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Daniel Kahneman: o legado do pai da economia comportamental

Daniel Kahneman, pioneiro nas finanças comportamentais que faleceu em março de 2024, aos 90 anos, deixou reflexões e insights sobre o tema

Daniel Kahneman (Foto/Getty Images)

Daniel Kahneman (Foto/Getty Images)

Publicado em 12 de fevereiro de 2025 às 09h00.

Olá, turma! Neste conteúdo, gostaríamos de trazer algumas reflexões e insights sobre o trabalho de Daniel Kahneman, pioneiro nas finanças comportamentais que faleceu em março de 2024, aos 90 anos. 

Formado em psicologia, Kahneman gerou diversas contribuições à sociedade, em especial ao explicar como os seres humanos tomam as suas decisões financeiras. Não por acaso, seu trabalho lhe rendeu o Prêmio Nobel de Economia, em 2002 — mesmo não sendo economista. 

Quer saber mais sobre a trajetória e o legado de Daniel Kahneman? Veja como a atuação do pai da economia comportamental pode colaborar para o seu trabalho como advisor! 

Qual foi a trajetória de Daniel Kahneman? 

Nascido em 1934, em Tel Aviv (Israel), Daniel Kahneman passou a infância em Paris durante a ocupação nazista — o que influenciou sua visão sobre o comportamento humano. Depois, ele retornou à sua terra natal, onde obteve o diploma de bacharel em psicologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, em 1954. 

No mesmo ano, Kahneman foi convocado para servir ao exército. Devido a sua formação em psicologia, ele foi encarregado de realizar análises para entender a aptidão de cada soldado. Porém, muitas vezes, os resultados das avaliações e testes não se confirmavam. 

Foi nessa época que Daniel Kahneman criou o termo ilusão da validação — que, posteriormente, também faria parte do seu trabalho nas finanças comportamentais, como você verá. O serviço no exército durou até 1956. 

Após sair das forças armadas, Kahneman fez um doutorado em psicologia pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, concluindo-o em 1961. Embora tenha começado a sua carreira como psicólogo, o seu interesse em entender o comportamento humano acabou o levando ao campo da economia.  

Foi nesse contexto que Kahneman, junto a seu colega Amos Tversky, também psicólogo, desenvolveu a Teoria da Perspectiva, que explica como as pessoas avaliam riscos e incertezas. Você já ouviu falar sobre ela? 

Vale ressaltar que a Teoria da Perspectiva é uma das principais contribuições de Daniel Kahneman para as finanças comportamentais. 

A seguir, saiba mais sobre essa teoria e outras realizações do psicólogo! 

A Teoria da Perspectiva 

Formulada na década de 1970, a Teoria da Perspectiva é o marco mais relevante da carreira de Daniel Kahneman. Ela foi contra a visão tradicional de que as pessoas agem de forma totalmente racional ao tomar decisões financeiras.  

Na época, Kahneman e Tversky demonstraram que somos, muitas vezes, influenciados por emoções e vieses cognitivos que nos desviam da lógica econômica. O trabalho da dupla revelou como a confiança ou o otimismo excessivo pode afetar negativamente as decisões financeiras.  

Inclusive, com a Teoria da Perspectiva, os autores mostraram que as pessoas tendem a atribuir um peso maior às perdas do que aos ganhos. Trata-se de um fenômeno chamado aversão à perda — que você deve conhecer. 

Estudos sobre vieses cognitivos 

Ao trabalhar no desenvolvimento da Teoria da Perspectiva, Kahneman identificou e catalogou diferentes vieses cognitivos que influenciam o julgamento humano. Na prática, eles consistem em falhas na maneira como as pessoas percebem e interpretam informações, muitas vezes levando a decisões não racionais.  

Dois exemplos nesse sentido são: 

  • viés de confirmação: que faz os indivíduos buscarem informações que confirmem as suas crenças preexistentes; 
  • ilusão da validação: que se refere à tendência de confiar excessivamente em dados sem considerar outros fatores relevantes. 

O trabalho de Kahneman e Tversky foi revolucionário ao evidenciar que, em muitos casos, tomamos decisões com base em percepções distorcidas da realidade — não em fatos. Com isso, a dupla ajudou a moldar o campo das finanças comportamentais. 

Eles mostraram a lógica por trás de comportamentos, seja na hora de economizar dinheiro ou de negociar ações no mercado financeiro, entre outras atitudes.  

Publicação do livro “Rápido e Devagar — Duas Formas de Pensar” 

Outra contribuição de Daniel Kahneman foi a publicação do livro “Rápido e Devagar — Duas Formas de Pensar”, em 2011. A obra aborda grande parte de suas pesquisas, incluindo as descobertas que ele fez na área da economia comportamental.  

O livro explora o funcionamento de dois sistemas de pensamento: o rápido, que é instintivo, emocional e automático, e o devagar — mais deliberado, lógico e consciente. Segundo Kahneman, muitas decisões são tomadas pelo primeiro método, o que pode levar a erros e vieses. 

A obra se tornou um best-seller mundial, sendo uma referência tanto para o público leigo quanto para especialistas em comportamento humano e finanças. Caso ainda não tenha lido o livro, não deixe de adicioná-lo à sua lista de leitura — ele tem muito a agregar ao seu trabalho como advisor. 

Carreira acadêmica 

Por fim, é válido mencionar que Daniel Kahneman foi professor em diversas universidades prestigiadas, como Harvard e Princeton. Assim, o psicólogo contribuiu com ensinamentos a diversos alunos que tiveram a oportunidade de ter aulas com ele. 

Qual é o legado de Daniel Kahneman? 

Conhecer as contribuições de Daniel Kahneman possibilita compreender melhor o legado que ele deixou. Considerado um dos pensadores mais influentes do século XX, a sua principal herança foi ter ajudado a entender que os seres humanos não são tomadores de decisão perfeitamente racionais. 

Com seus estudos e ideias, Kahneman não influenciou apenas a economia, mas também outras áreas, como a política, a medicina e os negócios em geral. Além disso, suas descobertas mudaram a maneira como economistas, investidores e consultores financeiros veem o comportamento do mercado.  

Por exemplo, com o entendimento da Teoria da Perspectiva e dos vieses cognitivos, profissionais do mercado financeiro podem ajudar seus clientes a evitar decisões impulsivas. Consequentemente, os investidores têm a chance de fazer escolhas mais embasadas na hora de alocar recursos. 

Ainda, um profissional que conhece os conceitos de Kahneman está mais apto a orientar clientes a terem uma visão realista dos riscos associados a investimentos. Dessa forma, há como ajudá-los a equilibrar seus portfólios e a reduzir as chances de perdas. 

Por fim, os ensinamentos de Kahneman ajudam profissionais do mercado financeiro a ter uma abordagem mais holística. Isso significa considerar tanto os fatores racionais quanto os emocionais ao analisar a tomada de decisões financeiras de seus clientes. 

Daniel Kahneman foi um psicólogo que proporcionou uma visão profunda e realista da natureza humana e das suas escolhas. As ideias do estudioso geraram impactos sentidos há décadas, permanecendo relevantes até hoje quando o assunto é economia comportamental. 

Gostou de saber mais sobre essa figura relevante das finanças comportamentais? Compartilhe o conteúdo em suas redes sociais! 

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