Mudanças climáticas e os desafios que virão após a pandemia de 2021
Este momento em que ocorrerá a COP 26 tem permitido pensar com muita profundidade sobre a “recuperação verde”, ou seja, da realidade da mudança climática
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2021 às 14h34.
Última atualização em 23 de outubro de 2024 às 17h02.
Por: Regina Esteves
Vivemos em um mundo em transição. Finalmente vemos luz no fim do túnel em relação à pandemia, graças às vacinas e os avanços científicos que nos permitem, aos poucos, voltar às atividades que outrora prezávamos tanto.
A mudança tecnológica que vivenciamos teve seu passo acelerado pela própria pandemia, aprendemos que as tecnologias, especialmente as de comunicação, facilitam nossa vida e negócios. Na crise pandêmica, os setores público e privado, no Brasil e no mundo, se reinventaram, tornando mais produtivo o trabalho de forma remota, demandando menos recursos presenciais para a realização de tarefas diversas.
Mas, se temos boas notícias nessas duas áreas, quanto ao clima, surge talvez um dos maiores desafios da humanidade.
Os dados recentes do 6th Assessment Report, do Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC), publicado em setembro, se revelam assustadores e indicam que podemos ter perdido o timing correto para implantarmos medidas de redução das emissões de carbono, o que significa que já estamos em um período sensível em que os países deverão aumentar seus esforços para implantar políticas corretas e urgentes para salvar o nosso planeta.
Neste sentido, os olhares do mundo, entre 31 de outubro e 12 de novembro, estarão voltados para Glasgow, onde ocorrerá a 26ª Conferência da Partes, a COP 26, que é o órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática.
Na Escócia, serão avaliadas as metas constantes do Acordo de Paris, celebrado em 2015, que visam promover mudanças para limitar o aquecimento global a 2º C, acima dos níveis pré-industriais, e buscar atingir 1,5º C para evitar uma catástrofe climática. Pelo acordo, os países deveriam atingir a neutralidade das emissões de carbono até o ano de 2050.
Este momento em que ocorrerá a COP 26 tem permitido pensar com muita profundidade sobre a “recuperação verde”, ou seja, da crise da pandemia e da realidade da mudança climática, autoridades e países agora se voltam para o processo de recuperação econômica, como uma oportunidade para mudar a nossa relação com o meio ambiente, transformando assim, as relações de produção que se estabeleceram desde a Revolução Industrial.
No Brasil, esta discussão é especialmente importante, porque, como disse Jeffrey Sachs no 14º Encontro de Líderes, da Comunitas, não há razão para que nosso país, na nova era da economia verde, seja ainda marcado pelas desigualdades econômicas e sociais. A Amazônia, nossa biodiversidade e recursos naturais, além da abundância de sol e vento, em vastas regiões, podem nos proporcionar um novo patamar de desenvolvimento e destaque mundiais.
Mas, até chegarmos lá, temos inúmeros desafios a vencer. Em primeiro lugar, pelos dados do IBGE, o país possuía em 2015, 84,72% de sua população vivendo em áreas urbanas, sendo que no Sudeste, esta proporção alcançava 93,14%. Ou seja, a questão ambiental no Brasil passa pelo correto tratamento dos temas que citamos anteriormente, mas também, por nossa capacidade de gerar melhorias significativas com relação às condições ambientais de nossas cidades.
Mais recentemente, avançamos em marcos legais importantes, como a Lei 14.260/2020, cujo objetivo é a universalizar os serviços de saneamento, estender para 90% da população a coleta de esgotos e ampliar para 99% o abastecimento d’água no país até o ano de 2033.
Para além do marco do saneamento, outra questão importante no Brasil é repensar o desenho urbano de nossas cidades. O conceito de “cidades para as pessoas”, como pensado por Jan Gehl, será cada vez mais importante para que nossos ambientes urbanos possam ser planejados de modo mais adensado, com maior diversidade de usos e inclusão. Melhores calçadas, mais parques e áreas verdes e outros aspectos urbanísticos devem ser cada vez valorizados, em detrimento do urbanismo centrado no automóvel.
Por último, mas não menos importante, as cidades brasileiras precisam inovar na gestão pública, buscando implantar políticas de sustentabilidade mais agressivas e que possam mostrar à sociedade que o poder público, especialmente o municipal, tem capacidade de liderar processos inovadores na área ambiental.
A transformação digital dos serviços, as políticas que caracterizam cidades inteligentes e a sustentabilidade têm de figurar como parâmetro para a tomada de decisão dos governos municipais. Assim, teremos condições de assumir um lugar de liderança neste novo capítulo da história mundial, em que governança, políticas sociais e meio ambiente são estratégicos para impulsionar o nosso desenvolvimento.
