Covid-19, como o futuro aprende com o agora?
Qual a importância de levarmos para depois da quarentena os aprendizados e reflexões geradas nesse período?
Luah Galvão e Danilo España
Publicado em 26 de abril de 2020 às 23h37.
Última atualização em 26 de abril de 2020 às 23h37.
Que as comoções causadas pela pandemia global que estamos vivendo são legítimas, isso não há dúvida. Mas paira no ar um enorme questionamento sobre como iremos absorver os impactos dessa experiência de confinamento e quais serão os residuais de mudança de atitude efetivas na retomada gradual das atividades sociais.
Por todo o planeta, validamos uma preocupação comum sobre como arquitetamos e consolidamos nossos sistemas de saúde, relações sociais, ambientais e econômicas. Considero essa tomada de consciência, um primeiro passo de um movimento que precisa ser bem mais amplo, que exige decisões coletivas-globais, para que certas mudanças sejam realmente implementadas.
Desde o início da quarentena, recebi inúmeros vídeos chamando atenção para o despertar de uma nova consciência, e afirmo ser do time que acredita que todo esse processo pelo qual passamos agora, apesar de suas inúmeras mazelas, realmente nos levará a um estágio mais evoluído de compreensão da vida, das nossas relações interpessoais e também da nossa relação com o planeta. Porém, sinto a falta de debates estruturantes sobre quais seriam as mudanças mais positivamente impactantes ao passo que as medidas de isolamento começam a ser abrandadas. Falo de mudanças em relação ao meio ambiente, ao sistema econômico e ao universo do trabalho. Por enquanto há um mar de críticas sobre o que não funciona, muitas cobertas de razão mas infladas de revolta, e pouca energia de orquestração das verdadeiras ações por um mundo melhor.
Uma iniciativa que nos inspira para a importância de levar adiante reflexões geradas nesse momento de crise, é o vídeo You Clap for Me Now (Agora você me aplaude), que nasceu no Reino Unido. O roteiro, baseado no poema escrito por Darren James Smith, fala sobre a discriminação que muitos imigrantes sofrem no país, mas que por atuarem em serviços essenciais durante esse período da quarentena, passaram a ser aplaudidos e valorizados. Além do reconhecimento momentâneo, o objetivo do vídeo é estimular as pessoas a não esquecerem dessa constatação depois que o caos passar. Quem transformou o poema em um vídeo bastante impactante foi a diretora criativa Sachini Imbuldeniya, mas como ainda não tem versão legendada para o português, tomei a liberdade de traduzi-lo, assim seu teor pode ser acessado por todos.
You Clap For Me Now from Sachini Imbuldeniya on Vimeo.
AGORA VOCÊ ME APLAUDE
Então, finalmente aconteceu,
Aquilo de que você tinha medo,
Algo que vem do exterior,
E pegou seus trabalhos,
Tornou inseguro andar pelas ruas,
Manteve você preso em sua casa.
Uma doença suja,
Sua nação orgulhosa se foi.
Mas eu não. Ou eu.
Ou eu. Ou eu.
Não, você bate palmas para mim agora.
Você torce enquanto eu trabalho,
Trazendo comida para sua família,
Trazendo comida que vem do seu solo.
Apoiando seus hospitais,
Não é um invasor estrangeiro.
Entregador. Professor. Socorrista.
Não diga "vá para casa”,
Não diga "não aqui",
Você sabe como é o lar ser uma prisão,
Você sabe como é viver com medo.
Então você bate palmas para mim agora.
Todo esse amor que você está trazendo,
Mas não se esqueça quando não estiver mais quieto,
Não se esqueça quando você não puder mais ouvir os pássaros cantando,
Ou ver águas claras, que eu cruzei por você,
Para tornar vidas cheias de paz,
E trazer paz à sua vida também.
Venham todos vocês, Gretas,
Vocês Malalas,
Vocês imigrantes,
Veja o que aprendemos.
São necessários pequenos gestos apenas,
Para mudar o mundo.
Sim, agora todos estamos sensibilizados, alguns chocados e outros até abismados com tudo o que está acontecendo. Só não podemos patinar no medo de um futuro incerto, precisamos constatar de forma consciente que é necessário criarmos cada vez mais oportunidades de debate sobre os melhores caminhos. Fazendo uma analogia com a área da saúde, a psicóloga da Universidade de Medicina de Yale, Valeria Martinez-Kaigi diz, “Mudanças causadas pelo medo se provam não sustentáveis com o tempo.” Como exemplo, ela acredita que após passar o ápice da pandemia, as pessoas voltarão a lavar menos as mãos ou se preocupar menos com fazer isolamento.
Seria um desperdício deixar passar em branco o recado que recebemos com a regeneração que o planeta sofreu nesse momento de suspensão da atividade “normal" humana. Isso nos mostra o quão vital é retornar às nossas funções fortemente decididos a não mergulhar de volta no status quo anterior. Podemos simplesmente implementar uma modificação na alimentação, no consumo, dialogar com as empresas por condições mais humanas de trabalho, nos sintonizar mais com certos ritmos naturais e exigir políticas protetivas ao que nos é tão vital: a natureza.
Com esse texto, meu objetivo é incentivar e inspirar todos nós, como cidadãos e sociedade, a implementar mudanças reais pós-crise. É de um "contágio de otimismo” que precisamos para combater qualquer vírus ou qualquer desesperança. O ideal pode estar lá na frente, mas só conseguiremos nos aproximar dele, se debatermos ao menos seus contornos.
