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Tarcísio cresce e é cutucado por Ricardo Salles

Será que a direita está passando por uma crise de ciúmes?

Tarcísio Freitas, governador de São Paulo (Amanda Perobelli/Reuters)
Tarcísio Freitas, governador de São Paulo (Amanda Perobelli/Reuters)

Pode-se dizer tudo do governador Tarcísio Freitas, mas não se pode acusá-lo de infidelidade política. Ele foi lançado ao governo de São Paulo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e, sempre que pode, reconhece esse apadrinhamento eleitoral. Desde que foi eleito, esteve algumas vezes com Bolsonaro e fez questão de elogiá-lo. Em junho, inclusive, o governador hospedou o ex-presidente no Palácio dos Bandeirantes.

Mas, depois que o Tribunal Superior Eleitoral tornou Jair Bolsonaro inelegível pelos próximos oito anos, a briga pelo espólio eleitoral da direita pegou fogo. O primeiro a atirar sua pedra foi o deputado Ricardo Salles. Ele, que teve sua candidatura à prefeitura paulistana vetada por seu partido (PL), já tinha dito que era “mais fácil fazer estrada do que combater a esquerda”, em uma alfinetada clara ao seu ex-colega de ministério.

Depois, Salles foi mais direto: “Se tem um lugar no Brasil sem governo de direita, é São Paulo”. E foi adiante. “Nós não queremos e não seremos representados por alguém que se diz de direita e depois, na hora de governar o Estado para o qual foi designado pelo presidente, não governa como alguém de direita. Acabou essa brincadeira”, afirmou.

Uma das razões para o desconforto de Salles é a disposição de Tarcísio em apoiar a reforma tributária, aprovada ontem na Câmara Federal, e seu interesse em negociar determinados tópicos do texto. A expectativa de Bolsonaro e boa parte de seus apoiadores era, no entanto, bombardear o projeto – a intenção, inclusive, seria colocar os 99 deputados do PL para votar contra a reforma (vinte, porém, votaram a favor).

O perfil pragmático e contemporizador de Tarcísio – alguém que teoricamente seria um técnico de formação – surpreendeu boa parte do núcleo duro bolsonarista, que esperava fazer do Palácio dos Bandeirantes uma espécie de quartel general de oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, como o plano inicial do governador era ficar oito anos comandando o estado, ele nunca bateu irremediavelmente de frente contra o Planalto. E chamou para auxiliá-lo no campo das negociações partidárias um legítimo representante das antigas raposas felpudas da política: o ex-ministro e ex-prefeito Gilberto Kassab.

Será que a direita está passando por uma crise de ciúmes?

O presidente do Republicanos – partido de Tarcísio –, Marcos Pereira, entrou ontem na ribalta sem papas na língua. Ele já tinha criticado o ex-presidente no início do ano, por conta da longa estada do ex-mandatário em Orlando. Ontem, ele voltou a abrir fogo: “Bolsonaro pode estar preocupado em perder protagonismo para Tarcísio. Ele sempre será um líder, mas o Brasil quer alguém mais ao centro, não de extremos”.

Bolsonaro não tem – pelos menos por enquanto – como concorrer às próximas eleições presidenciais. Por isso, não tem outra alternativa a não ser apoiar alguém. E Tarcísio pode ser este nome. Ele deve se sentir incomodado com a popularidade do governador paulista – mas seus assessores mais próximos, incluindo os filhos, estão mais incomodados que ele.

Dentro desse contexto, a figura de Ricardo Salles se destaca, até por ser um legítimo representante do bolsonarismo e dos eleitores mais radicais da direita. Mas pessoas próximas ao governador acreditam que o motivo do ex-ministro seja passional e esteja relacionado com o fato de Bolsonaro ter escolhido Tarcísio – e não ele – para disputar o Bandeirantes representando o governo federal. Além disso, a mágoa aumentou quando Tarcísio não trabalhou pela pré-candidatura do deputado à prefeitura de São Paulo. “Não é ciúme”, diz um amigo do governador, sobre a ira de Ricardo Salles. “É vingança mesmo”.