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Yuval Harari põe o dedo na ferida da desinformação

Escritor israelense acaba de lançar "Nexus: uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à IA"

Livro do escritor israelense (Companhia das Letras/Divulgação)

Publicado em 4 de setembro de 2024 às 12h31.

O escritor israelense Yuval Harari acaba de lançar um novo livro (“Nexus: uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial") e, para promovê-lo, concedeu uma série de entrevistas a jornais de todo o mundo. A “Folha de S. Paulo” foi um dos veículos escolhidos e publicou ontem uma conversa com o professor de História da Universidade Hebraica de Jerusalém.

O colóquio entre Harari e a jornalista Patricia Campos Mello concentrou-se em IA, mas um trecho em especial chama a atenção, por explicar perfeitamente o nosso comportamento em plena era digital, em especial a nossa predileção por passar adiante as chamadas fake news.

Este é o trecho:

“Informação não é conhecimento. A maior parte da informação é lixo. Conhecimento é um tipo raro e caro de informação. Por exemplo, é fácil inventar uma fake news atraente – você simplesmente escreve o que quiser. Mas é difícil escrever uma reportagem verdadeira, porque pesquisar e apurar é caro. E a notícia verdadeira que você produz atrairá menos atenção que a fake news, porque a verdadeira tende a ser complicada e as pessoas não gostam de histórias complicadas.

Podemos comparar informação com comida. Há cem anos, a comida era escassa. Então, os humanos comiam qualquer coisa que encontrassem, gostavam especialmente de comida com muita gordura e açúcar. Hoje, a comida é abundante e somos inundados por “junk food”, artificialmente rica em gordura e açúcar. Se as pessoas comem muito lixo, ficam doentes.

O mesmo vale para a informação, que é o alimento da mente. Estamos inundados por muita informação lixo. A informação lixo é artificialmente cheia de ganância, ódio e medo – coisas que atraem nossa atenção. Essa informação lixo deixa nossas mentes e sociedades doentes. Precisamos de uma dieta de informação”.

Vamos explorar um pouco essa metáfora: se alguém se alimentar apenas de “junk food”, caminhará célere para a obesidade e seus efeitos colaterais, como pressão alta, cardiopatia ou diabetes. Talvez, se consumirmos apenas a chamada informação lixo, nossa mente poderá sofrer as consequências de absorver apenas palavras com alto teor de idiotia ou preconceito.

Em um estado de sedentarismo mental, essa pessoa poderá enfrentar os sintomas de uma obesidade dentro de suas ondas cerebrais. Vamos dizer que os músculos do cérebro sejam a inteligência. Sem nenhum treino frequente ou alimentação saudável, as nossas mentes vão entrar em letargia e os sinais de vida inteligente vão escassear.

O que faz nossas mentes treinarem? A leitura e o debate. Mas se ficarmos conversando somente com gente que pensa igual a nós, deixaremos nossos cérebros sedentários. Discutir é chato, argumentar com gente agressiva é pior ainda. Mas precisamos exercitar nossas mentes, através da leitura e do debate. Sem isso, vamos interromper a nossa evolução e colocar a civilização em estado de retrocesso.

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O escritor israelense Yuval Harari acaba de lançar um novo livro (“Nexus: uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial") e, para promovê-lo, concedeu uma série de entrevistas a jornais de todo o mundo. A “Folha de S. Paulo” foi um dos veículos escolhidos e publicou ontem uma conversa com o professor de História da Universidade Hebraica de Jerusalém.

O colóquio entre Harari e a jornalista Patricia Campos Mello concentrou-se em IA, mas um trecho em especial chama a atenção, por explicar perfeitamente o nosso comportamento em plena era digital, em especial a nossa predileção por passar adiante as chamadas fake news.

Este é o trecho:

“Informação não é conhecimento. A maior parte da informação é lixo. Conhecimento é um tipo raro e caro de informação. Por exemplo, é fácil inventar uma fake news atraente – você simplesmente escreve o que quiser. Mas é difícil escrever uma reportagem verdadeira, porque pesquisar e apurar é caro. E a notícia verdadeira que você produz atrairá menos atenção que a fake news, porque a verdadeira tende a ser complicada e as pessoas não gostam de histórias complicadas.

Podemos comparar informação com comida. Há cem anos, a comida era escassa. Então, os humanos comiam qualquer coisa que encontrassem, gostavam especialmente de comida com muita gordura e açúcar. Hoje, a comida é abundante e somos inundados por “junk food”, artificialmente rica em gordura e açúcar. Se as pessoas comem muito lixo, ficam doentes.

O mesmo vale para a informação, que é o alimento da mente. Estamos inundados por muita informação lixo. A informação lixo é artificialmente cheia de ganância, ódio e medo – coisas que atraem nossa atenção. Essa informação lixo deixa nossas mentes e sociedades doentes. Precisamos de uma dieta de informação”.

Vamos explorar um pouco essa metáfora: se alguém se alimentar apenas de “junk food”, caminhará célere para a obesidade e seus efeitos colaterais, como pressão alta, cardiopatia ou diabetes. Talvez, se consumirmos apenas a chamada informação lixo, nossa mente poderá sofrer as consequências de absorver apenas palavras com alto teor de idiotia ou preconceito.

Em um estado de sedentarismo mental, essa pessoa poderá enfrentar os sintomas de uma obesidade dentro de suas ondas cerebrais. Vamos dizer que os músculos do cérebro sejam a inteligência. Sem nenhum treino frequente ou alimentação saudável, as nossas mentes vão entrar em letargia e os sinais de vida inteligente vão escassear.

O que faz nossas mentes treinarem? A leitura e o debate. Mas se ficarmos conversando somente com gente que pensa igual a nós, deixaremos nossos cérebros sedentários. Discutir é chato, argumentar com gente agressiva é pior ainda. Mas precisamos exercitar nossas mentes, através da leitura e do debate. Sem isso, vamos interromper a nossa evolução e colocar a civilização em estado de retrocesso.

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