Por Danilo España
Luah Galvão e Danilo España são idealizadores do Walk and Talk.
Que as comoções causadas pela pandemia global que estamos vivendo são legítimas, isso não há dúvida. Mas paira no ar um enorme questionamento sobre como iremos absorver os impactos dessa experiência de confinamento e quais serão os residuais de mudança de atitude efetivas na retomada gradual das atividades sociais.
Por todo o planeta, validamos uma preocupação comum sobre como arquitetamos e consolidamos nossos sistemas de saúde, relações sociais, ambientais e econômicas. Considero essa tomada de consciência, um primeiro passo de um movimento que precisa ser bem mais amplo, que exige decisões coletivas-globais, para que certas mudanças sejam realmente implementadas.
Desde o início da quarentena, recebi inúmeros vídeos chamando atenção para o despertar de uma nova consciência, e afirmo ser do time que acredita que todo esse processo pelo qual passamos agora, apesar de suas inúmeras mazelas, realmente nos levará a um estágio mais evoluído de compreensão da vida, das nossas relações interpessoais e também da nossa relação com o planeta. Porém, sinto a falta de debates estruturantes sobre quais seriam as mudanças mais positivamente impactantes ao passo que as medidas de isolamento começam a ser abrandadas. Falo de mudanças em relação ao meio ambiente, ao sistema econômico e ao universo do trabalho. Por enquanto há um mar de críticas sobre o que não funciona, muitas cobertas de razão mas infladas de revolta, e pouca energia de orquestração das verdadeiras ações por um mundo melhor.
Uma iniciativa que nos inspira para a importância de levar adiante reflexões geradas nesse momento de crise, é o vídeo You Clap for Me Now (Agora você me aplaude), que nasceu no Reino Unido. O roteiro, baseado no poema escrito por Darren James Smith, fala sobre a discriminação que muitos imigrantes sofrem no país, mas que por atuarem em serviços essenciais durante esse período da quarentena, passaram a ser aplaudidos e valorizados. Além do reconhecimento momentâneo, o objetivo do vídeo é estimular as pessoas a não esquecerem dessa constatação depois que o caos passar. Quem transformou o poema em um vídeo bastante impactante foi a diretora criativa Sachini Imbuldeniya, mas como ainda não tem versão legendada para o português, tomei a liberdade de traduzi-lo, assim seu teor pode ser acessado por todos.
You Clap For Me Now from Sachini Imbuldeniya on Vimeo.
AGORA VOCÊ ME APLAUDE
Então, finalmente aconteceu,
Aquilo de que você tinha medo,
Algo que vem do exterior,
E pegou seus trabalhos,
Tornou inseguro andar pelas ruas,
Manteve você preso em sua casa.
Uma doença suja,
Sua nação orgulhosa se foi.
Mas eu não. Ou eu.
Ou eu. Ou eu.
Não, você bate palmas para mim agora.
Você torce enquanto eu trabalho,
Trazendo comida para sua família,
Trazendo comida que vem do seu solo.
Apoiando seus hospitais,
Não é um invasor estrangeiro.
Entregador. Professor. Socorrista.
Não diga "vá para casa”,
Não diga "não aqui",
Você sabe como é o lar ser uma prisão,
Você sabe como é viver com medo.
Então você bate palmas para mim agora.
Todo esse amor que você está trazendo,
Mas não se esqueça quando não estiver mais quieto,
Não se esqueça quando você não puder mais ouvir os pássaros cantando,
Ou ver águas claras, que eu cruzei por você,
Para tornar vidas cheias de paz,
E trazer paz à sua vida também.
Venham todos vocês, Gretas,
Vocês Malalas,
Vocês imigrantes,
Veja o que aprendemos.
São necessários pequenos gestos apenas,
Para mudar o mundo.
Sim, agora todos estamos sensibilizados, alguns chocados e outros até abismados com tudo o que está acontecendo. Só não podemos patinar no medo de um futuro incerto, precisamos constatar de forma consciente que é necessário criarmos cada vez mais oportunidades de debate sobre os melhores caminhos. Fazendo uma analogia com a área da saúde, a psicóloga da Universidade de Medicina de Yale, Valeria Martinez-Kaigi diz, “Mudanças causadas pelo medo se provam não sustentáveis com o tempo.” Como exemplo, ela acredita que após passar o ápice da pandemia, as pessoas voltarão a lavar menos as mãos ou se preocupar menos com fazer isolamento.
Seria um desperdício deixar passar em branco o recado que recebemos com a regeneração que o planeta sofreu nesse momento de suspensão da atividade “normal" humana. Isso nos mostra o quão vital é retornar às nossas funções fortemente decididos a não mergulhar de volta no status quo anterior. Podemos simplesmente implementar uma modificação na alimentação, no consumo, dialogar com as empresas por condições mais humanas de trabalho, nos sintonizar mais com certos ritmos naturais e exigir políticas protetivas ao que nos é tão vital: a natureza.
Com esse texto, meu objetivo é incentivar e inspirar todos nós, como cidadãos e sociedade, a implementar mudanças reais pós-crise. É de um "contágio de otimismo” que precisamos para combater qualquer vírus ou qualquer desesperança. O ideal pode estar lá na frente, mas só conseguiremos nos aproximar dele, se debatermos ao menos seus contornos.
Por Danilo España
Luah Galvão e Danilo España são idealizadores do Walk and Talk.