O bom relacionamento é feito nos detalhes
Qual o tipo de relacionamento que você pretende ter com seu cliente? Seja qual for, os detalhes desta relação são importantes diferenciais.
Publicado em 17 de setembro de 2018 às, 10h41.
Há algum tempo venho usando a Disney como referência quando quero explicar que um bom relacionamento com clientes é construído principalmente na atenção aos detalhes. Se você já teve a oportunidade de ir a um dos parques da Disney, vai entender o que estou falando. E uma das coisas que mais me chama a atenção é a preocupação com os detalhes exatamente naquilo que a grande maioria dos visitantes dos parques sequer consegue notar, como a limpeza sem que você veja ninguém limpando, a conservação que faz tudo parecer sempre novo, o respeito aos ambientes temáticos (você nunca verá um cowboy andando na Tomorrowland) ou mesmo detalhes arquitetônicos que passam batido pelos olhares de muitos, mas que juntos compõem toda a experiência que a Disney quer que seus visitantes tenham, como diz o letreiro na estrada “Where dreams come true”. Claro, a Disney não é perfeita, principalmente porque tem um monte de seres humanos trabalhando lá.
Deixando o momento DPD (depressão pós-Disney) de lado e voltando à nossa realidade, esta semana fiz aniversário e assim, mesmo que por um rápido momento, voltei ao radar de algumas empresas. Como todos os anos, recebi vários e-mails de empresas me parabenizando e com ofertas especiais, seguindo o script padrão de qualquer régua de relacionamento básica.
Mas, desta vez, fiz questão de reparar melhor em cada um destes e-mails e também daqueles outros que recebi no mesmo dia e que não citaram o meu aniversário, mesmo sendo de empresas das quais sou cliente recorrente e que, com certeza, possuem a informação de minha data de aniversário.
Recebi e-mails muito bons de empresas com as quais realmente possuo conscientemente um relacionamento mais vivo, por assim dizer. Mas alguns deles me chamaram a atenção negativamente e resolvi imaginar (e arriscar!) possíveis cenários para classificar o tipo de relacionamento que talvez eu deva ter com estas empresas. Vamos a eles:
Cenário 1 – Tipo “conhecido” do Facebook
É aquela mensagem de parabéns que você recebe de pessoas que fazem parte da sua rede no Facebook, mas que você mal conhece ou tem um relacionamento próximo. Possivelmente, recebeu a mensagem porque o Facebook o lembrou e, fala a verdade, dar parabéns no Facebook é quase que um tipo de comportamento automático para algumas pessoas.
Neste cenário, coloco todos os e-mails que recebi de empresas que nunca falam comigo e, no caso de algumas, nem cliente sou, o que me remete à dúvida de onde ela conseguiu a informação sobre o meu aniversário. São empresas que possivelmente querem fazer o que chamei acima do script padrão de uma régua de relacionamento básica, mas que estão totalmente desprovidas de algum pensamento estratégico mais estruturado.
Cenário 2 – Tipo “contato” do Linkedin
É uma variante do cenário 1 com uma pequena diferença ligada à característica da rede. Sim, recebi muitos parabéns pelo LinkedIn e a maior parte foram de pessoas que, por enquanto, não tive qualquer tipo de contato pessoal ou profissional (é, minha rede lá é grande). São pessoas que, por algum motivo profissional solicitaram conexão comigo ou eu solicitei conexão. E não vejo problemas nisso, já que esta é uma das principais funções desta rede social. Mas, a consequência é que, naturalmente, os relacionamentos aqui tendem a ser mais frios. Inclusive por isso o próprio LinkedIn facilita o envio disponibilizando mensagens prontas, bastando apenas dar um clique para enviar.
Neste cenário coloco alguns e-mails mais padronizados que recebi, que me passaram a sensação de menos cuidado na própria arte e alguns até com erro na grafia do meu nome. Da mesma forma que o cenário 1, estas empresas se preocuparam com o básico, mas deixaram o cuidado e a atenção nem em segundo, mas em terceiro plano. Possivelmente, automatizando praticamente todo o processo em alguma ferramenta de gestão de campanhas o que, possivelmente, as faz pensar que possuem uma ótima estratégia, só que não.
Cenário 3 – Cenários 1 e 2 misturados
Aqui comparo com aquele “amigo/conhecido” que faz anos que não conversa com você, que foi lembrado pela Rede que você faz aniversário e por algum motivo ainda desconhecido, não quer mais parar de te mandar mensagens.
Aqui coloco apenas uma das empresas, uma grande empresa ,a propósito, da qual já fui cliente e não recebia nada deles há uns 3 ou 4 anos, mas que em apenas uma semana, “coincidentemente” depois da mensagem de aniversário, começou a enviar várias outras querendo a todo custo que eu volte a ser um cliente. Uma das mensagens inclusive me chamou muito a atenção pela criatividade mas, sinceramente, não tenho nenhuma intenção de consumir um produto dela (de alto valor) no curto prazo.
Arrisco a dizer que existe aqui uma estratégia mais estruturada e um grande cuidado na qualidade e até criatividade das mensagens, mas com o time totalmente errado. Vão gastar dinheiro comigo à toa.
Cenário 4 – Os insensíveis (ou sem memória)
São aqueles que, apesar de serem amigos mais próximos e de contato frequente, sabem do seu aniversário, mas sequer falam com você no dia ou até falam, mas para darem alguma notícia “chata” e que poderia ser falada depois, mas não, foi justo no dia do seu aniversário.
Neste cenário, coloco apenas uma das empresas (também grande) da qual sou cliente recorrente e que me manda mensagens tentando vender mais coisas em média 2 vezes por semana, além de uma vez por mês encaminhar a conta dos serviços em uma mensagem bem fria, por sinal. Pois bem, justamente esta não me encaminhou nenhuma mensagem de aniversário e pior, no dia mandou o e-mail frio com a conta falando para eu não esquecer o pagamento. Aqui falta mais do que o básico que já falamos aqui.
Falta entender que relacionamento não é apenas uma atividade de marketing, mas sim algo inerente a qualquer negócio e que permeia tudo o que a empresa faz, inclusive atividades operacionais como este e-mail com a conta. Com esta consciência, com certeza a empresa entenderia que talvez o e-mail com a conta deveria ser programado para disparo em uma data diferente, ou então com uma mensagem diferente. Este seria um pequeno detalhe que não passaria desapercebido em nenhuma estratégia.
E para finalizar, transcrevo abaixo uma frase de John Hench, antigo Imagineer da Disney:
“Qual a fórmula do nosso sucesso? É a atenção aos infinitos detalhes, às pequenas coisas, os pontos pequenos, insignificantes, minuciosos aos quais os outros não querem dedicar tempo, dinheiro ou empenho. No que diz respeito à organização Disney, é assim que sempre fizemos e tem sido a fórmula para o nosso sucesso.”