Como uma das melhores séries já vistas está indo por água abaixo
Na temporada 7, Game of Thrones parece ter escolhido desenrolar os fatos com rapidez, deixando de lado a complexidade da história e seus personagens
Publicado em 21 de agosto de 2017 às, 16h29.
Última atualização em 20 de maio de 2019 às, 10h30.
*Contém spoilers do último episódio da temporada 7.
A uma semana do episódio final da penúltima temporada de Game of Thrones, uma das séries mais populares da história da televisão, já é hora de fazer o inevitável balanço de tudo até aqui: estamos prestes a consolidarmos a verdadeira identidade de Jon Snow, um mistério que ronda os fãs desde a primeira temporada, observamos os desdobramentos da chegada do inverno, o fim de casas importantes, desfechos memoráveis.
O que Game of Thrones está conquistando não é brincadeira. É uma série que está fazendo história, que segue amada por um público fiel e está reunindo cada vez mais pessoas. A cada temporada, novos memes, teorias, polêmicas e recordes de audiência. Não à toa, milhões acompanham com atenção os rumos finais da trama em Westeros, rumos esses que começaram a ser traçados nesta 7ª temporada e que seguirão pela 8ª e última, cuja data de estreia ainda é ainda um mistério. Mais um truque para garantir a fidelidade dos fãs? Possivelmente.
Temo, no entanto, que a atual temporada esteja servindo muito mais para concluir a história do que para estofo narrativo. Isso não seria necessariamente um problema não fosse o fato de que está afetando diretamente a qualidade do que estamos acompanhando há tantos anos. É uma história complexa e, como tal, dificilmente será encerrada com a classe que merece se o ritmo narrativo e os absurdos que o acompanham se mantiverem.
E esse é um defeito grave que essa temporada da série não está conseguindo resolver, talvez porque não exista uma solução. O blog vem batendo nessa tecla desde o primeiro episódio: ao seguir essa velocidade, os produtores estão sacrificando a profundidade dos personagens e da história com resoluções fáceis de conflitos intricados.
O penúltimo episódio, “Além da Muralha”, foi um exemplo claro de tudo isso (veja aqui a crítica completa). Na noite de ontem, as reviravoltas foram previsíveis e fomos presenteados com várias barras forçadas: quanto tempo um corvo demora para ir de Atalaialeste até Pedra do Dragão? Por que Sansa mandou Brienne para Porto Real se começa a perceber perigos em Winterfell? É sério que trouxeram Benjen Stark de volta apenas para matá-lo em seguida?
Enfim, poderíamos continuar listando os absurdos, mas a conclusão é a de que tudo isso aconteceu com o objetivo de fazer com que o rei da noite conseguisse um dragão zumbi (conseguiu) e de alimentar a fantasia dos fãs de um envolvimento amoroso entre Jon e Daenerys. A sensação de que estávamos diante de uma novela de qualidade duvidável foi inevitável.
O que vemos em Game of Thrones, hoje, nada mais é que um emaranhado de fatos importantes, verdadeiros game changers, trazidos à tona sem o cuidado que mereciam. Estamos testemunhando a complexidade dos personagens e suas interações uns com os outros serem destruídas. A profundidade da trama (sempre permeada por intrigas capazes de dar ainda mais frio na espinha que as mais surpreendentes batalhas e mortes) foi sacrificada.
É hora de admitir que o corte de episódios de 10 para sete simplesmente não funcionou. Não que essa redução seja uma novidade. Em meados de 2016, os produtores anunciaram que as próximas temporadas seriam mais curtas e que a ideia seria, portanto, focar toda a atenção (e o dinheiro) no encerramento da trama. A pergunta que fica é: qual o valor de um finale estrondoso se a amarração de todos esses eventos for frágil?