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Os republicanos estão vivendo na sua Coreia do Norte particular

Embora os Estados Unidos não sejam inteiramente um regime autoritário – ainda –, o Partido Republicano moderno é de muitas maneiras

DONALD TRUMP EM REUNIÃO DE SEU GABINETE: republicanos se mostraram dispostos a aceitar todo e qualquer abuso de poder /
DR

Da Redação

Publicado em 22 de junho de 2017 às 10h45.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h51.

Foi uma cena esquisita: O gabinete do presidente Trump discursando durante um encontro recente, um de cada vez, para oferecer efusivos e humilhantes elogios ao chefe deles. Ainda que as homenagens fossem justificadas (de fato, o Sr. Trump conquistou incrivelmente pouco), foi algo profundamente não-americano – o tipo de coisa que você esperaria ver em um regime autoritário, não em uma república em que se espera que os líderes finjam ser humildes empregados do povo.

Mas foi coerente com tudo mais que nós temos visto, não apenas do Sr. Trump – que não tem um osso democrático em seu corpo – mas dos republicanos , que até aqui se mostraram dispostos a aceitar todo e qualquer abuso de poder, inclusive níveis quase cômicos de amor-próprio financeiro. Ou seja, essa não é somente uma história que diz respeito ao Sr. Trump; é também sobre o que aconteceu ao Partido Republicano.

Eu não tenho uma explicação completa. Mas com certeza um ponto de partida é a compreensão de que, embora a América como um todo não seja um regime autoritário – ainda -, o Partido Republicano moderno de muitas maneiras o é. Ou seja, uma vez que você tomou a decisão de se tornar um republicano, você se encontra vivendo em sua própria Pyongyang particular.

Quero dizer isso em mais de um sentido. Um deles é que, para a grande maioria dos republicanos no Congresso, a lealdade ao partido é tudo o que importa para o futuro político deles. Como Nate Silver demonstrou anos atrás (veja este gráfico: nyti.ms/2tmc1mB), hoje há muito poucos distritos capazes de virada em que um republicano possa perder, salvo se acontecer um terremoto político.

Isto também é verdade quando se fala dos democratas, mas o Partido Democrata é um campo de conflito entre grupos de interesses, enquanto o Partido Republicano é monolítico. Ou seja, se você é um político republicano, você se preocupa em seguir a linha do partido e ponto final.

Será que os eleitores republicanos podem se voltar contra você caso você pareça escravizado por uma liderança obviamente corrupta? Bem, de onde esses eleitores tirariam uma ideia assim? Para todos os fins práticos, os eleitores republicanos primários acompanham seu noticiário por meio de uma mídia completamente partidária, o que mostra uma imagem do mundo que não guarda semelhança alguma com o que as fontes independentes estão dizendo. Mesmo que a maioria dos republicanos de Washington saiba que não é bem assim, o interesse próprio deles diz que eles precisam fingir que acreditam na linha oficial.

Então, se você for o mandatário Carola de um estado republicano, toda a sua carreira depende de você ser um burocrata do partido disposto a fazer e dizer qualquer coisa que o regime exigir. Sugestões de que os homens do presidente – e mesmo o próprio presidente – estão conspirando com potências externas? Fake news! Demitir o diretor do FBI em uma tentativa óbvia de obstruir a justiça? Vamos bolar desculpas! Análises sugerindo que seu

projeto de lei vai causar amplo sofrimento? Deixe-as pra lá. Lealdade ao partido é tudo – mesmo que isso exija demonstrações humilhantes de deferência subserviente.

Por isso é que eu não acredito nas afirmações de que demitir Robert S. Mueller III, o consultor especial que está investigando os laços entre a Rússia e campanha de Trump, seria cruzar algum tipo de linha vermelha. Tudo indica que não há linha alguma.

A única coisa que poderia fazer os republicanos a se voltarem contra o Sr. Trump seria a perspectiva mais ou menos garantida de uma onda eleitoral tão significativa que mesmo as vagas muito asseguradas seriam perdidas. E, no ritmo que as coisas vão, isso poderia acontecer. Porém, se acontecer, não vai ser nada parecido com um processo político normal; vai estar mais para uma revolução no interior do Partido Republicano, uma mudança de regime que despedaçaria a instituição do partido.

