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Mudanças demográficas e o impacto sobre estratégias de investimento

No Brasil, as projeções do IBGE indicam que a população atingirá o pico de 220,4 milhões em 2041 e começará a declinar

O mundo hoje (Getty Images)

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Panorama Econômico

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Publicado em 27 de janeiro de 2025 às 17h34.

O mercado financeiro global é alimentado diariamente por uma enorme quantidade de dados e notícias, que formam uma base importante para o processo de tomada de decisões dos investidores no dia a dia, refletindo no comportamento dos preços dos ativos negociados.

Além da volatilidade típica causada por esse turbilhão de informações, é importante analisarmos também os temas que podem ser relevantes no médio e longo prazo, definindo novas tendências e impactando estratégias de investimentos estruturais.

Nesse contexto, um tema ainda pouco explorado no mundo financeiro é o impacto das mudanças demográficas que afetam todos os países. Será que estamos preparados para enfrentar os grandes desafios decorrentes das profundas transformações esperadas?

Antes de abordarmos o que alguns estudos estão prevendo, é importante entendermos o que é demografia e qual sua relação com o capital e a produtividade.

O que é demografia?

A demografia é uma área das ciências sociais que estuda a dinâmica populacional humana, analisando como essas populações se comportam e evoluem ao longo do tempo e espaço. O termo foi utilizado pela primeira vez em 1855 pelo estatístico e botânico francês Achille Guillard, em seu livro Elementos de Estatística Humana ou Demografia Comparada.

Os estudiosos da demografia utilizam uma variedade de indicadores estatísticos para entender as tendências populacionais, incluindo o tamanho da população, o crescimento populacional, a migração, as taxas de fecundidade e natalidade, a mortalidade por idade e a expectativa de vida ao nascer.

Além da relevância desses indicadores para o estudo e entendimento da estrutura demográfica de uma sociedade, esses dados também são fundamentais para compreender as implicações econômicas e sociais. Por exemplo, as variações nas pirâmides etárias afetam a disponibilidade de força de trabalho e a proporção entre a população ativa e não ativa, com implicações diretas nos setores de educação, saúde, habitação e previdência, além das políticas governamentais aplicadas em cada caso.

As relações entre Capital, Produtividade e Demografia

O debate demográfico sobre população e desenvolvimento econômico passa pelo entendimento dos conceitos de transição demográfica e bônus/ônus demográfico.

A transição demográfica é um modelo teórico desenvolvido, em 1929, pelo demógrafo americano Frank Notestein. Ele explica a evolução da população de um país ao longo do tempo, considerando as mudanças nas taxas de natalidade e mortalidade e a influência de fatores externos, como o desenvolvimento socioeconômico e a urbanização. Isso significa que o crescimento de uma população passa por um momento de explosão demográfica e, posteriormente, tende a decrescer até atingir um estado de equilíbrio populacional.

O progresso econômico e científico provoca profundas mudanças no contexto da transição demográfica. Essas mudanças trazem uma diminuição das taxas de natalidade, devido à menor fecundidade das famílias, e da mortalidade, reflexo do aumento da expectativa de vida. Nesse cenário, há um aumento da população em idade economicamente ativa, o chamado bônus demográfico, associado ao aumento da poupança e da produtividade, impulsionando o crescimento econômico.

A partir de um certo momento, ocorre um aumento da população de idosos que, aliado à contínua queda nas taxas de fertilidade, reduz o segmento da população potencialmente produtivo. Esse cenário, denominado ônus demográfico, traz grandes desafios econômicos e sociais para os formuladores de políticas públicas.

É justamente esse cenário que merece uma análise mais profunda.

Projeções demográficas

A população mundial cresceu quase 3,5 vezes entre 1900 e 2000, passando de 1,6 bilhão para 6,1 bilhões de pessoas. Se o mundo continuasse a crescer nessa taxa, chegaríamos a 21,3 bilhões de pessoas em 2100. Contudo, segundo as projeções atuais da ONU (julho/2024), o mundo deve atingir 8,2 bilhões de pessoas em 2024, crescendo mais 25% a partir daí, para alcançar o pico de 10,3 bilhões na década de 2080. Esse número é menor do que o previsto anteriormente, especialmente devido aos níveis de fertilidade mais baixos em alguns países, como a China, conforme tabela abaixo.

10 países mais populosos do mundo em 2024, 2054 e 2100 (em milhões)

(Fonte: Multiplica) (Multiplica)

No Brasil, as projeções do IBGE indicam que a população atingirá o pico de 220,4 milhões em 2041 e começará a declinar, caindo para 199,2 milhões em 2070. Segundo a ONU, seremos 163 milhões em 2100.

Desafios Econômicos x Investimentos

Todos os estudos e projeções mostram que, por volta de 2100, o Brasil e o mundo serão completamente diferentes do que são hoje, trazendo novos – e enormes – desafios econômicos e sociais, com as mudanças tecnológicas desempenhando um papel fundamental. A formulação de políticas públicas e os investimentos privados, decorrentes do cenário de ônus demográfico em várias regiões do mundo, inclusive no Brasil, devem considerar aspectos como:

· O impacto sobre o custeio da previdência pública;

· A redução da população em idade produtiva, se não for amenizada pelo uso da tecnologia ou pela imigração, será um entrave progressivo e grave ao crescimento econômico;

· A continuidade da migração do campo para as cidades tem um impacto relevante na atual infraestrutura, bem como no fluxo de investimentos;

· A mudança no setor de construção civil e no mercado imobiliário; e

· A necessidade de investimentos em infraestruturas de mobilidade urbana.

Portanto, o cenário que se desenha para o Brasil exige uma reflexão profunda e um planejamento cuidadoso. Exigindo que os setores da economia se adaptem, com o declínio populacional e mudanças estruturais.

Buscar novas soluções tecnológicas, valoriza o capital humano e equilibrar produção e sustentabilidade serão suficientes para garantir o crescimento econômico e bem-estar da população?

O desafio está lançado!

Sobre a Multiplica

A Multiplica é uma butique financeira, comprometida em oferecer soluções completas e personalizadas em crédito, investimentos, câmbio e seguros. Com mais de uma década de atuação, destaca-se pelo crescimento sólido e exponencial. Atualmente, a Multiplica possui mais de R$ 15 bilhões sob gestão e mais de 40 FIDCs, sendo uma das principais gestoras independentes do mercado.

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