KIM JONG-UN, DITADOR DA COREIA DO NORTE: ditadores de "má qualidade" levam seus países à ruína (KCNA/Reuters)
Sérgio Praça
Publicado em 27 de novembro de 2019 às 18h23.
Última atualização em 28 de novembro de 2019 às 08h34.
A polêmica é recente por causa das palavras do ministro Paulo Guedes, mas a dúvida científica existe há décadas: afinal, qual regime de governo é melhor para o crescimento econômico – democracias ou ditaduras? O utilitarismo da pergunta é evidente. Há muitos motivos para defender o regime democrático para além do desempenho econômico. Mas saber se há – e quais são – os mecanismos políticos para fazer um país crescer é importantíssimo para quem escreve (ou vive sob) constituições.
O que se sabe de mais recente sobre o assunto pode ser resumido em duas frases. “Bons” ditadores podem conduzir uma nação ao crescimento e ditadores de “má qualidade” levam à ruína. E países muito pobres que são ditaduras o progresso econômico vem mais rapidamente do que em democracias com o mesmo nível de renda.
Desconsiderando (apenas para fins analíticos!) liberdades civis e direitos políticos, não é mau negócio para um país pobre ser comandado por um ditador, segundo os dados mostrados por Adam Przeworski e Zhaotian Luo no artigo “Why Are the Fastest Growing Countries Autocracies?”, publicado neste ano no Journal of Politics. Crescimento econômico mais rápido significa mais acesso a políticas públicas e menor desigualdade de renda. Outros acadêmicos – Giacomo De Luca, Anastasia Litina e Petros Sekeris – chegam a conclusões semelhantes no texto “Growth-friendly dictatorships”, publicado no Journal of Comparative Economics em 2015.
Novamente desconsiderando as consequências para a liberdade dos cidadãos, o grande problema das ditaduras é que o processo de seleção do ditador é, além de excludente, extremamente incerto. O economista Mancur Olson, um dos principais estudiosos do assunto, afirma que há ditadores com interesse em fazer o país crescer e se desenvolver (“stationary bandits”) e outros que querem extrair rapidamente, via corrupção, a riqueza do país (“roving bandits”; a clássica análise consta de “Dictatorship, Democracy, and Development”, publicado na American Political Science Review em 1993).
Qual tipo de ditador tende a aparecer em quais tipos de países? Tema para pesquisas futuras.
Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.