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Democracia: imperfeita, imprescindível e frágil?

Observamos ameaças à democracia, que, apesar de imperfeita, não conta com uma alternativa ideal. Deixo meu apelo: a democracia não aceita retrocessos

Para a surpresa de ninguém, um líder do movimento fundamentalista Talibã afirmou que o Afeganistão não será uma democracia. Temos cada vez mais observado um declínio da melhor forma de governo já criada. Por esse motivo, não podemos superestimar a força da democracia (AFP via Getty Images)/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 20 de agosto de 2021 às 16h52.

As imagens dos afegãos tentando desesperadamente deixar seu país após a chegada do Talibã ao poder comoveram o mundo inteiro durante esta semana. E, para a surpresa de ninguém, um líder do movimento fundamentalista afirmou que o país não será uma democracia.

Em 1992, o filósofo e economista-político Francis Fukuyama afirmou em sua obra The End of History and the Last Man (O fim da história e o último homem) que a democracia liberal ocidental representaria o último grau na evolução das formas de governo da humanidade.

Se por um lado Fukuyama acertou ao classificar a democracia como o modelo ideal, o escritor subestimou sua estabilidade. Nos últimos anos temos observado ameaças a esse sistema, que, apesar de imperfeito, não conta com uma alternativa ideal. Dessa forma, aqui deixo meu apelo: a democracia não aceita retrocessos.

Em um momento no qual oponentes políticos são tratados como inimigos, estudiosos olham com preocupação para o declínio do sistema que é considerado o mais representativo da atualidade.

Na Venezuela, Hugo Chávez era um outsider político que prometia destituir a elite governante, reunir uma nova constituinte em 1999, para então escrever uma nova Constituição. O autoritarismo só veio a partir de 2003, porém, antes havia demonstrado sinais.

De acordo com by Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, autores do livro How Democracies Die (Como as Democracias Morrem), apesar das diferenças, Hitler Mussolini e Chávez trilharam caminhos similares rumo ao poder, e isso só foi possível pois os outros atores políticos e até mesmo a sociedade ignoraram os sinais.

Há, de acordo com os autores, quatro sinais para reconhecermos um comportamento autoritário. São eles (1) Rejeição das regras democráticas já estabelecidas; (2) Negação da legitimidade dos oponentes políticos; (3) Tolerância ou encorajamento da violência, e por último, (4) Propensão para suprimir as liberdades civis de seus oponentes.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos demonstraram que 1 de cada 4 millennials consideram a democracia uma má forma de governar. O mesmo ocorre em outros países desenvolvidos como o Reino Unido, Países Baixos, Suécia e Nova Zelândia.

O que observamos hoje é uma insatisfação das pessoas com os partidos político tradicionais e que também abre caminho para que figuras claramente antidemocráticas e críticas do sistema vigente cheguem ao poder. Esses políticos apresentam soluções simplistas para problemas complexos, contudo, se são realmente “simples”, por que persistem?

Em um mundo cada vez mais polarizado e fragmentado, há um ressentimento não somente em relação aos políticos, mas também àqueles que expressam visões de mundo divergentes. Na era das redes sociais, esse fenômeno é alimentado por meio das bolhas virtuais, nas quais o usuário se relaciona somente com aqueles com as mesmas visões de mundo.

Ao contrário do que se pensa comumente, as democracias não se desfazem mais da noite para o dia, com exércitos tomando as ruas de capitais mundo afora. Isso ocorre de forma legal, usando as próprias ferramentas e instituições democráticas, sem que as pessoas notem em tempo real o que está realmente acontecendo.

Temos cada vez mais observado um declínio da melhor forma de governo já criada. Por esse motivo, não podemos superestimar a força da democracia. Só ela é capaz de proteger aquilo que temos de mais precioso, a dignidade e a vida.

Se quisermos continuar a usufruir dos benefícios proporcionados por um sistema que resguarda nossa liberdade de expressão, de imprensa e que nos protege de tiranos, precisamos de um pacto global em prol da democracia, um sistema imperfeito, imprescindível e frágil.

 

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As imagens dos afegãos tentando desesperadamente deixar seu país após a chegada do Talibã ao poder comoveram o mundo inteiro durante esta semana. E, para a surpresa de ninguém, um líder do movimento fundamentalista afirmou que o país não será uma democracia.

Em 1992, o filósofo e economista-político Francis Fukuyama afirmou em sua obra The End of History and the Last Man (O fim da história e o último homem) que a democracia liberal ocidental representaria o último grau na evolução das formas de governo da humanidade.

Se por um lado Fukuyama acertou ao classificar a democracia como o modelo ideal, o escritor subestimou sua estabilidade. Nos últimos anos temos observado ameaças a esse sistema, que, apesar de imperfeito, não conta com uma alternativa ideal. Dessa forma, aqui deixo meu apelo: a democracia não aceita retrocessos.

Em um momento no qual oponentes políticos são tratados como inimigos, estudiosos olham com preocupação para o declínio do sistema que é considerado o mais representativo da atualidade.

Na Venezuela, Hugo Chávez era um outsider político que prometia destituir a elite governante, reunir uma nova constituinte em 1999, para então escrever uma nova Constituição. O autoritarismo só veio a partir de 2003, porém, antes havia demonstrado sinais.

De acordo com by Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, autores do livro How Democracies Die (Como as Democracias Morrem), apesar das diferenças, Hitler Mussolini e Chávez trilharam caminhos similares rumo ao poder, e isso só foi possível pois os outros atores políticos e até mesmo a sociedade ignoraram os sinais.

Há, de acordo com os autores, quatro sinais para reconhecermos um comportamento autoritário. São eles (1) Rejeição das regras democráticas já estabelecidas; (2) Negação da legitimidade dos oponentes políticos; (3) Tolerância ou encorajamento da violência, e por último, (4) Propensão para suprimir as liberdades civis de seus oponentes.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos demonstraram que 1 de cada 4 millennials consideram a democracia uma má forma de governar. O mesmo ocorre em outros países desenvolvidos como o Reino Unido, Países Baixos, Suécia e Nova Zelândia.

O que observamos hoje é uma insatisfação das pessoas com os partidos político tradicionais e que também abre caminho para que figuras claramente antidemocráticas e críticas do sistema vigente cheguem ao poder. Esses políticos apresentam soluções simplistas para problemas complexos, contudo, se são realmente “simples”, por que persistem?

Em um mundo cada vez mais polarizado e fragmentado, há um ressentimento não somente em relação aos políticos, mas também àqueles que expressam visões de mundo divergentes. Na era das redes sociais, esse fenômeno é alimentado por meio das bolhas virtuais, nas quais o usuário se relaciona somente com aqueles com as mesmas visões de mundo.

Ao contrário do que se pensa comumente, as democracias não se desfazem mais da noite para o dia, com exércitos tomando as ruas de capitais mundo afora. Isso ocorre de forma legal, usando as próprias ferramentas e instituições democráticas, sem que as pessoas notem em tempo real o que está realmente acontecendo.

Temos cada vez mais observado um declínio da melhor forma de governo já criada. Por esse motivo, não podemos superestimar a força da democracia. Só ela é capaz de proteger aquilo que temos de mais precioso, a dignidade e a vida.

Se quisermos continuar a usufruir dos benefícios proporcionados por um sistema que resguarda nossa liberdade de expressão, de imprensa e que nos protege de tiranos, precisamos de um pacto global em prol da democracia, um sistema imperfeito, imprescindível e frágil.

 

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