“Blade Runner 2049” impressiona, mas esbarra na obviedade
Filme que traz Ryan Gosling e Harrison Ford faz jus ao original, embora tenha defeitos. Veja aqui a crítica completa de "Blade Runner 2049"
Publicado em 5 de outubro de 2017 às, 06h00.
Última atualização em 5 de outubro de 2017 às, 12h20.
O que torna os humanos humanos? É uma pergunta que atormenta a humanidade há séculos. Como se isso não fosse suficiente, em tempos em que vemos previsões pouco amigáveis sobre o papel que os robôs terão no mundo, a questão só deve se tornar mais complexa: O que torna os humanos humanos e o que diferencia a inteligência natural da inteligência artificial?
É nessa esteira de questionamentos existenciais que se desenrola “Blade Runner 2049”, o mega blockbuster dirigido pelo canadense Dennis Villeneuve e estrelado pela dupla Ryan Gosling e Harrison Ford. É uma sequência ambiciosa de “Blade Runner” (Ridley Scott, 1982), um dos maiores clássicos do cinema. O filme estreia nesta quinta (05) no Brasil.
“Blade Runner 2049”, se desenrola três décadas depois da história original, na Los Angeles de 2049. O Blade Runner K (Ryan Gosling) é um policial que caça Replicantes antigos (como são chamados os seres robóticos), que anos antes se envolveram em uma guerra violenta contra os humanos. Durante essa sua jornada, K acaba se deparando com um segredo que pode mudar tudo.
Apenas um alerta: o blog optou por não entrar em detalhes sobre o enredo e os personagens já que um dos desafios que o filme propõe aos espectadores é justamente esse de desvendar, aos poucos, o lugar de cada um deles, assim como as suas missões na trama. Lentamente, somos conduzidos rumo a resolução dessa equação e vale a pena percorrer esse caminho sozinho.
Então, vamos ao que interessa: “Blade Runner 2049” é um filme lindo, uma obra de arte do ponto de vista estético, com cenas que contrastam cores quentes e frias que delimitam onde a “vida” nasce e onde a agonia começa, embaladas por uma trilha sonora intensa (cortesia de Hans Zimmer). Além disso, as questões filosóficas e as previsões fantasiosas, mas não menos macabras do futuro da humanidade fazem dessa produção um retrato distópico interessantíssimo.
Esses fatores combinados mostram que o filme de Villeneuve não deve nada à obra de 1982. E mais: se o admirávamos pelo trabalho em “A Chegada” (2016), vemos agora a sua consolidação como um dos diretores mais intrigantes da atualidade. Aplausos ainda para Roger Deakins pela fotografia impressionante e para o elenco que está afiadíssimo na tarefa complicada de mesclar o humano com o robótico.
O filme escorrega, no entanto, quando olhamos para a história mais detalhadamente. Embora traga desdobramentos importantes, esses não são exatamente difíceis de deduzir e isso empurra o filme para a obviedade. Aqueles com os olhos e ouvidos mais atentos, especialmente quem assistiu ao primeiro filme recentemente, não devem se surpreender.
Resultado? As 2h40 de duração podem se tornar longas demais. Vale lembrar que isso não é necessariamente um problema, já que o filme compensa pela beleza e pelo enredo em si, que não deixa de ser instigante.
Muitos críticos estão celebrando esse filme como uma obra prima da ficção científica. Outros dizem que é só mais uma sequência que não deveria ter sido produzida. Aqui, em Sobre Filmes e Séries, apesar dos seus defeitos, reconhecemos que “Blade Runner 2049” respeita e homenageia o original, que tampouco foi consenso quando lançado.
Fato é que em tempos em que a intolerância e a polarização política teimam em dividir populações mundo afora, um filme que nos faz refletir sobre o que, afinal, significa ser humano e repensar a ordem das coisas merece toda a atenção. Agora, se “Blade Runner 2049” irá se tornar tão importante e influente quanto seu predecessor, só o tempo dirá.