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Haja lexotan: pedidos de recuperação batem recorde

Nunca houve tantos processos de recuperação judicial como em 2024

 (Michał Chodyra/Getty Images)

(Michał Chodyra/Getty Images)

Publicado em 30 de janeiro de 2025 às 15h36.

Os jornais de ontem trouxeram duas notícias importantes, ambas sobre recordes estabelecidos há pouco. Uma dizia respeito a uma arrecadação federal inédita em 2024, que chegou ao patamar de R$ 2,65 trilhões (uma alta de 9,62% em relação a 2023). A outra tinha como assunto o número de pedidos de recuperação judicial registrados no ano passado: 2.273, o maior de toda a série histórica.

Geralmente, um crescimento sem precedentes na arrecadação do governo significa que a economia está bombando. Mas como explicar que, ao mesmo tempo, tantas empresas estão abrindo o bico e pedindo RJ?

Há algumas explicações para este fenômeno, que se assemelha a um dia de sol que apresenta nuvens carregadas de chuva no horizonte. O vento pode levar o mau tempo para outro lugar – ou trazer a tempestade diretamente para onde estamos.

Embora os índices macroeconômicos ainda mostrem pujança, muitas empresas estão em dificuldades. Isso pode ser explicado pelos juros altos, que estrangula o caixa das companhias, que já estava prejudicado com a redução na oferta geral de crédito. A perspectiva para os próximos meses, diante deste cenário, pode ser preocupante, uma vez que o Banco Central deve continuar seu processo de aumento de taxas para combater a inflação.

Mas há um detalhe interessante nos índices divulgados pelo Serasa Experian. Cerca de 40% dos pedidos de recuperação são de empresas de serviços. Isso quer dizer que os resultados da economia podem ser creditados ao consumo forte, impulsionado pelo fortalecimento da massa salarial e a redução do desemprego. Isso não quer dizer, contudo, que a vida esteja fácil para todos os setores. No universo business to business, por exemplo, há dificuldade em determinados mercados.

Os juros altos também provocaram inadimplência – o que se transforma em uma bola de neve no mercado. Segundo a Serasa, são 6,9 milhões de empresas inadimplentes no país, um número que não se via desde agosto de 2021, quando ainda vivíamos o rescaldo da pandemia.

Este cenário é inquietante para o próprio governo, pois empresas que não pagam empréstimos também atrasam suas obrigações com tributos municipais, estaduais e federais. Se o governo continuar em sua sanha arrecadatória, pressionando os inadimplentes a pagar impostos atrasados, pode gerar uma onda de quebradeiras ainda maior (949 empresas tiveram a falência decretada em 2024).

O maior risco, no entanto, é a combinação entre a possibilidade de uma crise econômica e a queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula pode se sentir acuado e tentar emplacar medidas populistas que terão efeitos perniciosos no futuro, a exemplo das decisões adotadas por Dilma Rousseff para tentar manter a economia em alta durante seus mandatos.

Neste momento, ninguém pode prever com certeza o que pode acontecer daqui para frente. Mas, em fevereiro, alguns sinais podem já se consolidar para que tenhamos uma visão um pouco melhor deste 2025 que se inicia. Vamos esperar um pouco, portanto, para termos uma discussão menos especulativa.

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