro lugar, perde-se a riqueza da diversidade de ideias e de opiniões, base imprescindível para construir boas soluções. Em segundo, o nível de comprometimento tende a ser menor, já que, em vez de contribuir genuinamente com as atividades da empresa, os times recebem “pacotes” prontos. 

Em terceiro lugar, tomar iniciativa passa a ser visto como uma atitude de risco, que pode se chocar com a hierarquia. Por fim, a soma desses fatores diminui ou até elimina qualidades como autonomia, criatividade e responsabilidade, que dependem de um ambiente participativo e livre.

A gestão descentralizada, por sua vez, oferece inúmeras vantagens. Como mais colaboradores se envolvem com projetos e desafios, as equipes ficam mais motivadas e engajadas, e os processos tornam-se mais ágeis e menos burocráticos, a atração e a retenção de talentos melhora, entre outros pontos positivos. É fácil concluir que esse contexto é muito mais favorável para conquistar o desempenho e os resultados esperados, bem como a satisfação dos funcionários.

Descentralizar a gestão é possível, desejável e requer uma série de medidas destinadas a elevar a participação dos colaboradores. Vou citar as principais:

  • Mantenha a comunicação sempre objetiva e, dentro do possível, transparente com a equipe.
  • Capacite os líderes a tomar decisões com segurança e agilidade.
  • Conscientize os colaboradores de que todos são responsáveis pelo crescimento da empresa.
  • Invista em tecnologias que facilitem a adesão dos funcionários aos processos internos.

Realizar essa transformação não é fácil, porém, significa ter mais colaboradores vestindo a camisa da empresa, o que aumenta bastante as chances de vitória de todos.

Aqui, neste Blog, você encontra outros artigos sobre carreira, gestão e mercado de trabalho. Também é possível ter mais informações sobre os temas na Central do Conhecimento do site da Robert Half. Se você gosta de podcasts, não deixe de acompanhar o Robert Half Talks.