O mercado desconfia da política econômica — e tem razões para isso
98% dos entrevistados acreditam que a política econômica do governo está na direção errada
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2023 às 19h21.
O fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, adiantou em 15 de fevereiro, no evento CEO Conference, realizado pelo BTG Pactual, a principal razão pela qual os juros estão em um patamar tão alto: “Ninguém tem coragem de dizer ao ministro [Fernando] Haddad que não sente segurança fiscal no que está sendo proposto. Este é o motivo, não a meta de inflação”, cutucou.
Haddad tinha acabado de chegar ao salão e, sentado na primeira fila, ouviu o recado. O que talvez o ministro da Fazenda não esperasse foi a reação da plateia: uma explosão de palmas, referendando a opinião de Xavier.
Ontem, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Quaest mostrou que o fundador da SPX estava coberto de razão. O estudo, feito entre economistas, gestores de fundos de investimento e analistas de mercado, mostra que 98% dos entrevistados acreditam que a política econômica do governo está na direção errada. Para 90% destes executivos, ainda, a política fiscal do governo não deve gerar sustentabilidade da dívida pública.
Isso não quer dizer que os representantes do mercado condenem necessariamente as altas taxas de juros – para eles, isso é atribuição do Banco Central. E, falando em BC, 68 % dos ouvidos dizem confiar muito em Roberto Campos Neto, o presidente do Bacen. Portanto, a desconfiança do mercado financeiro está mesmo em torno da capacidade do governo em segurar suas despesas e não romper o teto de gastos públicos.
Talvez ainda seja cedo para julgar a política econômica em si, já que ainda não se sabe qual será o novo arcabouço fiscal do país e as regras da reforma tributária. E provavelmente esses agentes do mercado estejam contaminados pela polarização política, rejeitando a nova administração com veemência. Mesmo assim, a desconfiança em relação à disposição petista de gastar de forma irresponsável tem sua razão de ser, a julgar pelas declarações da presidente do partido, Gleisi Hoffman, e do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Além disso, a lembrança dos seis anos de Dilma Rousseff ainda está nítida na memória de quem atua no mercado financeiro – e existe o temor de que o terceiro mandato de Lula enverede pelos caminhos da heterodoxia.
Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva foi muito mal avaliado na pesquisa (90 % veem de forma negativa o trabalho do presidente e 10 % como regular), Fernando Haddad aparece com números razoáveis: 10% acham seu trabalho positivo; 52%, regular; e 38%, negativo. Isso confirma a tese de que os representantes do mercado enxergam o ministro da Fazenda como um beque em relação a eventuais medidas heterodoxas na economia.
Essa visão pessimista em relação à economia, porém, só será revertida com sinais muito explícitos de que o governo irá respeitar a autonomia do Banco Central e adotar medidas que possam enxugar as desconfianças de que os recursos públicos serão utilizados com parcimônia. O ministro Haddad está sintonizado com o mercado, mas não é a única força vetorial dentro da administração pública. Além de apresentar propostas ortodoxas, Haddad terá de mostrar que venceu a queda de braço com os economistas progressistas do PT. Se isso não ficar bastante claro, as próximas pesquisas vão continuar a apontar níveis altíssimos de desconfiança e descontentamento.
O fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, adiantou em 15 de fevereiro, no evento CEO Conference, realizado pelo BTG Pactual, a principal razão pela qual os juros estão em um patamar tão alto: “Ninguém tem coragem de dizer ao ministro [Fernando] Haddad que não sente segurança fiscal no que está sendo proposto. Este é o motivo, não a meta de inflação”, cutucou.
Haddad tinha acabado de chegar ao salão e, sentado na primeira fila, ouviu o recado. O que talvez o ministro da Fazenda não esperasse foi a reação da plateia: uma explosão de palmas, referendando a opinião de Xavier.
Ontem, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Quaest mostrou que o fundador da SPX estava coberto de razão. O estudo, feito entre economistas, gestores de fundos de investimento e analistas de mercado, mostra que 98% dos entrevistados acreditam que a política econômica do governo está na direção errada. Para 90% destes executivos, ainda, a política fiscal do governo não deve gerar sustentabilidade da dívida pública.
Isso não quer dizer que os representantes do mercado condenem necessariamente as altas taxas de juros – para eles, isso é atribuição do Banco Central. E, falando em BC, 68 % dos ouvidos dizem confiar muito em Roberto Campos Neto, o presidente do Bacen. Portanto, a desconfiança do mercado financeiro está mesmo em torno da capacidade do governo em segurar suas despesas e não romper o teto de gastos públicos.
Talvez ainda seja cedo para julgar a política econômica em si, já que ainda não se sabe qual será o novo arcabouço fiscal do país e as regras da reforma tributária. E provavelmente esses agentes do mercado estejam contaminados pela polarização política, rejeitando a nova administração com veemência. Mesmo assim, a desconfiança em relação à disposição petista de gastar de forma irresponsável tem sua razão de ser, a julgar pelas declarações da presidente do partido, Gleisi Hoffman, e do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Além disso, a lembrança dos seis anos de Dilma Rousseff ainda está nítida na memória de quem atua no mercado financeiro – e existe o temor de que o terceiro mandato de Lula enverede pelos caminhos da heterodoxia.
Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva foi muito mal avaliado na pesquisa (90 % veem de forma negativa o trabalho do presidente e 10 % como regular), Fernando Haddad aparece com números razoáveis: 10% acham seu trabalho positivo; 52%, regular; e 38%, negativo. Isso confirma a tese de que os representantes do mercado enxergam o ministro da Fazenda como um beque em relação a eventuais medidas heterodoxas na economia.
Essa visão pessimista em relação à economia, porém, só será revertida com sinais muito explícitos de que o governo irá respeitar a autonomia do Banco Central e adotar medidas que possam enxugar as desconfianças de que os recursos públicos serão utilizados com parcimônia. O ministro Haddad está sintonizado com o mercado, mas não é a única força vetorial dentro da administração pública. Além de apresentar propostas ortodoxas, Haddad terá de mostrar que venceu a queda de braço com os economistas progressistas do PT. Se isso não ficar bastante claro, as próximas pesquisas vão continuar a apontar níveis altíssimos de desconfiança e descontentamento.