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Flexibilidade é a palavra mágica

Implementação de modelos flexíveis de trabalho já vale tanto, ou mais, do que bons salários e benefícios

 (shutterstock/Shutterstock)
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Fernando Mantovani — Sua Carreira, Sua Gestão

Publicado em 16 de setembro de 2022 às, 08h30.

Última atualização em 16 de setembro de 2022 às, 10h44.

Chega a ser curioso pensar no grau de relevância que a palavra “flexibilidade” apresentava até março de 2020. Passados dois anos, é possível dizer que o que mais tem estimulado profissionais qualificados na busca por um novo emprego é exatamente a flexibilidade do modelo de trabalho.

Traduzindo: trabalhadores com mais de 25 anos e ensino superior completo procuram organizações em que a cultura do home office faça parte do dia a dia corporativo, mesmo que de forma parcial. Teletrabalho apenas como alternativa em momentos de crise, como recurso durante uma reforma no escritório ou, ainda, como uma oferta especial em dias de jogo do Brasil na Copa do Mundo, por exemplo, não está mais no horizonte de muita gente.

Segundo uma enquete realizada pela Robert Half em seu perfil no LinkedIn, o modelo de trabalho está no topo dos motivos considerados mais importantes na busca por um novo emprego, de acordo com 43% dos profissionais. Sob a ótica inversa, isso significa que quase metade dos participantes considera a falta de flexibilidade no modo de trabalhar como um grande impeditivo para começar ou permanecer em um emprego. Em seguida, o salário aparece como principal motivação entre 32% dos que contribuíram com a sondagem. Já a reputação da empresa é o mais importante para 13%. E benefícios, quem diria, é o fator mais relevante apenas para 12% dos entrevistados.

A experiência da pandemia deixou claro não apenas que é possível produzir bem a distância, mas também que essa possibilidade impacta diretamente a qualidade de vida. Pensando somente nas questões de mobilidade, ao evitar deslocamentos pela cidade, poupa-se dinheiro, tempo e energia. E ganha-se mais possibilidade de cuidar da saúde, da família, do lazer, entre outras áreas importantes para o nosso bem-estar físico e emocional. Costumo dizer que esse legado da Covid-19 é um marco no mercado, pois divide a história entre como trabalhávamos antes do coronavírus e como descobrimos ser possível trabalhar depois dele. Junto a esse cenário de controle da pandemia, venho acompanhando algumas empresas indicarem a intenção de retomada 100% presencial, o que coloca um desafio para trabalhadores e empresas. Há organizações que precisam, obrigatoriamente, funcionar com todos os colaboradores reunidos no mesmo espaço e horário. É o caso de alguns tipos de fábricas ou de serviços essenciais, como hospitais.

Para além das exceções, em tese, muitas atividades podem perfeitamente acontecer com equipes remotas e distribuídas. No entanto, algumas companhias afirmam não ter a intenção de abrir mão do trabalho integralmente presencial e outras, de fato, já tomaram e implantaram essa decisão. Aqui, é importante fazer um alerta, que mereceria estar em negrito e letras garrafais. Uma pesquisa da Robert Half ouviu 1.161 profissionais ao redor de todo o País e detectou que 39% deles buscariam um novo emprego se a empresa onde trabalham decidisse não oferecer uma opção que conte, ao menos, com alguns dias de home office.

Para 77% dos empregados, o modelo híbrido é o ideal, pois possibilita um bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Entre 17%, o trabalho deveria ser apenas remoto e somente 6% acreditam que o modelo 100% presencial seria o melhor. Adoção de trabalho híbrido requer estratégia Fico particularmente satisfeito em saber que a imensa maioria dos profissionais prefere a modalidade híbrida. Esse “caminho do meio” permite que as trocas profissionais sigam ativas e cumpram seu papel de incrementar o crescimento na carreira e o da empresa. Ao mesmo tempo, ele garante, desde que levado de forma responsável por ambas as partes, que a vida particular receba a devida atenção.

Como qualquer inovação, porém, implantar permanentemente o trabalho híbrido e colher os frutos dessa opção é um processo, não acontece do dia para a noite. Para dar certo, é importante que a empresa observe alguns aspectos:

- valorização da escolha – o primeiro passo é entender e apreciar as vantagens dessa modalidade, sendo a maior delas a atração e retenção de talentos. Se esse benefício tão estratégico não estiver claro para todos, especialmente entre as lideranças, a mudança perde força e pode não sair do papel;  - abertura para o diálogo – estar disposto a conversar com os colaboradores sobre a motivação, as expectativas e os objetivos dessa modalidade de trabalho também é fundamental. É comum haver questionamentos, por exemplo, de por que não adotar o formato 100% remoto;

- capacitação dos profissionais – as lideranças precisam ser preparadas para manter os times motivados e entrosados apesar da distância. E as equipes devem ser treinadas para novos desafios, como gerir ainda melhor o próprio tempo e aprender novas tecnologias. Apesar de trabalhosa, a estruturação do trabalho híbrido é um investimento no engajamento dos colaboradores, à medida que atende o anseio de todos se cuidarem e viverem melhor. Por outro lado, ignorar as demandas dos novos tempos é uma aposta de alto risco, que envolve calcular os prós e contras dessa decisão.

Aqui, neste Blog, você encontra outros artigos sobre carreira, gestão e mercado de trabalho. Também é possível ter mais informações sobre os temas na Central do Conhecimento do site da Robert Half. Se você gosta de podcasts, não deixe de acompanhar o Robert Half Talks.

*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar