Como mitigar riscos ao investir em ações
O investidor que investe em ações de empresas precisa estar bem informado e saber interpretar o mercado
Publicado em 5 de agosto de 2024 às, 20h20.
Ao aplicar em ações de empresas, é imprescindível que o investidor conheça e entenda como mitigar os maiores riscos inerentes à bolsa de valores e ao ciclo de vida das companhias. Conhecer o que deve ser evitado e saber conectar o cenário atual da economia com uma carteira de ações diversificada, são ações suficientes para proporcionar ao investidor ganhos consistentes na bolsa de valores, mesmo em momentos de estresse econômico.
Mapear os riscos, contudo, não é uma tarefa fácil. O auxílio de profissionais especializados e com vasta experiência no mercado acionário é altamente recomendado.
Nesse artigo, destacamos os três principais riscos que destroem as aplicações dos investidores.
Principais riscos ao investir em ações de empresas
O primeiro dos riscos é a fraude contábil. Quando os executivos das companhias alteram os números financeiros das empresas, realizam negociação de ativos e passivos por um preço diferente do divulgado publicamente, omitem informações em suas demonstrações financeiras, entre outras práticas ilícitas, dizemos que houve fraude contábil.
O risco de fraude é o mais difícil de ser antecipado pelo minoritário, pois é necessária uma análise minuciosa sobre os executivos responsáveis pela gestão da companhia, assim como o seu relacionamento com os clientes e fornecedores.
Uma das ferramentas mais eficazes para avaliar o caráter da gestão é entender como os executivos da companhia se auto remuneram e como tem sido o histórico de remuneração executiva em comparação ao comportamento de indicadores de lucratividade e performance da companhia. Se a remuneração atrelada aos altos cargos da companhia vem crescendo em um ritmo muito acelerado, proporcionalmente maior quando comparado à geração de caixa e ganho de escala da companhia, pode-se concluir que os executivos não estão alinhados aos interesses dos acionistas e essa conta é refletida na geração de lucro líquido e caixa.
Exemplo concreto: Em janeiro de 2023, acompanhamos um dos maiores escândalos da história do varejo no Brasil: o rombo das Lojas Americanas. A varejista havia ocultado dívidas financeiras e inflado receitas para bonificar os diretores da companhia. As ações registraram forte queda em questão de dias, logo após a divulgação do escândalo.
Outro risco que se corre ao aplicar em ações é a competição e desuso. Imagine investir em uma empresa que, em determinado momento, veja seus produtos se tornarem obsoletos, ou enfrente a entrada de novos concorrentes no mercado com produtos mais eficientes e baratos. Esses cenários podem interromper suas vendas ou forçá-la a reduzir suas margens de lucro na tentativa de se tornar mais competitiva. Quando uma companhia reduz seu preço e, consequentemente, apresenta queda na lucratividade, suas ações seguem o mesmo ritmo negativo. Em grande parte dos casos, a perda causada por novas entrantes no mercado são irreversíveis, mesmo para grandes empresas consolidadas.
Exemplo concreto: Foi o que aconteceu com a Ambev após a entrada da Heineken e com a Cielo após a entrada de diversas adquirentes (maquininhas de cartão) como Rede, GetNet, PagSeguro, Mercado Pago, Safra Pay, Stone e outras.
Por fim, temos o risco de aumento no custo de capital, marcado pelos ciclos de alta na taxa de juros e inflação. Ele tem como reflexo a queda da lucratividade e, como consequência, desvalorizações agressivas nas ações de empresas cíclicas e alavancadas, sendo essas duas classes as mais vulneráveis frente ao ciclo de alta nas taxas de juros e inflação. Caso você possua aplicações em empresas sensíveis ao juros em momentos de turbulência na economia, poderá perder todo o seu patrimônio.
Exemplo concreto: As empresas do segmento de logística e hospitais que se alavancaram para financiar o seu crescimento ao longo de 2019 e 2020, momento em que a taxa de juros e inflação global estavam em patamares mínimos, perderam grande parte da sua geração de fluxo de caixa livre ao longo de 2022 e 2023 como reflexo do aumento em suas despesas financeiras (juros da dívida) e suas ações tomaram o mesmo ritmo de queda.
As companhias intensivas em capital necessitam constantemente de dívidas para financiar a manutenção e expansão de seus ativos. O problema surge quando essas empresas rompem seus covenants (limite alavancagem por parte da companhia para proteger os credores) e necessitam realizar sucessivos follow ons (emissão de novas ações) para reduzir o endividamento e respeitar o que foi acordado com as instituições que as concederam crédito, o que dilui os acionistas minoritários e reduz o valor de suas ações.
As ações de empresas de capital intensivo e alavancadas possuem uma volatilidade significativamente maior, pois pequenas variações na taxa de juros acarretam um crescimento ou queda acelerada no volume de lucro líquido.
A estratégia é pesquisar, avaliar e se atualizar
O primeiro passo para reduzir os riscos de investir em ações é saber quais são eles. Para montar uma carteira eficiente de ações no longo prazo, é preciso analisar o ativo e os fatores que podem fazê-lo desviar das perspectivas ao longo do tempo. Antes de buscar a renda variável, todo investidor deve avaliar minuciosamente os resultados divulgados e a governança corporativa das empresas de interesse. Ao selecionar os ativos do portfólio, o segundo passo é acompanhar os fatores macroeconômicos e as atualidades relevantes do mercado que podem impactar o comportamento das ações. Com essas precauções, sua carteira alcançará um desempenho mais eficiente.
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BIO DO AUTOR
Ângelo Belitardo Neto é graduado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP- FGV), com ênfase em finanças e gestão de portfólios. Atuou na área de equity research no banco Safra, sendo responsável pela elaboração de valuation e teses de investimento em bancos, seguradoras, adquirentes, bolsa de valores e sistemas de negociação de ativos (B3). Na gestora GOW CAPITAL, exerceu a função de gestor de carteiras administradas e fundos exclusivos e elaborou decisões de investimento em fundos e títulos de crédito privado (bonds, debêntures, FIDCs) e ações. Na CVPAR Business Capital, foi responsável pela gestão e aquisição de ativos para fundos imobiliários, FIDCs e fundos de private equity. Hoje, é sócio e gestor de investimentos na Hike Capital.