Pacto coletivo em prol do bem comum precisa ser o nosso ‘novo normal’
Diversas empresas se uniram e dialogaram com o Estado durante a pandemia. Todos têm a ganhar com a continuidade desses esforços
Publicado em 6 de novembro de 2020 às, 13h23.
Última atualização em 6 de novembro de 2020 às, 15h40.
A interlocução entre os diferentes segmentos da sociedade foi possível durante a pandemia, dentre outras razões, pelo fato de, há alguns anos, as empresas estarem estruturando e qualificando seus investimentos sociais corporativos.
Quantitativamente, isso significa um aporte voluntário anual de, em média, R$ 2,7 bilhões por parte de organizações privadas e institutos e fundações empresariais, como apontam os dados da pesquisa BISC (Benchmarking do Investimento Social Corporativo), realizada pela Comunitas desde 2007 com diversas corporações. É importante ressaltar que esse valor não foi fortemente alterado mesmo em momentos de crise econômica ou de queda do PIB.
O estudo deste ano revela que o investimento social das empresas que colaboram com a pesquisa foi de R$ 2,5 bilhões em 2019, o equivalente a 0,53% do lucro bruto, o menor percentual da série histórica e abaixo da referência internacional para o mesmo período, de 0,91% - em anos anteriores o cenário foi invertido e o Brasil apresentou melhores resultados e, portanto, o que se pode concluir é que a nossa busca deve ser pela constância.
A projeção para o exercício atual, no entanto, é bem diferente. Além de apresentar o cenário de investimentos sociais corporativos de 2019, o novo BISC trará resultados de 2020, uma vez que o chamado ao setor privado, por parte da sociedade civil organizada e do Estado, para colaborar socialmente, foi ainda mais intenso na pandemia.
Já nesse contexto, as companhias participantes da pesquisa foram responsáveis por destinar um terço dos R$ 6,5 bilhões, soma de todas as contribuições privadas computadas até hoje pelo Monitor de Doações da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos). A maior parte desse montante foi destinado as áreas de saúde, alimentação e assistência social, que, até então, não estavam dentre as prioridades de atuação dessas organizações.
Vale destacar que o BISC 2020 confirma a propensão dos últimos anos de as corporações direcionarem seus investimentos sociais a iniciativas aderentes à natureza da sua atividade, aos pactos mundiais e às políticas públicas, inclusive em situações de crise. Em suas ações contra o coronavírus, priorizaram regiões onde estão presentes e. também, parcerias com outras instituições. Elegeram projetos alinhados aos seus propósitos, escaláveis e com possibilidade de deixarem legados. Levaram em conta, ainda, a rapidez da implementação e atendimentos não presenciais.
A pesquisa aponta caminhos a serem seguidos pelas empresas em seus próximos planejamentos de investimento sociais, como montar uma boa estrutura de governança das ações; valorizar suas expertises e alinhar a atuação social aos negócios para que também faça sentido econômico, e escutar tanto as comunidades, quanto os governos.
Mas por que esse empenho do setor privado em contribuir socialmente? Diversos são os motivos que podem ser apontados para justificar. Os ganhos agregados em fortalecer o desenvolvimento integral da sociedade ajudam – e muito – o crescimento de seus negócios. Mais do que isso, o consumidor tem demandado ações mais conscienciosas das organizações. E os investidores querem que as companhias sejam cada vez mais sustentáveis e colaborativas para o progresso equânime do ambiente interno e externo. Tudo isso passa, necessariamente, por políticas concretas de responsabilidade social corporativa.
Contudo, as necessárias transformações não virão somente com o comprometimento de uma única esfera da sociedade, como ficou tão evidente na pandemia. Depende de todos nós individualmente, cada um fazendo sua parte, por exemplo, seguindo os protocolos estabelecidos no enfrentamento da Covid-19.
Depende dos diferentes segmentos: a sociedade civil se mobilizando, a iniciativa privada dialogando sobre as demandas dos governos e comunidades e o poder público se abrindo para parcerias. Mas, acima de tudo, depende de um pacto coletivo, no qual os três setores tenham total disposição para agir conjuntamente. Para mim, só assim teremos, de fato, um “novo normal”.