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Mulher no mercado financeiro: o quanto avançamos?

Falar de dinheiro, de maneira natural e sem ressalvas, é necessário para a autonomia das mulheres

 (uzenzen/Getty Images for National Geographic Magazine)
(uzenzen/Getty Images for National Geographic Magazine)

Acredito que o poder está em cada um de nós. E também acredito que, para validá-lo na sociedade, é necessário que, principalmente, as mulheres tenham autonomia sobre suas decisões e acesso à independência financeira. Para tanto, falar de dinheiro, de maneira natural e sem ressalvas, faz-se necessário.

Equidade de gênero corresponde, possivelmente, a uma solução para muitas questões sociais e econômicas no país que, em 2023, teve 1.463 mulheres mortas por feminicídio, segundo dados do Fórum de Segurança Pública no dia em que antecedeu ao Dia Internacional da Mulher. Acho curioso que em São Paulo, um dos estados onde há a taxa mais baixa de violência contra as mulheres quando comparada a números de outros locais, seja também o lugar onde o protagonismo feminino cresce no ambiente dos negócios. De acordo com estudo do Sebrae (a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), o estado paulista registra a marca de 37% de mulheres donas de negócios (a média nacional é de 34,4%).

Paridade de gênero no mercado financeiro

Segundo pesquisa realizada por Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGVcef), apenas 11% de mulheres, no Brasil estão certificadas pela Chartered Financial Analyst (CFA) para atuar no mercado financeiro. Quando se trata de cargo de liderança, a representação feminina como CEOs é de somente 16% entre os 50 maiores bancos comerciais do mundo, por exemplo.

O mercado financeiro é ocupado por profissionais, em sua maioria, com formações em administração, economia e em engenharias. Claudia expressa preocupação na baixa procura por mulheres nos cursos de administração. Diante disso, podemos pensar em soluções como tornar os ambientes corporativos mais convidativos. De quais maneiras? Acredito que, gerando oportunidades e acesso a cargos de gestão, além de melhores condições de trabalho e salário, teremos um avanço significativo.

Nos últimos dias, debatemos sobre a contraposição no mercado de trabalho entre homens e mulheres e pudemos enxergar dados que comprovam que, mesmo com escolaridade superior e maior carga horária de trabalho, o menor salário é ofertado às mulheres. No mercado financeiro, as subáreas têm predominância feminina 10,7% contra 5,4% de homens em funções administrativas e de apoio (informações divulgadas pela FGV). A lei 14.611/2023, que torna obrigatória a igualdade salarial entre mulheres e homens que ocupam o mesmo cargo e função, equivale a um avanço importante. Mas, os números e as vivências femininas nos mostram que a determinação não é praticada devidamente nas organizações (eis um atraso significativo).

Resultados e avanços

Guilherme Benchimol, empresário, economista, fundador e presidente executivo do Conselho de Administração da XP Investimentos, evidencia o novo momento do mercado financeiro ocupado e administrado por mulheres – algo que era comum, mas que sempre se fez necessário. “As mulheres ocuparam um espaço que era majoritariamente masculino no mercado financeiro. Sem dúvida, uma trajetória irreversível e, de certa forma, inspiradora”, avalia. O cenário ainda está bem aquém das nossas expectativas. Contudo, hoje, podemos mensurar os avanços que são resultados dos nossos embates e que evidenciam as nossas conquistas.

Mudanças estruturais são necessárias para que a diversidade de gênero no setor financeiro seja significativa e os avanços já conquistados sejam enxergados com respeito e relevância para o setor econômico do país. No Brasil, somos 104,5 milhões de mulheres (dados do Censo Demográfico de 2022), uma potência da qual a nação muito precisa.