Por: Regina Esteves
Vivemos em um mundo em transição. Finalmente vemos luz no fim do túnel em relação à pandemia, graças às vacinas e os avanços científicos que nos permitem, aos poucos, voltar às atividades que outrora prezávamos tanto.
A mudança tecnológica que vivenciamos teve seu passo acelerado pela própria pandemia, aprendemos que as tecnologias, especialmente as de comunicação, facilitam nossa vida e negócios. Na crise pandêmica, os setores público e privado, no Brasil e no mundo, se reinventaram, tornando mais produtivo o trabalho de forma remota, demandando menos recursos presenciais para a realização de tarefas diversas.
Mas, se temos boas notícias nessas duas áreas, quanto ao clima, surge talvez um dos maiores desafios da humanidade.
Os dados recentes do 6th Assessment Report, do Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC), publicado em setembro, se revelam assustadores e indicam que podemos ter perdido o timing correto para implantarmos medidas de redução das emissões de carbono, o que significa que já estamos em um período sensível em que os países deverão aumentar seus esforços para implantar políticas corretas e urgentes para salvar o nosso planeta.
Neste sentido, os olhares do mundo, entre 31 de outubro e 12 de novembro, estarão voltados para Glasgow, onde ocorrerá a 26ª Conferência da Partes, a COP 26, que é o órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática.
Na Escócia, serão avaliadas as metas constantes do Acordo de Paris, celebrado em 2015, que visam promover mudanças para limitar o aquecimento global a 2º C, acima dos níveis pré-industriais, e buscar atingir 1,5º C para evitar uma catástrofe climática. Pelo acordo, os países deveriam atingir a neutralidade das emissões de carbono até o ano de 2050.
Este momento em que ocorrerá a COP 26 tem permitido pensar com muita profundidade sobre a “recuperação verde”, ou seja, da crise da pandemia e da realidade da mudança climática, autoridades e países agora se voltam para o processo de recuperação econômica, como uma oportunidade para mudar a nossa relação com o meio ambiente, transformando assim, as relações de produção que se estabeleceram desde a Revolução Industrial.
No Brasil, esta discussão é especialmente importante, porque, como disse Jeffrey Sachs no 14º Encontro de Líderes, da Comunitas, não há razão para que nosso país, na nova era da economia verde, seja ainda marcado pelas desigualdades econômicas e sociais. A Amazônia, nossa biodiversidade e recursos naturais, além da abundância de sol e vento, em vastas regiões, podem nos proporcionar um novo patamar de desenvolvimento e destaque mundiais.
Mas, até chegarmos lá, temos inúmeros desafios a vencer. Em primeiro lugar, pelos dados do IBGE, o país possuía em 2015, 84,72% de sua população vivendo em áreas urbanas, sendo que no Sudeste, esta proporção alcançava 93,14%. Ou seja, a questão ambiental no Brasil passa pelo correto tratamento dos temas que citamos anteriormente, mas também, por nossa capacidade de gerar melhorias significativas com relação às condições ambientais de nossas cidades.
Mais recentemente, avançamos em marcos legais importantes, como a Lei 14.260/2020, cujo objetivo é a universalizar os serviços de saneamento, estender para 90% da população a coleta de esgotos e ampliar para 99% o abastecimento d’água no país até o ano de 2033.
Para além do marco do saneamento, outra questão importante no Brasil é repensar o desenho urbano de nossas cidades. O conceito de “cidades para as pessoas”, como pensado por Jan Gehl, será cada vez mais importante para que nossos ambientes urbanos possam ser planejados de modo mais adensado, com maior diversidade de usos e inclusão. Melhores calçadas, mais parques e áreas verdes e outros aspectos urbanísticos devem ser cada vez valorizados, em detrimento do urbanismo centrado no automóvel.
Por último, mas não menos importante, as cidades brasileiras precisam inovar na gestão pública, buscando implantar políticas de sustentabilidade mais agressivas e que possam mostrar à sociedade que o poder público, especialmente o municipal, tem capacidade de liderar processos inovadores na área ambiental.
A transformação digital dos serviços, as políticas que caracterizam cidades inteligentes e a sustentabilidade têm de figurar como parâmetro para a tomada de decisão dos governos municipais. Assim, teremos condições de assumir um lugar de liderança neste novo capítulo da história mundial, em que governança, políticas sociais e meio ambiente são estratégicos para impulsionar o nosso desenvolvimento.