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Direita é uma coisa; liberalismo é outra

Aluizio Falcão Filho comenta sobre os principais pontos discutidos o terceiro Fórum Econômico do Money Report

Economia: confira a nova coluna de Aluizio Falcão Filho. (RafaPress/Getty Images)

Publicado em 30 de junho de 2023 às 11h17.

Ontem, MONEY REPORT realizou o seu terceiro Fórum Econômico, no qual discutimos tendências macroeconômicas (com Mansueto de Almeida, do BTG Pactual e Felipe Miranda, da Empiricus) e cenário político com a cientista política Cila Schulman, CEO do Instituto IDEIA. No meio de sua apresentação, Cila contou que realizou um estudo chamado Zeitgeist, em parceria com o Instituto Locomotiva. A intenção da pesquisa foi mapear os pensamentos e conceitos dos eleitores de esquerda e de direita no Brasil. Uma das principais conclusões deste estudo é que a maioria dos entrevistados, de ambos os quadrantes ideológicos, acham que o Estado deve prover mais serviços em áreas como educação e suporte social. E as duas facções acreditam que o governo deveria intervir no Banco Central e baixar os juros – apesar de a independência do BC ser garantida pela lei.

Mas, diante dessa pesquisa, podemos chegar a três conclusões em relação à direita brasileira.

A primeira é a de que os conceitos defendidos pelos direitistas não são necessariamente econômicos – assim como na Europa, a direita é definida mais pela xenofobia do que pelo apreço às teses de Adam Smith. Os eleitores de direita se diferenciam basicamente dos de esquerda em três tópicos: opinião sobre o Supremo Tribunal Federal, urnas eletrônicas e militares no poder.

A direita execra a maioria dos ministros do STF e suas decisões de maneira geral; não acredita na segurança das urnas eletrônicas e na inviolabilidade do processo eleitoral; por fim, apoiam e estimulam a presença de oficiais das Forças Armadas na administração Federal. Obviamente, os esquerdistas pensam de forma exatamente contrária em relação a esses tópicos.

A segunda conclusão é a de que existe uma diferença entre direitistas e bolsonaristas. Este último grupo é mais radical em suas opiniões e é mais articulado. Nem todos os direitistas vão às ruas para protestar, mas a maioria dos bolsonaristas se sentem impelidos a protestar em público diante de temas que os afligem.

Por fim, é preciso riscar uma linha separando direita e liberalismo. Todos os liberais são de direita, mas nem todos os direitistas são liberais. Quando muitos eleitores conservadores apontam que o governo deve ter maior presença estatal e que deve intervir no Bacen para promover uma queda de juros na marra, é sinal de que temos um software de direita rodando em um hardware de esquerda.

O liberalismo promove um conceito básico: a conjunção entre maior liberdade econômica e estado menor, com condições de cobrar menos impostos. Há, porém, eleitores da direita que acreditam em um capitalismo bombado pelas mãos estatais, como foi feito durante os tempos de governo militar. Não é à toa, portanto, que em várias manifestações direitistas, temos as indefectíveis faixas que pedem a volta da ditadura militar.

A diferença pode ser representada se compararmos o ex-ministro Paulo Guedes e o falecido escritor Olavo de Carvalho. Guedes, nos últimos meses do governo Bolsonaro, deu alguns passos para fora da cartilha liberal, mas ainda é um grande representante dessa corrente de pensamento, que prega a liberdade econômica e menos impostos; Já Olavo de Carvalho tem como maiores vetores conceitos ligados a um ideário cultural e de costumes, ligados ao conservadorismo e aos valores religiosos.

Para direitistas como Olavo, a economia é algo importante, mas acessório; para liberais como Guedes, os costumes conservadores são importantes, mas acessórios. Veja o que ocorreu durante o início do governo Bolsonaro. Olavo queria que o Planalto se afastasse da China, mesmo que os chineses fossem os maiores clientes internacionais do Brasil. Já Guedes trabalhou pelo crescimento de nossos negócios com a China, mesmo que o regime do país fosse uma espécie de comunismo com toques capitalistas.

Liberais são indivíduos racionais e pensam no longo prazo. Já os conservadores de costumes costumam ser passionais e imediatistas. São características bastante diferentes, que são relevadas na época das eleições.

Os adeptos do liberalismo tiveram uma chance de ouro com a gestão de Paulo Guedes, que acabou sendo desvirtuada com a chegada da pandemia e com a sofreguidão com a qual Jair Bolsonaro se jogou na reeleição. Será que haverá uma nova chance para os liberais?

Enquanto tivermos um Estado paquidérmico, empresários sufocados por normas exageradas de controle e impostos escorchantes, não podemos deixar a busca por um ambiente melhor de negócios esmorecer. O Brasil só será, de fato, o país do presente e não do futuro se conseguir implementar uma agenda liberal mínima. Por isso, o empresariado precisa patrocinar ações que eduquem a sociedade brasileira sobre os benefícios de uma estrutura pública menor. Se até eleitores de direita são fãs do Estado grande, é sinal de que os liberais estão pregando apenas para os catequizados.

