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CAOA foi um dos últimos ‘tycoons’ brasileiros

O império CAOA foi construído ao longo dos anos com paciência, estratégia ousada de preços e um marketing agressivo e onipresente

O empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, o Caoa (Germano Lüders/Exame)
O empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, o Caoa (Germano Lüders/Exame)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 17 de agosto de 2021 às, 08h44.

Aluizio Falcão Filho

Ele se foi no sábado. Talvez o último dos ‘tycoons’ à moda antiga, daqueles que começaram do zero e foram crescendo avassaladoramente. Como ocorre no caso de vários empresários de sucesso, Carlos Alberto de Oliveira Andrade tinha suas páginas coladas e enfrentou várias acusações durante a vida – da qual fraude fiscal foi uma das mais brandas. Em compensação, deixa um legado importante: o império CAOA foi construído ao longo dos anos com paciência, estratégia ousada de preços e um marketing agressivo e onipresente.

Estive com ele uma vez, em sua casa nos Jardins, alguns meses antes da pandemia. Ele já praticava o Home Office e usava várias salas do térreo de sua mansão para receber os convidados e fazer reuniões. Não se furtava a contar – talvez pela milésima vez – o início de seus negócios no mundo dos automóveis (aquela história na qual ele comprou um Ford Landau, a concessionária quebrou e ele adquiriu a loja para receber seu carro).

Apesar de riquíssimo, ouvia todas as propostas de negócio com atenção – mesmo aquelas de valor pequeno, mas que poderiam representar alguma vantagem para o grupo. Um amigo da publicidade, por exemplo, ofereceu a ele uma possibilidade de economizar 7 % nas suas veiculações em uma determinada emissora de TV. Emplacou o negócio em menos de quinze minutos.

O doutor Carlos, como era chamado (médico de formação), tinha fala mansa e carisma imenso. Ouvia, ouvia e ouvia – de uma forma que ele parecia estar com a cabeça longe, pois estava quieto sem interferir no diálogo. De repente, soltava uma pergunta pertinente e desafiadora, daqueles que fazia o interlocutor parar para pensar antes de responder.

Usou uma estratégia de vendas surpreendente. Quando começou a atuar com a marca Hyundai percebeu que os consumidores tinham receio de comprar um carro de marca até então desconhecida. Passou a fazer comerciais de TV com depoimento de seus clientes – um deles, inclusive, era marido de uma amiga minha. Ele dizia: “É Hyundai. Imbatível”. Essa frase agradou tanto o “doutor” eu virou assinatura daquele comercial e de muitos outros.

Mas ele percebeu que usar testemunhais funcionava até certo ponto. Foi aí que descobriu a existência da J.D. Power, uma empresa americana de análise de dados e inteligência do consumidor. Fundada em 1968 por James David Power, essa consultoria faz pesquisas de satisfação do consumidor e hoje pertence ao grupo McGraw Hill. Alguns anos atrás, no entanto, a Hyundai brasileira descobriu que certos modelos da marca estavam bem colocados no ranking elaborado pela consultoria – alguns até estavam no topo da lista dos melhores do mundo. Resultado: por conta da campanha maciça, havia mais brasileiros sabendo da existência da J.D. Power do que americanos.

Apesar do sucesso de vendas, a montadora coreana resolveu tomar o controle da operação brasileira de Andrade. Ele, então, resolveu trazer a marca Chery ao Brasil, lançando a linha de SUVs Tiggo no país. Até hoje, os jornais diários trazem várias páginas mostrando a relação custo-benefício dessa linha em relação à concorrência.

Nessa minha conversa com o doutor CAOA, em que acompanhei um amigo em comum, o construtor Beto Rassi, de Goiânia, me lembro que ele falou entusiasmadíssimo que iria trazer mais uma marca ao Brasil – a Exeed, uma espécie de divisão de luxo da Chery, com acabamento de primeira e motores bastante potentes. De fato, depois de algum tempo, a empresa anunciou que traria o SUV Exeed VX, destinado aos consumidores de alto poder aquisitivo.

Já ao final da conversa, comentei que ele estava usando um sapato de grife, de coloração avermelhada, bastante moderno para um senhor que tinha há algum tempo passado dos setenta anos de idade. “Eu adoro sapatos”, me respondeu. Ele contou, então, que durante a sua infância ele não usou sapatos porque a família não tinha dinheiro para comprar calçados. Naquela data, rico, ele se permitia a certas extravagâncias no universo calçadista: quando gostava de determinado modelo, comprava logo um de cada cor.

Confesso que deixei aquele casarão impressionado com a simplicidade e o dinamismo daquele empresário baixinho, atarracado e de sotaque nordestino. Que parecia viver a plenitude de sua existência, com uma alegria de viver incomum. Trata-se de um ícone da indústria automobilística no Brasil e um exemplo que fará falta a todos os empreendedores que batalham diariamente por seu sustento em nosso país.

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