Casa da Moeda: troca de socos, mas não troca de dono
Diante do prejuízo anual de R$ 200 milhões, a diretoria quer cortar benefícios dos funcionários da fábrica, o que resultou em protestos
Publicado em 16 de janeiro de 2020 às, 05h50.
Última atualização em 16 de janeiro de 2020 às, 20h42.
A tensão entre os funcionários da Casa da Moeda do Brasil e a diretoria que tomou posse em junho com a missão de privatizar a empresa não para de crescer. Os empregados fizeram protestos nos últimos dias na fábrica de dinheiro, no Rio de Janeiro, pedindo que a administração continue cumprindo as cláusulas do acordo coletivo de trabalho de 2018, que deveria ter sido renovado em janeiro de 2019.
Diante do prejuízo anual de 200 milhões de reais, a diretoria quer cortar benefícios, como o plano de saúde. Durante debates sobre a proposta, empregados chegaram a trocar socos dentro da fábrica. Pela falta de consenso, o acordo foi enviado ao Tribunal Superior do Trabalho, que deve decidir em março como fica.
Segundo EXAME apurou, a diretoria da empresa e o secretário federal de Privatizações e Desinvestimento, Salim Mattar, acham que a crise é positiva para forçar a venda da estatal porque escancara o que julgam ser benesses excessivas concedidas aos trabalhadores nos últimos anos. Mas o restante do governo está preocupado e teme que a queda de braço leve a uma greve, prejudicando a emissão de passaportes, também feita pela Casa da Moeda.
O presidente Jair Bolsonaro, que na campanha de 2018 se disse contra a privatização, está cada dia menos disposto a levar o plano da equipe econômica adiante. A meta do governo é arrecadar neste ano 150 bilhões de reais com vendas de ativos, 50% mais do que em 2019.
A Secretaria de Privatizações e Desinvestimento disse, em mensagem, que Bolsonaro é entusiasta das privatizações e defende a venda da Casa da Moeda. "O presidente também sabe que as administrações anteriores foram muito lesivas à empresa com inúmeros casos de corrupção e malfeitos. Os salários e benefícios dos funcionários são muito acima do mercado e a empresa passa no momento por uma situação financeira delicada com sucessivos prejuízos", afirmou a secretaria, acrescentando que a privatização é prevista para este ano ainda. "Absolutamente não há risco na emissão de passaportes. Ao contrário, caso haja risco, o processo de privatização poderá ser acelerado e a Polícia Federal pode vir a adquirir isso em gráficas especializadas no exterior por um valor muito menor."