Banco Central: política fiscal expansionista pressiona a inflação e deve levar a aumento de juros (Leandro Fonseca/Exame)
Panorama Econômico
Publicado em 6 de janeiro de 2025 às 09h05.
Por Marcela Kawauti*
O ano de 2025 começa com mudanças importantes na autoridade monetária brasileira. Gabriel Galípolo, que era diretor de Política Monetária, assumiu a presidência da instituição no lugar de Roberto Campos Neto. Houve também três substituições na diretoria, com a entrada de um profissional egresso da tesouraria de uma grande instituição financeira (Nilton David) e de dois integrantes do quadro técnico do Banco Central (Izabela Correa e Gilneu Vivian).
Efetivadas as mudanças, a partir de 2025, as decisões sobre taxas de juros serão tomadas por um colegiado de nove diretores, com maioria (sete) de indicados pelo atual presidente da República. A reunião de nomes técnicos e com experiência no mercado financeiro afasta o receio de eventuais intervenções políticas, além de sugerir continuidade das diretrizes atuais na política monetária.
Além das mudanças citadas, em 2025 teremos alterações importantes no regime de metas de inflação, com a implementação da chamada Meta Contínua. Em termos práticos, ainda haverá um alvo estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), acompanhado de bandas que formam um intervalo de tolerância. No entanto, a apuração do cumprimento desse objetivo será diferente. A regra atual determina que o índice de preços ao consumidor precisa estar dentro dessa faixa ao final do ano-calendário, ou seja, no acumulado de 12 meses, de janeiro a dezembro. A partir de 2025, a métrica continuará sendo o índice acumulado em 12 meses, mas a apuração será mensal. O descumprimento da meta ocorrerá caso o resultado ultrapasse o teto do intervalo por seis meses consecutivos.
Não há mudança em relação aos papéis de cada ente governamental. O CMN (composto pelos Ministérios da Fazenda, do Planejamento e pelo Banco Central) continuará sendo o responsável por estabelecer a métrica e os objetivos, enquanto o Banco Central deve agir para cumprir essa meta. A prestação de contas, em caso de descumprimento, será feita por meio de carta aberta do Banco Central, direcionada ao Ministério da Fazenda e publicada no Relatório de Política Monetária (documento que substituirá o atual Relatório de Inflação, com conteúdo semelhante).
Apesar das mudanças, as indicações de falas do Banco Central (e da ata do Copom e dos comunicados) apontam para a continuidade do viés contracionista da política monetária, necessário para garantir o compromisso de convergência da inflação à meta. Essa postura é fundamental para trazer alguma estabilidade em meio à crise de confiança na sustentabilidade da política fiscal.
Na Lifetime, sempre escolhemos investimentos que proporcionam retornos adequados, mas que, ao mesmo tempo, minimizam os riscos ao patrimônio de nossos clientes. Dado o cenário atual, o ciclo contracionista iniciado em setembro deste ano deve se estender por 2025. A alta nas taxas de juros traz boas oportunidades para as carteiras, que podem obter resultados interessantes com menor grau de volatilidade. Os ativos de renda fixa em geral, incluindo títulos públicos, ativos bancários e debêntures, oferecem prêmios de risco elevados. Por outro lado, para o investidor que desejar diversificar o risco e mitigar, em parte, a volatilidade dos ativos domésticos, as opções de investimentos no exterior (offshore) podem trazer menor volatilidade e maior previsibilidade.
* Economista formada pela USP, com mestrado em Economia e Finanças pela FGV-SP. Possui quase 20 anos de experiência em pesquisa econômica, educação financeira e riscos. Atualmente, atua como economista-chefe da Lifetime.