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Crise no MBL mostra que a direita carece de nomes novos e com consistência

Grupo ganhou muita força com o desgaste do governo Dilma Rousseff e o escândalo desencadeado pela Operação Lava-Jato

Protesto contra Bolsonaro em São Paulo: apesar das semelhanças com atos contra Dilma, a negação da política é hoje menos forte (ANDRé RIBEIRO/FUTURA PRESS/Agência Estado)
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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2022 às 17h10.

Por Aluizio Falcão Filho

Os recentes áudios misóginos do deputado estadual Arthur do Val abriram uma crise no Movimento Brasil Livre. Para piorar, o lamentável episódio veio na sequência em que o deputado federal Kim Kataguiri havia feito declarações infelizes e condenáveis sobre o nazismo. No final, o parlamentar conhecido pelo epíteto de “Mamãe Falei”, desistiu de sua candidatura ao governo do Estado de São Paulo e saiu do MBL, numa tentativa de não desgastar a imagem do movimento.

Este grupo ganhou muita força com o desgaste do governo Dilma Rousseff e o escândalo desencadeado pela Operação Lava-Jato (tanto é que a candidatura do ex-juiz Sérgio Moro à presidência tinha sido totalmente abraçada pelos líderes do MBL). A ascensão de jovens com um pensamento de direita foi uma novidade no cenário político nacional – e seus candidatos obtiveram uma votação expressiva nas últimas eleições.

Mas, desde o início, havia uma suspeita de que não existia consistência no pensamento que norteava estas estrelas políticas em evidência. Ao mesmo tempo, os analistas políticos tinham uma certeza: a vaidade sobrava na personalidade dos líderes do MBL. O próprio Arthur do Val mostrava isso em seus vídeos, especialmente aqueles em que ia a manifestações do PT para provocar os oponentes ideológicos. Kim Kataguiri, por sua vez, anunciou que era candidato à presidência da Câmara (um deputado de primeiro mandato, com apenas 22 anos de idade) no início da legislatura, mostrando que se achava preparado para ocupar a cadeira legislativa mais importante do país. Essa atitude é um exemplo de vaidade ou de arrogância – ou uma combinação de ambas.

Diz a lenda que Kataguiri largou o curso de economia na Universidade Federal do ABC (UFABC) porque “sabia mais que os professores” e que, ainda no primeiro semestre, o currículo não previa disciplinas com as teses de Fiedrich Hayek e de Ludwig Von Mises (matérias que são ensinadas em todos as faculdades de economia do mundo, até na Unicamp).

Se ficasse pelo menos alguns meses neste curso, ele não passaria uma situação vexatória que pode ser conferida no YouTube. Em um vídeo, o deputado diz o seguinte: “Durante a Primeira Guerra Mundial, o próprio [Karl] Marx percebeu que o proletariado pegou em armas para matar o proletariado de outros países”, afirmou. Só que, como se sabe, Marx morreu em 1883, enquanto o primeiro conflito internacional teve início em 1914.

O ocaso destes dois membros do MBL mostra que, mesmo na época das mídias sociais, ter talento para a comunicação não é o bastante. Tanto Arthur do Val como Kim Kataguiri falam muito bem e são convincentes em seus canais. Mas, sem capacidade de ponderar o que é certo ou que é errado, sofreram críticas pesadas parecidas com as que faziam contra seus opositores. Em suma, provaram do próprio veneno.Capacidade de se calar – ou se reprimir antes de falar bobagens – é algo que se aprende com o tempo. Kataguiri tem 26 anos e pode usar essa desculpa. Mas Val já está com 35 anos. Em tese, teria vivência suficiente para não se comportar como um moleque e falar as barbaridades que estão imortalizadas em áudio.

É muito comum associar os jovens à esquerda. Sob esse ponto de vista, os membros do MBL representavam uma novidade, pois defendiam o capitalismo e as ideias liberais. A grande capacidade de explorar a internet mostrava que poderia haver uma renovação na direita e que o debate político conservador ganharia novos argumentos.

O que se viu, no entanto, foi uma incapacidade total de se manifestar sobre temas que fogem da economia pura e simples. Nestes episódios recentes, vimos características que mancham o caráter destes políticos e que provocam uma grande rejeição.

Esses atos causam reações emocionais, como a forte repulsa. E minam fortemente o MBL, que precisa agora apostar em outros representantes, como o vereador Rubinho Nunes. Quem ganha com tudo isso? A esquerda e alguns nomes do Partido Novo (também desgastado por outras questões), como o deputado Vinicius Poit. Candidato ao governo do Estado, ele tem chances irrisórias de vencer a eleição. Mas pode plantar uma semente junto ao eleitorado jovem a ser colhida em um futuro próximo. No entanto, para se manter no jogo, vai ter de mostrar maturidade – ao contrário do que apresentou a dupla do Movimento Brasil Livre.

