A invasão da Ucrânia pode interferir no agronegócio brasileiro?
Além da preocupação com quem mora nas áreas invadidas, uma grande interrogação surgiu nas mentes de quem pode ter os negócios afetados pelo conflito
Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2022 às 14h22.
Aluizio Falcão Filho
O mundo inteiro amanheceu preocupado no dia de ontem com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Além da preocupação com a integridade física de quem mora nas áreas invadidas, uma grande interrogação surgiu nas mentes de quem pode ter os negócios afetados pelo conflito. Um desses mercados é o agronegócio brasileiro.
O Brasil importa cerca de 80% dos fertilizantes que consome em suas plantações. No caso dos adubos à base de potássio, a dependência da matéria-prima importada é ainda maior: 96% dos insumos vêm do mercado internacional.
A Rússia, ao lado da Belarus e da China, é um dos maiores produtores de fertilizantes do mundo – tanto que este assunto foi parte importante da pauta que envolveu as conversas entre Vladimir Putin e Jair Bolsonaro alguns dias atrás.
O mercado de ureia (derivada do gás natural, que os russos têm de sobra), um dos ingredientes dos fertilizantes nitrogenados, respondeu imediatamente ao confronto. As cotações da commodity subiram 45 % em um só dia.
Espera-se que haja algum tipo de acomodação nesses preços – mas, mesmo que as cotações recuem, os custos de produção agrícola deverão ficar nas alturas. Ocorre que a ureia está em escassez desde 2021. E a incógnita que se abre com a guerra na Ucrânia só trouxe inseguranças aos investidores e agricultores (essa substância também é utilizada nos caminhões a diesel para reduzir a emissão de poluentes).
A inflação, no entanto, é o menor dos problemas.
Se houver uma escassez de fertilizantes, teremos dois problemas: um é econômico, pois deixaremos de exportar no mesmo ritmo de antes e geraremos um volume menor de divisas. O outro, no entanto, é de ordem social – e muito mais grave. Sem grandes safras, teremos dificuldade para alimentar nossa população e a dos mercados estrangeiros. Isso teria efeitos catastróficos ao país, que já sofre com milhões de desempregados passando fome.
Os analistas mais otimistas, porém, acreditam que o mercado externo, passado o sobressalto inicial, não deverá sofrer grandes impactos e que a Rússia continuará sua produção. Essa expectativa é corroborada pela reação da China (outro grande produtor de fertilizantes) ao ataque russo. Em um primeiro momento, os chineses culparam os Estados Unidos pelo acirramento das tensões e da invasão (sem utilizar esse termo). Mas, ao longo do dia de ontem, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, disse que “todas as partes devem trabalhar pela paz em vez de aumentarem a tensão ou exaltarem a possibilidade de guerra”.
Esta mudança de abordagem talvez seja um sinal de que o governo chinês não queira um conflito longo e arrastado, pois isso pode afetar as exportações do país. Como a OTAN e os Estados Unidos não devem mandar tropas para defender a Ucrânia, a duração do confronto vai depender unicamente da resistência do povo comandado pelo presidente Volodymyr Zelensky.
Se a Rússia ganhar rapidamente, teremos uma derrota amarga do ponto de vista humanitário e do Estado de Direito. Por outro lado, os pragmáticos vão respirar aliviados, uma vez que a economia não sofreria grandes solavancos. Este, infelizmente, parece ser daqueles casos em que os negócios sofrerão menos se os vilões (no caso, os russos) ganharem mais rápido. Um anticlímax que deixaria todos – incluindo quem se beneficia da situação – perplexos e petrificados com o desrespeito à soberania ucraniana.
Aluizio Falcão Filho
O mundo inteiro amanheceu preocupado no dia de ontem com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Além da preocupação com a integridade física de quem mora nas áreas invadidas, uma grande interrogação surgiu nas mentes de quem pode ter os negócios afetados pelo conflito. Um desses mercados é o agronegócio brasileiro.
O Brasil importa cerca de 80% dos fertilizantes que consome em suas plantações. No caso dos adubos à base de potássio, a dependência da matéria-prima importada é ainda maior: 96% dos insumos vêm do mercado internacional.
A Rússia, ao lado da Belarus e da China, é um dos maiores produtores de fertilizantes do mundo – tanto que este assunto foi parte importante da pauta que envolveu as conversas entre Vladimir Putin e Jair Bolsonaro alguns dias atrás.
O mercado de ureia (derivada do gás natural, que os russos têm de sobra), um dos ingredientes dos fertilizantes nitrogenados, respondeu imediatamente ao confronto. As cotações da commodity subiram 45 % em um só dia.
Espera-se que haja algum tipo de acomodação nesses preços – mas, mesmo que as cotações recuem, os custos de produção agrícola deverão ficar nas alturas. Ocorre que a ureia está em escassez desde 2021. E a incógnita que se abre com a guerra na Ucrânia só trouxe inseguranças aos investidores e agricultores (essa substância também é utilizada nos caminhões a diesel para reduzir a emissão de poluentes).
A inflação, no entanto, é o menor dos problemas.
Se houver uma escassez de fertilizantes, teremos dois problemas: um é econômico, pois deixaremos de exportar no mesmo ritmo de antes e geraremos um volume menor de divisas. O outro, no entanto, é de ordem social – e muito mais grave. Sem grandes safras, teremos dificuldade para alimentar nossa população e a dos mercados estrangeiros. Isso teria efeitos catastróficos ao país, que já sofre com milhões de desempregados passando fome.
Os analistas mais otimistas, porém, acreditam que o mercado externo, passado o sobressalto inicial, não deverá sofrer grandes impactos e que a Rússia continuará sua produção. Essa expectativa é corroborada pela reação da China (outro grande produtor de fertilizantes) ao ataque russo. Em um primeiro momento, os chineses culparam os Estados Unidos pelo acirramento das tensões e da invasão (sem utilizar esse termo). Mas, ao longo do dia de ontem, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, disse que “todas as partes devem trabalhar pela paz em vez de aumentarem a tensão ou exaltarem a possibilidade de guerra”.
Esta mudança de abordagem talvez seja um sinal de que o governo chinês não queira um conflito longo e arrastado, pois isso pode afetar as exportações do país. Como a OTAN e os Estados Unidos não devem mandar tropas para defender a Ucrânia, a duração do confronto vai depender unicamente da resistência do povo comandado pelo presidente Volodymyr Zelensky.
Se a Rússia ganhar rapidamente, teremos uma derrota amarga do ponto de vista humanitário e do Estado de Direito. Por outro lado, os pragmáticos vão respirar aliviados, uma vez que a economia não sofreria grandes solavancos. Este, infelizmente, parece ser daqueles casos em que os negócios sofrerão menos se os vilões (no caso, os russos) ganharem mais rápido. Um anticlímax que deixaria todos – incluindo quem se beneficia da situação – perplexos e petrificados com o desrespeito à soberania ucraniana.