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Alto teor de indulgência adicionada

Toda vez que eu me deparo com aqueles dizeres, boa parte da minha vontade de comer um doce desaparece

Não basta se preocupar apenas com as informações nutricionais de um alimento, mas também com a combinação de insumos como gordura, sal e açúcar (staticnak1983/Getty Images)
Não basta se preocupar apenas com as informações nutricionais de um alimento, mas também com a combinação de insumos como gordura, sal e açúcar (staticnak1983/Getty Images)

A lei que determina o conteúdo dos rótulos de produtos alimentícios tem como objetivo reduzir o consumo daquelas opções que possuem altos teores de açúcar adicionado, sódio ou gordura saturada. No meu caso, funcionou perfeitamente. Toda vez que eu me deparo com aqueles dizeres, boa parte da minha vontade de comer um doce desaparece.

A sociedade moderna é implacável em reduzir os prazeres perigosos para a saúde. Convenhamos: a comida fica muito melhor quando adicionada daquilo que faz mal. Você conhece algum prato cheio de colesterol que seja ruim?

Pois é. É como se procurássemos sempre uma receita com alto teor de indulgência adicionada, mas sem a contraparte maléfica para a saúde.

Por enquanto, estamos falando apenas daquilo que é vendido nos supermercados e mercearias. Mas, daqui a pouco, é bem possível que a Anvisa mande os restaurantes a confecção de cardápios com informações relativas a carboidratos, gordura, calorias, açúcar etc. Estamos lutando contra a obesidade e perdendo essa batalha (38 % da população mundial são compostos por obesos ou pessoas com sobrepeso). E a chamada informação nutricional é uma forma de reduzir o consumo daquilo que pode prejudicar os nossos corpos.

A alimentação é um dos fatores fundamentais para a longevidade do ser humano.

No seriado “Como viver até os 100 anos: os segredos das zonas azuis”, o jornalista e escritor Dan Buettner mostra quatro principais características que fazem os habitantes de cinco localidades (Okinawa, no Japão; Sardenha, na Itália; Icária, na Grécia; Nicoya, na Costa Rica; e Loma Linda, na Califórnia, Estados Unidos) que explicam a longevidade dos habitantes destes locais. A alimentação é uma delas. Aliás, em Okinawa, os locais dizem sempre “Hara hachi bu” uns aos outros. Isso quer dizer, em japonês, “coma até sentir 80% do estômago cheio”.

Moderação, assim, é um dos segredos de uma vida longa e saudável. E, segundo essa linha de pensamento, ser alertado de características nefastas de determinados alimentos é uma forma de evitar o consumo daquilo que pode nos prejudicar.

Ocorre que há um inimigo silencioso, que ainda não foi desvendado pela Anvisa para a maioria da população. Ouvi falar desse oponente da vida saudável em dois livros: “O Dilema do Onívoro”, de Michael Pollan, e “The End of Overeating”, de David Keller.

Um de nossos maiores problemas é a combinação “sal, açúcar e gordura”, presente em vários alimentos, de doces a salgadinhos. Você já se sentiu sem controle para parar de comer alguma coisa, mesmo sabendo estar empanturrado? Provavelmente esse petisco possui sal, açúcar e gordura em sua receita.

Estes três componentes provocam um estímulo aos nossos neurônios, liberando dopamina, um neurotransmissor que aumenta a compulsão alimentar, desequilibrando a área do cérebro em que está localizado o nosso “centro de saciedade”. Esse trio está presente em barras de chocolate, como o Snickers: uma massa de nougat (gordura) é combinada com caramelo (açúcar) e amendoins (sal) antes de receber uma camada de chocolate. Ou o frango frito da KFC, cuja massa crocante incorpora os três ingredientes.

Portanto, não basta se preocupar apenas com as informações nutricionais de um alimento, mas também com a combinação de insumos como gordura, sal e açúcar.

É, a vida moderna não é fácil.