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Por Aluizio Falcão Filho

Os recentes áudios misóginos do deputado estadual Arthur do Val abriram uma crise no Movimento Brasil Livre. Para piorar, o lamentável episódio veio na sequência em que o deputado federal Kim Kataguiri havia feito declarações infelizes e condenáveis sobre o nazismo. No final, o parlamentar conhecido pelo epíteto de “Mamãe Falei”, desistiu de sua candidatura ao governo do Estado de São Paulo e saiu do MBL, numa tentativa de não desgastar a imagem do movimento.

Este grupo ganhou muita força com o desgaste do governo Dilma Rousseff e o escândalo desencadeado pela Operação Lava-Jato (tanto é que a candidatura do ex-juiz Sérgio Moro à presidência tinha sido totalmente abraçada pelos líderes do MBL). A ascensão de jovens com um pensamento de direita foi uma novidade no cenário político nacional – e seus candidatos obtiveram uma votação expressiva nas últimas eleições.

Mas, desde o início, havia uma suspeita de que não existia consistência no pensamento que norteava estas estrelas políticas em evidência. Ao mesmo tempo, os analistas políticos tinham uma certeza: a vaidade sobrava na personalidade dos líderes do MBL. O próprio Arthur do Val mostrava isso em seus vídeos, especialmente aqueles em que ia a manifestações do PT para provocar os oponentes ideológicos. Kim Kataguiri, por sua vez, anunciou que era candidato à presidência da Câmara (um deputado de primeiro mandato, com apenas 22 anos de idade) no início da legislatura, mostrando que se achava preparado para ocupar a cadeira legislativa mais importante do país. Essa atitude é um exemplo de vaidade ou de arrogância – ou uma combinação de ambas.

Diz a lenda que Kataguiri largou o curso de economia na Universidade Federal do ABC (UFABC) porque “sabia mais que os professores” e que, ainda no primeiro semestre, o currículo não previa disciplinas com as teses de Fiedrich Hayek e de Ludwig Von Mises (matérias que são ensinadas em todos as faculdades de economia do mundo, até na Unicamp).

Se ficasse pelo menos alguns meses neste curso, ele não passaria uma situação vexatória que pode ser conferida no YouTube. Em um vídeo, o deputado diz o seguinte: “Durante a Primeira Guerra Mundial, o próprio [Karl] Marx percebeu que o proletariado pegou em armas para matar o proletariado de outros países”, afirmou. Só que, como se sabe, Marx morreu em 1883, enquanto o primeiro conflito internacional teve início em 1914.

O ocaso destes dois membros do MBL mostra que, mesmo na época das mídias sociais, ter talento para a comunicação não é o bastante. Tanto Arthur do Val como Kim Kataguiri falam muito bem e são convincentes em seus canais. Mas, sem capacidade de ponderar o que é certo ou que é errado, sofreram críticas pesadas parecidas com as que faziam contra seus opositores. Em suma, provaram do próprio veneno.Capacidade de se calar – ou se reprimir antes de falar bobagens – é algo que se aprende com o tempo. Kataguiri tem 26 anos e pode usar essa desculpa. Mas Val já está com 35 anos. Em tese, teria vivência suficiente para não se comportar como um moleque e falar as barbaridades que estão imortalizadas em áudio.

É muito comum associar os jovens à esquerda. Sob esse ponto de vista, os membros do MBL representavam uma novidade, pois defendiam o capitalismo e as ideias liberais. A grande capacidade de explorar a internet mostrava que poderia haver uma renovação na direita e que o debate político conservador ganharia novos argumentos.

O que se viu, no entanto, foi uma incapacidade total de se manifestar sobre temas que fogem da economia pura e simples. Nestes episódios recentes, vimos características que mancham o caráter destes políticos e que provocam uma grande rejeição.

Esses atos causam reações emocionais, como a forte repulsa. E minam fortemente o MBL, que precisa agora apostar em outros representantes, como o vereador Rubinho Nunes. Quem ganha com tudo isso? A esquerda e alguns nomes do Partido Novo (também desgastado por outras questões), como o deputado Vinicius Poit. Candidato ao governo do Estado, ele tem chances irrisórias de vencer a eleição. Mas pode plantar uma semente junto ao eleitorado jovem a ser colhida em um futuro próximo. No entanto, para se manter no jogo, vai ter de mostrar maturidade – ao contrário do que apresentou a dupla do Movimento Brasil Livre.

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