Exame Logo

Foi um debate ou desfile de direitos de resposta?

Apesar das regras que amarram o embate entre candidatos, o debate de ontem mostrou uma sequência de direitos de respostas

Os candidatos Jair Bolsonaro (PL), Padre Kelmon (PTB), Luiz Felipe D’Ávila (NOVO), Soraya Thronicke (União Brasil), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) no estúdio da TV Globo. (Globo/Fabio Rocha/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2022 às 17h54.

O debate eleitoral começou pontualmente às 22:30. O clima nos bastidores era expectativa. Afinal, muitos analistas políticos diziam que o presidente Jair Bolsonaro estava furioso com a investigação em torno dos gastos pessoais da primeira-dama Michelle (cujas informações teriam sido vazadas à imprensa pelo ministro Alexandre de Moraes, segundo o Planalto). Uma outra grande preocupação dos assessores presidenciais era o documento elaborado pelo Partido Liberal, publicado pela revista Veja, que mais uma vez levantou dúvidas quanto à lisura do processo eleitoral eletrônico. A inquietação era em relação à eventual reação do presidente à uma pergunta sobre o assunto. Mas, no final, ninguém tocou em nenhum desses pontos.

Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva e os demais candidatos tiraram a tarde para se preparar para o debate, Bolsonaro dispensou qualquer tipo de treinamento, alegando que já tinha todas as informações necessárias para o programa de TV. Ocorre que esse tipo de preparação é importante para que o debatedor consiga antecipar perguntas difíceis e ouça orientações sobre como proceder em situações complicadas. O presidente preferiu ignorar essas precauções. Mas, como esse debate é o último antes da eleição em primeiro turno, pode-se comparar o mandatário a um time de futebol que entrou em campo sem treinar para uma partida importante.

Bolsonaro agiu como sempre, lacrando quando podia e batendo forte em Lula, que ficou no centro da ribalta logo no início. Ciro Gomes foi na mesma linha e foi o primeiro a inquirir o ex-presidente. Perguntou sobre a concentração de riqueza e endividamento das famílias que teria surgido nos governos do PT. Lula rebateu com o aumento da renda, de emprego e dos programas sociais – mas com um tom agressivo. Recuperou a calma e alfinetou: “estou achando você nervoso”, disse. “Você saiu do meu governo para ser deputado, mas eu queria que fosse para o BNDES”.

Apesar das regras que amarram o embate entre candidatos, o debate de ontem mostrou uma sequência de direitos de respostas – a maioria distribuída entre Lula e Bolsonaro. Essa cadeia de respostas tirou o tom modorrento desse tipo de programa e deu ânimo aos telespectadores. Os termos “mentiroso” e “ex-presidiário” foram bastante utilizados nesses momentos.

A impressão que se teve foi a de que Lula saiu da retranca e foi para o ataque. Adotou um estilo mais agressivo e bateu duro quando Padre Kelmon o atacou, dizendo que o oponente não era clérigo e que “estava fantasiado” (em nota divulgada no último dia 14, por sinal, a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil afirmou que o petebista não tem ligações com organizações ortodoxas presentes no Brasil). Lula também chamou o ex-presidente Michel Temer de “golpista” e expôs indignação quando foi confrontado com a acusação de ser mandante do assassinato do ex-prefeito Celso Daniel.

Simone Tebet, que teve uma boa participação, conseguiu resumir bem o espírito deste debate: uma sequência de ataques mútuos entre os candidatos que estão no topo das pesquisas. “Se um for eleito, não vai deixar o outro governar”, disse.

Mudou alguma coisa? Esse debate conseguiu transformar o voto de algum telespectador? Dificilmente. Talvez tenha sensibilizado alguns indecisos a aderir a Simone Tebet – mas esse movimento tem a possibilidade de ser neutralizado pelos partidários do voto útil que podem abandonar o seu barco e o de Ciro Gomes.

