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Como será a cirurgia de Lula e seu pós-operatório

Fiz essa operação há um ano e ainda faço fisioterapia para recuperar a plenitude de meus movimentos.

Lula na ONU: trata-se de uma cirurgia relativamente rápida, mas efeitos do pós-operatório são duros (Spencer Platt//Getty Images)
Lula na ONU: trata-se de uma cirurgia relativamente rápida, mas efeitos do pós-operatório são duros (Spencer Platt//Getty Images)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá se submeter a uma operação no quadril, na qual a cabeça do fêmur será substituída por uma prótese – um procedimento chamado artroplastia. Lula sofre de artrose na região, com um desgaste profundo na cartilagem que reveste o osso. Isso significa que, a cada passo, a cabeça do fêmur raspa no osso do quadril, gerando dores difíceis de suportar. Ao mesmo tempo, esse contato gera uma inflamação contínua no local. Resultado: sente-se dor e latejo até quando o enfermo está parado.

Fiz essa operação há um ano. E ainda faço fisioterapia para recuperar a plenitude de meus movimentos. Não sinto mais dor (o que é um alívio), mas ainda não caminho com desenvoltura. A maioria dos pacientes consegue superar as adversidades em um tempo equivalente a seis meses. Mas, no meu caso, os músculos ainda não voltaram à forma ideal.

Trata-se de uma cirurgia relativamente rápida (de uma hora e meia a duas horas), mas os efeitos do pós-operatório são bastante duros.  

Há duas formas de efetuar essa operação: através de um corte na região frontal do quadril ou de uma incisão lateral. O corte frontal é indicado para pessoas magras ou de estrutura óssea pequena. Não é o meu caso e não parece também ser o do presidente.

Como a operação, então, é feita? O cirurgião faz um corte na perna, na altura do quadril, paralelo ao fêmur. Surge, então, o primeiro obstáculo: o glúteo médio, um músculo ao qual não damos muita importância, mas é fundamental no movimento que fazemos para caminhar. O médico, em seguida, corta o glúteo médio no meio, para acessar a região que será trabalhada em seguida. Depois, o osso do fêmur é serrado e sua cabeça é descolada do quadril. Em seguida, o quadril é perfurado e um anteparo é colocado, para receber a ponta da prótese.

O próximo passo é encaixar a prótese dentro do osso (o interior gelatinoso). Depois de encaixada, a peça é cimentada no osso e encaixada no anteparo do quadril. O cirurgião, então, tem de costurar o músculo que foi cortado e fechar o corte.

Em setembro de 2022, fiz a minha segunda cirurgia do gênero (antes havia operado o lado direito do quadril). Muita coisa mudou de uma operação para outra, especialmente no quesito dores pós-operatórias (depois que o paciente sai do hospital e para de tomar opiáceos na veia). Na primeira ocasião, sofri bastante e me preparei para o pior. Mas a tecnologia evoluiu muito neste período, especialmente no que diz respeito aos chamados bloqueadores de dor (doses de analgesia que são aplicadas diretamente nos pontos da cirurgia que vão proporcionar desconforto).

Ou seja, o paciente sente dores, mas em uma escala muito menor do que a anterior. Mas, feita a cirurgia, surge um novo desafio: reaprender a andar. Lembram-se que o glúteo médio é cortado para fazer a operação? Pois bem. Depois de fazer esse procedimento, é como se a musculatura da perna do lado operado desligasse. É preciso, então, iniciar um processo de fisioterapia que pode durar três meses, se o presidente der sorte, ou um ano – como é o meu caso (um tendão engrossou e tornou a recuperação mais demorada).

Lula terá pela frente um processo difícil: primeiro, terá de se locomover com a ajuda de um andador. Depois, com duas muletas. Após isso, uma só. Por fim, uma bengala. E não adianta ter pressa e tentar dar um passo maior que a perna. Neste momento, menos é mais – e qualquer esforço além da conta pode tirar a prótese de lugar. Se isso ocorrer, o paciente terá de fazer uma nova cirurgia.

O presidente sentirá, ainda por um mês, dor e desconforto. Mas terá de lidar com a frustração que está vinculada a qualquer programa de fisioterapia. Por que frustração? A razão é simples: uma vez que você tenha conseguido fazer algum exercício, o fisioterapeuta vai arrumar um procedimento ainda mais difícil de fazer, deixando-o irremediavelmente frustrado.

Nessa primeira semana, é melhor deixar o comando do país ao vice, Geraldo Alckmin. A razão? O paciente tem de tomar fortes analgésicos como Tramal ou Oxicodona – isso deixa qualquer um avoado e desconcentrado. Por isso, presidente, melhor deixar um pouco a condução do governo nas mãos de Alckmin. Acredite em mim: não faça nada sob o efeito de um opióide. Nesse caso, a vítima não será apenas Vossa Excelência – e sim o país como um todo.