Vamos torcer.

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Foi uma cena esquisita: O gabinete do presidente Trump discursando durante um encontro recente, um de cada vez, para oferecer efusivos e humilhantes elogios ao chefe deles. Ainda que as homenagens fossem justificadas (de fato, o Sr. Trump conquistou incrivelmente pouco), foi algo profundamente não-americano – o tipo de coisa que você esperaria ver em um regime autoritário, não em uma república em que se espera que os líderes finjam ser humildes empregados do povo.

Mas foi coerente com tudo mais que nós temos visto, não apenas do Sr. Trump – que não tem um osso democrático em seu corpo – mas dos republicanos , que até aqui se mostraram dispostos a aceitar todo e qualquer abuso de poder, inclusive níveis quase cômicos de amor-próprio financeiro. Ou seja, essa não é somente uma história que diz respeito ao Sr. Trump; é também sobre o que aconteceu ao Partido Republicano.

Eu não tenho uma explicação completa. Mas com certeza um ponto de partida é a compreensão de que, embora a América como um todo não seja um regime autoritário – ainda -, o Partido Republicano moderno de muitas maneiras o é. Ou seja, uma vez que você tomou a decisão de se tornar um republicano, você se encontra vivendo em sua própria Pyongyang particular.

Quero dizer isso em mais de um sentido. Um deles é que, para a grande maioria dos republicanos no Congresso, a lealdade ao partido é tudo o que importa para o futuro político deles. Como Nate Silver demonstrou anos atrás (veja este gráfico: nyti.ms/2tmc1mB), hoje há muito poucos distritos capazes de virada em que um republicano possa perder, salvo se acontecer um terremoto político.

Isto também é verdade quando se fala dos democratas, mas o Partido Democrata é um campo de conflito entre grupos de interesses, enquanto o Partido Republicano é monolítico. Ou seja, se você é um político republicano, você se preocupa em seguir a linha do partido e ponto final.

Será que os eleitores republicanos podem se voltar contra você caso você pareça escravizado por uma liderança obviamente corrupta? Bem, de onde esses eleitores tirariam uma ideia assim? Para todos os fins práticos, os eleitores republicanos primários acompanham seu noticiário por meio de uma mídia completamente partidária, o que mostra uma imagem do mundo que não guarda semelhança alguma com o que as fontes independentes estão dizendo. Mesmo que a maioria dos republicanos de Washington saiba que não é bem assim, o interesse próprio deles diz que eles precisam fingir que acreditam na linha oficial.

Então, se você for o mandatário Carola de um estado republicano, toda a sua carreira depende de você ser um burocrata do partido disposto a fazer e dizer qualquer coisa que o regime exigir. Sugestões de que os homens do presidente – e mesmo o próprio presidente – estão conspirando com potências externas? Fake news! Demitir o diretor do FBI em uma tentativa óbvia de obstruir a justiça? Vamos bolar desculpas! Análises sugerindo que seu

projeto de lei vai causar amplo sofrimento? Deixe-as pra lá. Lealdade ao partido é tudo – mesmo que isso exija demonstrações humilhantes de deferência subserviente.

Por isso é que eu não acredito nas afirmações de que demitir Robert S. Mueller III, o consultor especial que está investigando os laços entre a Rússia e campanha de Trump, seria cruzar algum tipo de linha vermelha. Tudo indica que não há linha alguma.

A única coisa que poderia fazer os republicanos a se voltarem contra o Sr. Trump seria a perspectiva mais ou menos garantida de uma onda eleitoral tão significativa que mesmo as vagas muito asseguradas seriam perdidas. E, no ritmo que as coisas vão, isso poderia acontecer. Porém, se acontecer, não vai ser nada parecido com um processo político normal; vai estar mais para uma revolução no interior do Partido Republicano, uma mudança de regime que despedaçaria a instituição do partido.

Vamos torcer.

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