Esse debate, embora mais agitado, também não teve muito espaço dedicado a propostas efetivas de governo. Mais uma vez perdemos a oportunidade de discutir propostas de governo e falar sobre o futuro de uma nação.

Neste domingo, exerça seu direito e vote. Participe dessa festa da democracia.

Veja também

O debate eleitoral começou pontualmente às 22:30. O clima nos bastidores era expectativa. Afinal, muitos analistas políticos diziam que o presidente Jair Bolsonaro estava furioso com a investigação em torno dos gastos pessoais da primeira-dama Michelle (cujas informações teriam sido vazadas à imprensa pelo ministro Alexandre de Moraes, segundo o Planalto). Uma outra grande preocupação dos assessores presidenciais era o documento elaborado pelo Partido Liberal, publicado pela revista Veja, que mais uma vez levantou dúvidas quanto à lisura do processo eleitoral eletrônico. A inquietação era em relação à eventual reação do presidente à uma pergunta sobre o assunto. Mas, no final, ninguém tocou em nenhum desses pontos.

Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva e os demais candidatos tiraram a tarde para se preparar para o debate, Bolsonaro dispensou qualquer tipo de treinamento, alegando que já tinha todas as informações necessárias para o programa de TV. Ocorre que esse tipo de preparação é importante para que o debatedor consiga antecipar perguntas difíceis e ouça orientações sobre como proceder em situações complicadas. O presidente preferiu ignorar essas precauções. Mas, como esse debate é o último antes da eleição em primeiro turno, pode-se comparar o mandatário a um time de futebol que entrou em campo sem treinar para uma partida importante.

Bolsonaro agiu como sempre, lacrando quando podia e batendo forte em Lula, que ficou no centro da ribalta logo no início. Ciro Gomes foi na mesma linha e foi o primeiro a inquirir o ex-presidente. Perguntou sobre a concentração de riqueza e endividamento das famílias que teria surgido nos governos do PT. Lula rebateu com o aumento da renda, de emprego e dos programas sociais – mas com um tom agressivo. Recuperou a calma e alfinetou: “estou achando você nervoso”, disse. “Você saiu do meu governo para ser deputado, mas eu queria que fosse para o BNDES”.

Apesar das regras que amarram o embate entre candidatos, o debate de ontem mostrou uma sequência de direitos de respostas – a maioria distribuída entre Lula e Bolsonaro. Essa cadeia de respostas tirou o tom modorrento desse tipo de programa e deu ânimo aos telespectadores. Os termos “mentiroso” e “ex-presidiário” foram bastante utilizados nesses momentos.

A impressão que se teve foi a de que Lula saiu da retranca e foi para o ataque. Adotou um estilo mais agressivo e bateu duro quando Padre Kelmon o atacou, dizendo que o oponente não era clérigo e que “estava fantasiado” (em nota divulgada no último dia 14, por sinal, a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil afirmou que o petebista não tem ligações com organizações ortodoxas presentes no Brasil). Lula também chamou o ex-presidente Michel Temer de “golpista” e expôs indignação quando foi confrontado com a acusação de ser mandante do assassinato do ex-prefeito Celso Daniel.

Simone Tebet, que teve uma boa participação, conseguiu resumir bem o espírito deste debate: uma sequência de ataques mútuos entre os candidatos que estão no topo das pesquisas. “Se um for eleito, não vai deixar o outro governar”, disse.

Mudou alguma coisa? Esse debate conseguiu transformar o voto de algum telespectador? Dificilmente. Talvez tenha sensibilizado alguns indecisos a aderir a Simone Tebet – mas esse movimento tem a possibilidade de ser neutralizado pelos partidários do voto útil que podem abandonar o seu barco e o de Ciro Gomes.

Esse debate, embora mais agitado, também não teve muito espaço dedicado a propostas efetivas de governo. Mais uma vez perdemos a oportunidade de discutir propostas de governo e falar sobre o futuro de uma nação.

Neste domingo, exerça seu direito e vote. Participe dessa festa da democracia.

Acompanhe tudo sobre:EleiçõesEleições 2022Política

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se