É hora de ampliar o debate e mostrar claramente porque o Poder público precisa diminuir no Brasil.

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Ontem, MONEY REPORT realizou o seu terceiro Fórum Econômico, no qual discutimos tendências macroeconômicas (com Mansueto de Almeida, do BTG Pactual e Felipe Miranda, da Empiricus) e cenário político com a cientista política Cila Schulman, CEO do Instituto IDEIA. No meio de sua apresentação, Cila contou que realizou um estudo chamado Zeitgeist, em parceria com o Instituto Locomotiva. A intenção da pesquisa foi mapear os pensamentos e conceitos dos eleitores de esquerda e de direita no Brasil. Uma das principais conclusões deste estudo é que a maioria dos entrevistados, de ambos os quadrantes ideológicos, acham que o Estado deve prover mais serviços em áreas como educação e suporte social. E as duas facções acreditam que o governo deveria intervir no Banco Central e baixar os juros – apesar de a independência do BC ser garantida pela lei.

Mas, diante dessa pesquisa, podemos chegar a três conclusões em relação à direita brasileira.

A primeira é a de que os conceitos defendidos pelos direitistas não são necessariamente econômicos – assim como na Europa, a direita é definida mais pela xenofobia do que pelo apreço às teses de Adam Smith. Os eleitores de direita se diferenciam basicamente dos de esquerda em três tópicos: opinião sobre o Supremo Tribunal Federal, urnas eletrônicas e militares no poder.

A direita execra a maioria dos ministros do STF e suas decisões de maneira geral; não acredita na segurança das urnas eletrônicas e na inviolabilidade do processo eleitoral; por fim, apoiam e estimulam a presença de oficiais das Forças Armadas na administração Federal. Obviamente, os esquerdistas pensam de forma exatamente contrária em relação a esses tópicos.

A segunda conclusão é a de que existe uma diferença entre direitistas e bolsonaristas. Este último grupo é mais radical em suas opiniões e é mais articulado. Nem todos os direitistas vão às ruas para protestar, mas a maioria dos bolsonaristas se sentem impelidos a protestar em público diante de temas que os afligem.

Por fim, é preciso riscar uma linha separando direita e liberalismo. Todos os liberais são de direita, mas nem todos os direitistas são liberais. Quando muitos eleitores conservadores apontam que o governo deve ter maior presença estatal e que deve intervir no Bacen para promover uma queda de juros na marra, é sinal de que temos um software de direita rodando em um hardware de esquerda.

O liberalismo promove um conceito básico: a conjunção entre maior liberdade econômica e estado menor, com condições de cobrar menos impostos. Há, porém, eleitores da direita que acreditam em um capitalismo bombado pelas mãos estatais, como foi feito durante os tempos de governo militar. Não é à toa, portanto, que em várias manifestações direitistas, temos as indefectíveis faixas que pedem a volta da ditadura militar.

A diferença pode ser representada se compararmos o ex-ministro Paulo Guedes e o falecido escritor Olavo de Carvalho. Guedes, nos últimos meses do governo Bolsonaro, deu alguns passos para fora da cartilha liberal, mas ainda é um grande representante dessa corrente de pensamento, que prega a liberdade econômica e menos impostos; Já Olavo de Carvalho tem como maiores vetores conceitos ligados a um ideário cultural e de costumes, ligados ao conservadorismo e aos valores religiosos.

Para direitistas como Olavo, a economia é algo importante, mas acessório; para liberais como Guedes, os costumes conservadores são importantes, mas acessórios. Veja o que ocorreu durante o início do governo Bolsonaro. Olavo queria que o Planalto se afastasse da China, mesmo que os chineses fossem os maiores clientes internacionais do Brasil. Já Guedes trabalhou pelo crescimento de nossos negócios com a China, mesmo que o regime do país fosse uma espécie de comunismo com toques capitalistas.

Liberais são indivíduos racionais e pensam no longo prazo. Já os conservadores de costumes costumam ser passionais e imediatistas. São características bastante diferentes, que são relevadas na época das eleições.

Os adeptos do liberalismo tiveram uma chance de ouro com a gestão de Paulo Guedes, que acabou sendo desvirtuada com a chegada da pandemia e com a sofreguidão com a qual Jair Bolsonaro se jogou na reeleição. Será que haverá uma nova chance para os liberais?

Enquanto tivermos um Estado paquidérmico, empresários sufocados por normas exageradas de controle e impostos escorchantes, não podemos deixar a busca por um ambiente melhor de negócios esmorecer. O Brasil só será, de fato, o país do presente e não do futuro se conseguir implementar uma agenda liberal mínima. Por isso, o empresariado precisa patrocinar ações que eduquem a sociedade brasileira sobre os benefícios de uma estrutura pública menor. Se até eleitores de direita são fãs do Estado grande, é sinal de que os liberais estão pregando apenas para os catequizados.

É hora de ampliar o debate e mostrar claramente porque o Poder público precisa diminuir no Brasil.

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