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¿Por qué no te callas, Maduro?

Dias atrás, presidente da Venezuela havia dito que sua derrota nas próximas eleições poderia causar um “banho de sangue” no país

(Miguel Gutiérrez/EFE)

Publicado em 25 de julho de 2024 às 12h31.

“¿Por qué no te callas?”. O ano era 2007 e o monarca espanhol Juan Carlos I ouvia uma intervenção do então primeiro-ministro da Espanha, José Luiz Zapatero. Só que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o interrompia com frequência, chegando depois a chamá-lo de “fascista”. Irritado, Juan Carlos mandou o venezuelano calar a boca. Diante das idiotices proferidas pelo sucessor de Chávez, o ditador Nicolás Maduro, talvez fosse o caso de o rei da Espanha interromper seu autoexílio em Abu Dhabi e repetir a frase que tanto ficou famosa ao presidente venezuelano da atualidade.

Dias atrás, Maduro havia dito que sua derrota nas próximas eleições poderia causar um “banho de sangue” no país – um sinal claro de que não respeitaria o resultado das urnas e que iria endurecer o regime que controla com mão de ferro. Em um primeiro momento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou quieto depois de ouvir a afirmação de seu colega venezuelano. E permaneceu quieto por um bom período, o que deu margem a comentários de que Lula estava pegando leve com Maduro por conta de uma afinidade ideológica entre os dois.

Nesta semana, porém, Lula disse que iria enviar Celso Amorim, seu assessor especial para assuntos internacionais, ao país vizinho com o intuito de acompanhar as eleições presidenciais marcadas para domingo. E que tinha se “assustado” com as declarações sobre “banho de sangue”. “Se o Maduro quiser contribuir para resolver a volta do crescimento na Venezuela, a volta das pessoas que saíram da Venezuela e estabelecer um Estado de crescimento econômico, ele tem que respeitar o processo democrático”, opinou Lula.

Com a desfaçatez comum aos ditadores, Maduro se irritou com o que Lula havia dito. E, sem citar o nome do presidente brasileiro, mandou a seguinte cutucada: “Quem se assustou, que tome um chá de camomila”.

Mas o tirano não ficou por aí.

Afirmou que a Venezuela tinha “o melhor sistema eleitoral do mundo”, que conta com 16 auditorias. E aproveitou para cutucar Lula. “Em que outra parte do mundo fazem isso? Nos Estados Unidos? O sistema eleitoral é auditável? No Brasil? Não auditam nenhuma ata. Na Colômbia? Não auditam nenhuma ata”, declarou o déspota.

Impressionante como funciona a cara de pau do presidente venezuelano. Mas a fala de Maduro não deixa de trazer em si uma enorme ironia. Afinal, é exatamente essa a tese defendida no Brasil pelos bolsonaristas mais extremados, que até hoje contestam o sistema eleitoral brasileiro. Quem diria que eles teriam algo em comum com Nicolás Maduro?

Ocorre que as eleições brasileiras são auditáveis e as urnas eletrônicas podem ser conferidas uma a uma. No entanto, a Constituição estabelece que o voto deve ser secreto. Por isso, na lista de sufrágios, não consta o nome dos eleitores – e sim um código individual, gerado no momento do voto. Por conta deste detalhe, os críticos do sistema (que agora têm a companhia de um opressor de esquerda) passaram a trabalhar a teoria de que não há como fazer auditoria nas urnas, o que não é verdade.

Maduro, segundo algumas pesquisas, pode perder a eleição (outras enquetes, no entanto, dizem o contrário). Até o resultado oficial, haverá tensão na América Latina. A pergunta que não quer calar é: o que Lula fará no caso de uma vitória forjada de Maduro? Ou de um golpe de Estado?

O presidente brasileiro já sinalizou que não está tão próximo do companheiro de outrora. Irá romper se ele não respeitar a democracia? Teremos uma resposta a essa dúvida em breve, ainda na noite do próximo domingo.

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“¿Por qué no te callas?”. O ano era 2007 e o monarca espanhol Juan Carlos I ouvia uma intervenção do então primeiro-ministro da Espanha, José Luiz Zapatero. Só que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o interrompia com frequência, chegando depois a chamá-lo de “fascista”. Irritado, Juan Carlos mandou o venezuelano calar a boca. Diante das idiotices proferidas pelo sucessor de Chávez, o ditador Nicolás Maduro, talvez fosse o caso de o rei da Espanha interromper seu autoexílio em Abu Dhabi e repetir a frase que tanto ficou famosa ao presidente venezuelano da atualidade.

Dias atrás, Maduro havia dito que sua derrota nas próximas eleições poderia causar um “banho de sangue” no país – um sinal claro de que não respeitaria o resultado das urnas e que iria endurecer o regime que controla com mão de ferro. Em um primeiro momento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou quieto depois de ouvir a afirmação de seu colega venezuelano. E permaneceu quieto por um bom período, o que deu margem a comentários de que Lula estava pegando leve com Maduro por conta de uma afinidade ideológica entre os dois.

Nesta semana, porém, Lula disse que iria enviar Celso Amorim, seu assessor especial para assuntos internacionais, ao país vizinho com o intuito de acompanhar as eleições presidenciais marcadas para domingo. E que tinha se “assustado” com as declarações sobre “banho de sangue”. “Se o Maduro quiser contribuir para resolver a volta do crescimento na Venezuela, a volta das pessoas que saíram da Venezuela e estabelecer um Estado de crescimento econômico, ele tem que respeitar o processo democrático”, opinou Lula.

Com a desfaçatez comum aos ditadores, Maduro se irritou com o que Lula havia dito. E, sem citar o nome do presidente brasileiro, mandou a seguinte cutucada: “Quem se assustou, que tome um chá de camomila”.

Mas o tirano não ficou por aí.

Afirmou que a Venezuela tinha “o melhor sistema eleitoral do mundo”, que conta com 16 auditorias. E aproveitou para cutucar Lula. “Em que outra parte do mundo fazem isso? Nos Estados Unidos? O sistema eleitoral é auditável? No Brasil? Não auditam nenhuma ata. Na Colômbia? Não auditam nenhuma ata”, declarou o déspota.

Impressionante como funciona a cara de pau do presidente venezuelano. Mas a fala de Maduro não deixa de trazer em si uma enorme ironia. Afinal, é exatamente essa a tese defendida no Brasil pelos bolsonaristas mais extremados, que até hoje contestam o sistema eleitoral brasileiro. Quem diria que eles teriam algo em comum com Nicolás Maduro?

Ocorre que as eleições brasileiras são auditáveis e as urnas eletrônicas podem ser conferidas uma a uma. No entanto, a Constituição estabelece que o voto deve ser secreto. Por isso, na lista de sufrágios, não consta o nome dos eleitores – e sim um código individual, gerado no momento do voto. Por conta deste detalhe, os críticos do sistema (que agora têm a companhia de um opressor de esquerda) passaram a trabalhar a teoria de que não há como fazer auditoria nas urnas, o que não é verdade.

Maduro, segundo algumas pesquisas, pode perder a eleição (outras enquetes, no entanto, dizem o contrário). Até o resultado oficial, haverá tensão na América Latina. A pergunta que não quer calar é: o que Lula fará no caso de uma vitória forjada de Maduro? Ou de um golpe de Estado?

O presidente brasileiro já sinalizou que não está tão próximo do companheiro de outrora. Irá romper se ele não respeitar a democracia? Teremos uma resposta a essa dúvida em breve, ainda na noite do próximo domingo.

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