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A Terceira Via ainda não decolou. Isso vai acontecer em algum momento?

Hoje, o comportamento da chamada Terceira Via é aquele que se viu na Avenida Paulista: disperso

O eleitor que clama pela Terceira Via, fora da órbita de Bolsonaro e Lula, não é um militante (Paulo Lopes/Anadolu Agency/Getty Images)
O eleitor que clama pela Terceira Via, fora da órbita de Bolsonaro e Lula, não é um militante (Paulo Lopes/Anadolu Agency/Getty Images)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 13 de setembro de 2021 às, 08h08.

No duelo de aglomerações públicas, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu juntar mais gente no Sete de Setembro do que as manifestações de ontem. Isso quer dizer que ele tem apoio da maioria dos eleitores? Não necessariamente. Por enquanto, esse duelo de concentrações demográficas mostra que Bolsonaro possui uma militância organizada e atuante.

Dois pontos podem ser utilizados para explicar a baixa adesão às concentrações anti-bolsonaristas de domingo. O primeiro é a recusa do Partido dos Trabalhadores e do PSOL em aderir aos movimentos. Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados preferem ver o seu principal adversário em queda constante de popularidade e não querem trazer nenhuma discussão relativa a um eventual impeachment à baila – uma bandeira que vários dos políticos presentes aos atos de ontem levantaram.

Em segundo lugar, é preciso lembrar que o eleitor que clama pela Terceira Via, fora da órbita de Bolsonaro e Lula, não é um militante. Trata-se, em sua maioria, de um indivíduo plenamente insatisfeito com os rumos do governo e contrário à volta do PT ao poder. Mas, ao mesmo tempo, não vê grandes estímulos para sair de casa e lotar a Avenida Paulista.

Além disso, para esse eleitor, o pleito de 2022 só vai estar em sua pauta a partir de abril do ano que vem. Nas candidaturas que hoje dominam as pesquisas eleitorais, no entanto, o espírito é diametralmente oposto. Tanto para os apoiadores do presidente como do ex-presidente, a campanha de 2022 já começou. Basta ver as redes sociais e os comentários postados sobre os adversários políticos. O cenário é lamentável: fake news pipocam, assim como críticas fortíssimas e cruéis.

Finalmente, aquele brasileiro “nem-nem”, que não pode ouvir falar nos nomes que representam os extremos, está dividido. Há adeptos de Ciro Gomes, João Doria, Eduardo Leite, Sergio Moro e outros menos cotados. Mas uma parcela significativa destes eleitores insatisfeitos não se alinha com nenhum dos nomes listados. O que eles querem? O surgimento de uma nova candidatura que possa arrebanhar votos e unificar as expectativas do Centro.

Isso poderá ocorrer? Sim, mas o tempo corre e, até agora, não surgiu nenhum candidato que possa realizar esse papel. O objetivo desta candidatura seria chegar ao segundo turno. Mas isso seria possível?

Hoje, o comportamento da chamada Terceira Via é aquele que se viu na Avenida Paulista: disperso. Não existe ainda uma concentração significativa de votos em torno de algum nome e não sabemos se em algum momento de 2022 isso ocorrerá.

Enquanto os eleitores não se unem, os candidatos continuam divididos e sem cogitar a formação de uma frente suprapartidária. O difícil, se esse assunto for debatido, será dominar os egos. Alguém enxerga Ciro renunciando em favor de Doria? Ou vice-e-versa? E, mesmo assim, um eleitor de Ciro Gomes votaria em João Doria? E o de Doria, sufragaria Ciro?

Essas dúvidas tornam a viabilidade de uma união em torno da Terceira Via algo quase que impossível. Talvez seja por isso que muitos centristas sonham com o surgimento de um nome inédito, que possa arrebatar corações e mentes. No fundo, essas pessoas parecem torcer para um fenômeno semelhante ao de Bolsonaro em 2018, só que com alguém politicamente correto, ponderado, de centro e democrata. Mas, ao mesmo tempo, esse candidato ideal precisa ser carismático e bom de voto.

Sonhar é de graça, mas fazer acontecer tem um preço caro. Será que vale a pena esperar por esse príncipe eleitoral das urnas?

Enquanto não se movimentarem para valer, buscando viabilidade nas urnas, os eleitores centristas correm o risco de ficar com uma tremenda dor de cotovelo no segundo turno de 2022, provocando uma onda ainda maior de abstenções e votos brancos e nulos. “O tempo paaassa, torcida brasileira”, diria o falecido locutor esportivo Fiori Gigliotti, que soltava essa frase em jogos nos quais um time precisava desesperadamente fazer um gol e ficava sem marcar, conforme o cronômetro ia avançando.

Este é exatamente o caso da Terceira Via. Os principais atores dessa peça precisam decidir quem será o protagonista e unirem forças. Caso contrário, poderá ser tarde demais quando a campanha eleitoral pegar fogo de verdade.