Um intercâmbio colaborativo e de impacto
A discussão sobre reforma administrativa emperrou em Brasília, mas em estados e municípios há mais líderes dispostos a abraçarem essa bandeira na busca de um orçamento mais sustentável
Publicado em 12 de março de 2021 às, 21h06.
Se mesmo antes da pandemia a situação fiscal dos estados e municípios já estava delicada, é quase certo que depois dela o cenário será ainda mais alarmante. Mas acalme-se. Não venho trazer mais queixas e preocupações, além de todas as que carregamos nestes dias difíceis.
Quem tem acompanhado esse meu espaço na EXAME sabe que não costumo destacar problemas sem propor soluções. Dito isso, enquanto a pandemia continua estampando as manchetes dos principais jornais do país, as discussões sobre as reformas administrativas parecem ter caído no esquecimento nacional. Porém, nos níveis estadual e municipal, há cada vez mais líderes dispostos a abraçarem a bandeira das reformas na busca de um orçamento mais sustentável.
A carga tributária brasileira é alta, 33%, próxima dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no entanto, investimos pouco. Um dos motivos são as altas despesas com pessoal. Para resolver isso, muitos sugerem o enxugamento do Estado.
É uma solução legítima, porém, simplista, pois apenas 11% dos empregos no Brasil correspondem aos servidores públicos, em comparação com a média de 20% dos países OCDE. Isso aponta que, talvez, nosso principal desafio não seja o tamanho do Estado, mas sua falta de eficiência.
Muitos governadores e prefeitos estão cientes dessa conjuntura, e por isso têm encontrado dificuldade em buscar soluções. Eles compreendem que as reformas não podem ser feitas de qualquer forma, que elas devem ser o resultado de esforços tomados com base em medidas sugeridas por especialistas com conhecimento técnico e a partir de exemplos que deram certo em outros países.
É nesse contexto que nós, da Comunitas, acenamos para essas lideranças, levando nossa experiência de anos apoiando a gestão pública. Por meio dessas ações, temos buscado fortalecer o pacto coletivo entre setores-chave para o desenvolvimento do Brasil, formando uma governança compartilhada, estimulando o setor privado a colaborar com o desenvolvimento econômico social.
Mais especificamente, temos apoiado reformas na administração pública e gestão de pessoas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, auxiliamos na elaboração de uma proposta de reforma que economizará R$ 6 bilhões dos cofres públicos num período de dez anos. Tendo em vista o êxito obtido, buscamos multiplicar nossos esforços.
Em 2021 lançamos a Jornada Reforma Administrativa em Gestão de Pessoas, na qual selecionamos 10 municípios para transferir conhecimento de maneira gratuita, a partir dos aprendizados e experiências de nossas ações no Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
Ações como essas devem ser multiplicadas. Por mais que os estados e municípios possuam desafios financeiros, legislativos e de políticas de recursos humanos em comum, cada lugar requer um diagnóstico específico.
A surpresa foi recebermos mais de 60 inscrições complexas, de lideranças e cidades com tamanhos, desafios e partidos diferentes. O que deve ser visto com otimismo, como um sinal de esperança em dias melhores.
Isso porque demonstram um gradativo comprometimento desses líderes na busca por soluções técnicas e viáveis para equilibrar as contas de suas respectivas localidades. E, assim, permitindo que mais recursos sejam direcionados para as áreas essenciais à sociedade: educação, saúde e infraestrutura.
Ao mesmo tempo em que compartilhamos nosso conhecimento técnico, também temos aprendido muito com essa relação de trabalho. As experiências adquiridas ao analisar os desafios e necessidades de um determinado lugar funcionam como um atalho para a elaboração de soluções para outro.
Esse intercâmbio colaborativo de impacto, no qual ajudamos os governos com base em nossas experiências, em contrapartida conquistamos novos conhecimentos, resultante das especificidades de cada case, é algo, verdadeiramente, animador.
Os entraves que nos impedem de realizar as reformas necessárias são muito mais facilmente extinguidos quando abordados coletivamente pelos diferentes setores da sociedade, que espera que, diante de um cenário político cada vez mais complexo, os líderes políticos comprometam-se com políticas de estado sustentáveis e de impacto socioeconômico. É essa a vontade dos brasileiros. É isso o que o Brasil merece.