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O impacto dos “finfluencers” nas decisões de investimento

Frequentemente, confunde-se o número de seguidores ou a quantidade de conteúdo produzido com a qualidade da informação

A carreira de assessor de investimentos bombou nos EUA e agora está ganhando força entre os profissionais brasileiros  (Freepik)
A carreira de assessor de investimentos bombou nos EUA e agora está ganhando força entre os profissionais brasileiros (Freepik)

Por Elias Bornancini*

Com o crescimento das redes sociais e o aumento de sua influência na vida dos usuários, é natural que os criadores de conteúdo, popularmente conhecidos como “influenciadores”, ganhem ascendência sobre a vida de seus seguidores. No entanto, essa influência nem sempre passa por um crivo de qualidade, avaliando se o influenciador é realmente capacitado para comunicar e ensinar sobre o tema. 

Frequentemente, confunde-se o número de seguidores ou a quantidade de conteúdo produzido com a qualidade da informação. Isso se deve a vieses cognitivos que todos nós possuímos e que, de forma inconsciente, acabam influenciando nossas decisões. Um exemplo é o efeito manada, onde acreditamos que, se muitas pessoas tomam determinada decisão, essa deve ser boa. Outro viés comum é o de disponibilidade, que sugere que informações recorrentes têm mais chances de influenciar nossas decisões, algo amplamente explorado na publicidade. 

Esses vieses e as redes sociais logicamente influenciam nossas decisões de investimentos. Mas a dúvida que surge é: essa influência é positiva ou negativa? Para responder a essa pergunta, o Swiss Finance Institute realizou um estudo em julho de 2023, buscando entender os impactos dos "finfluencers" - ou influenciadores de finanças - e se suas orientações são benéficas ou prejudiciais para seus seguidores. 

O estudo revelou que apenas 28% dos influenciadores são realmente qualificados, proporcionando um retorno mensal acima da média de 2,6%. Por outro lado, 18% não são qualificados e 56% são "antiqualificados", oferecendo retornos mensais de -2,3% abaixo da média, resultando em prejuízos para os seguidores que adotam suas dicas. 

Além disso, o estudo mostra que a probabilidade de um influenciador não ser qualificado ou antiqualificado é diretamente proporcional ao número de seguidores. Quando se avalia a probabilidade de ser qualificado, a relação é inversa: quanto menos seguidores, maior a probabilidade de entregar retornos superiores. A mesma relação se aplica à quantidade de publicações; quanto mais publicações, maior a probabilidade do influenciador não ser qualificado ou ser negativamente qualificado, e quanto menos publicações, maior a probabilidade de suas orientações serem qualificadas. 

O estudo explica que os influenciadores antiqualificados geram um sentimento excessivamente otimista em seus seguidores e uma alta rotatividade nos ativos das carteiras. Inclusive, aponta que, se adotarmos estratégias inversas às dos influenciadores antiqualificados, teríamos um retorno mensal acima da média de 1,2%. 

Os influenciadores visam vender seus produtos, focando na geração de conteúdo, no aumento de seguidores e na ampliação de sua influência, mas nem sempre buscam se capacitar para auxiliar seus seguidores, gerando um grande conflito de interesses. O estudo também ressalta a importância de evitar as redes sociais ao buscar qualidade nas decisões relacionadas a investimentos. Por isso, recomenda-se sempre procurar orientação de um profissional qualificado e que atue na área. 

O estudo completo pode ser visualizado no link: https://ssrn.com/abstract=4428232 

 *Elias Bornancini é Consultor CVM na Lime Prime Multi Family Office. Formado pela UFRGS em Design de Produto, é especialista em investimentos (CEA) e atualmente cursa MBA em Finanças e Controladoria pela USP.