Discurso de Bolsonaro poderia ser de 1965
Nosso presidente exibe negacionismo climático e medo delirante do socialismo
Publicado em 24 de setembro de 2019 às, 16h50.
Última atualização em 24 de setembro de 2019 às, 17h48.
Jair Bolsonaro não é Wilson Witzel. É mais sensato. E isso diz muito sobre o governador carioca. Nosso presidente fez um discurso histórico hoje na ONU, diante de todo o planeta. Passou vergonha. Os principais recados foram sobre os perigos do socialismo e a soberania brasileira na Amazônia. Bolsonaro foi do delírio para a arrogância que refuta a ciência.
Para falar de socialismo, o presidente voltou 54 anos na história do Brasil. Em 1965, o medo de Cuba e a ameaça de um “golpe” socialista no Brasil eram relativamente razoáveis. João Goulart (PTB) tinha, de fato, a intenção de levar o país mais para a esquerda, mas não tinha apoio do centro para isso. Àquela altura, o centro era provavelmente mais conservador do que os PRs e PSDs de hoje. Bolsonaro disse que Cuba enviou dez mil médicos ao Brasil para implementar o socialismo. Também chamou os governos petistas de socialistas. Disse o seguinte: “Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto”.
Sim, o PT, MDB etc desviaram muito dinheiro, mas não centenas de bilhões de dólares. Nem compraram a mídia. Muito menos chegaram perto de tentar implementar o socialismo no Brasil.
Se o discurso de Witzel é, no mínimo, corresponsável pela morte de 16 crianças desde o início do ano no Rio de Janeiro, as falas de Bolsonaro sobre a Amazônia ajudam a matar de uma maneira mais difusa, pois atrapalham a ação concertada internacional para salvar o planeta do desastre ambiental completo.
O presidente disse, por exemplo, que “nossa Amazônia permanece praticamente intocada. Prova de que somos um dos países que mais protegem o meio ambiente. Nesta época do ano, o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas. Vale ressaltar que existem também queimadas praticadas por índios e populações locais, como parte de sua respectiva cultura e forma de sobrevivência”. Não há fact-checking que aguente. Só há um alento: governos passam.