A idolatria da preguiça e a crítica à adrenalina
Há uma tendência que começa a pegar tração entre a garotada da Geração Z: o chamado lazy job
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Publicado em 23 de janeiro de 2024 às 15h48.
Quase que em seguida, li dois artigos que tratavam de temas parecidos. Um mostrava uma tendência que começa a pegar tração entre a garotada da Geração Z: o chamado lazy job (trabalho preguiçoso, aquele que em tese paga bem e não exige muito esforço). Minutos mais tarde, abri outro texto que alertava para um perigo entre executivos e empresários: quem não consegue desligar nas férias é porque sofre de vício em adrenalina.
Depois de ler esses dois artigos, pensei: será que não existem mais pessoas que gostam de trabalhar muito? Será que o gosto pelo trabalho é apenas ligado a algo ruim, como um vício? E, ainda por cima, vício em adrenalina?
Jornalistas capturam a tendência da sociedade. E, a julgar pela quantidade de textos que tenho lido sobre trabalho ameno (ou como conciliar qualidade de vida e responsabilidade), a tendência de nosso mundo é buscar se esforçar menos. Não é à toa que se pressiona tanto por trabalhos executivos remotos ou a eliminação de um dia útil da semana.
Essa tendência surge ao mesmo tempo em que as ferramentas de inteligência artificial batem à porta. E a IA surge principalmente para acabar com o chamado trabalho burocrático. Portanto, como ficarão esses lazy jobs quando os postos de trabalho que não agregam valor forem eliminados dos organogramas corporativos?
Mas há outra contradição interessante no ar. Se a vontade de trabalhar parece ter arrefecido, a ambição ainda está no mesmo nível de antes. Ou seja, as pessoas querem trabalhar menos, mas desejam uma promoção rapidamente. Ou enriquecer na velocidade da luz.
Um amigo me contava que, dias atrás, foi abordado por um colaborador. O rapaz disse que estava muito feliz em trabalhar na empresa dele, que era uma pessoa entusiasmada e dedicada. Mas tinha uma pergunta a fazer: quando seria promovido? O amigo respondeu à pergunta: há quanto tempo você trabalha aqui? A resposta: dez dias.
É compreensível que alguém seja ambicioso – e isso é até desejável. Mas esperar uma promoção com menos de um mês na empresa? Trata-se de um otimismo além das expectativas mais positivas.
Muitos integrantes da Geração Z foram poupados por suas famílias e por chefias benevolentes. Dessa forma, nunca conheceram um ambiente de trabalho tóxico ou competitivo, no qual todos se empenhavam além da conta para chamar atenção de quem manda.
Ocorre que esse tipo de escritório, embora nocivo, acaba ensinando muita coisa a quem está engatinhando na carreira. Já quem é tratado a pão-de-ló pouco aprende. Não deveria ser assim. Mas essa é a realidade.
Quem já teve um chefe exigente por no mínimo um ano sabe que aprendeu bastante neste período. Eu mesmo já encarei uma temporada de muitos anos abaixo de um chefe ciclotímico e bravo, mas que tinha bastante a ensinar. Muitos poderão dizer que eu sofri de uma espécie de Síndrome de Estocolmo corporativa. Mas o fato é que me preparei bastante, neste período, para liderar equipes e tirar o melhor delas sem ser descontrolado ou agressivo.
O fato é que só o desafio ensina. Este desafio não precisa ser embalado com agressões, xingamentos e demonstrações de preconceito, como era comum décadas atrás. Mas uma vida mansa dentro de uma empresa nada vai ensinar a quem está começando.
Já aqueles que enxergam o trabalho com interesse talvez não estejam viciados em adrenalina. Há pessoas que genuinamente gostam do que fazem e sentem falta do batente, especialmente os empreendedores. Para essa categoria, todo dia é dia para trabalhar, até porque é um tipo de pessoa que nunca se acomoda e sempre enxerga a linha de chegada muito longe.
Se cada empreendedor fosse pensar primeiro em sua qualidade de vida e depois em sua empresa, estaríamos em apuros. O país não geraria riqueza ou impostos. Para fazer a roda da economia girar, é preciso superar limites. E isso não é possível com preguiça e acomodação.
Quase que em seguida, li dois artigos que tratavam de temas parecidos. Um mostrava uma tendência que começa a pegar tração entre a garotada da Geração Z: o chamado lazy job (trabalho preguiçoso, aquele que em tese paga bem e não exige muito esforço). Minutos mais tarde, abri outro texto que alertava para um perigo entre executivos e empresários: quem não consegue desligar nas férias é porque sofre de vício em adrenalina.
Depois de ler esses dois artigos, pensei: será que não existem mais pessoas que gostam de trabalhar muito? Será que o gosto pelo trabalho é apenas ligado a algo ruim, como um vício? E, ainda por cima, vício em adrenalina?
Jornalistas capturam a tendência da sociedade. E, a julgar pela quantidade de textos que tenho lido sobre trabalho ameno (ou como conciliar qualidade de vida e responsabilidade), a tendência de nosso mundo é buscar se esforçar menos. Não é à toa que se pressiona tanto por trabalhos executivos remotos ou a eliminação de um dia útil da semana.
Essa tendência surge ao mesmo tempo em que as ferramentas de inteligência artificial batem à porta. E a IA surge principalmente para acabar com o chamado trabalho burocrático. Portanto, como ficarão esses lazy jobs quando os postos de trabalho que não agregam valor forem eliminados dos organogramas corporativos?
Mas há outra contradição interessante no ar. Se a vontade de trabalhar parece ter arrefecido, a ambição ainda está no mesmo nível de antes. Ou seja, as pessoas querem trabalhar menos, mas desejam uma promoção rapidamente. Ou enriquecer na velocidade da luz.
Um amigo me contava que, dias atrás, foi abordado por um colaborador. O rapaz disse que estava muito feliz em trabalhar na empresa dele, que era uma pessoa entusiasmada e dedicada. Mas tinha uma pergunta a fazer: quando seria promovido? O amigo respondeu à pergunta: há quanto tempo você trabalha aqui? A resposta: dez dias.
É compreensível que alguém seja ambicioso – e isso é até desejável. Mas esperar uma promoção com menos de um mês na empresa? Trata-se de um otimismo além das expectativas mais positivas.
Muitos integrantes da Geração Z foram poupados por suas famílias e por chefias benevolentes. Dessa forma, nunca conheceram um ambiente de trabalho tóxico ou competitivo, no qual todos se empenhavam além da conta para chamar atenção de quem manda.
Ocorre que esse tipo de escritório, embora nocivo, acaba ensinando muita coisa a quem está engatinhando na carreira. Já quem é tratado a pão-de-ló pouco aprende. Não deveria ser assim. Mas essa é a realidade.
Quem já teve um chefe exigente por no mínimo um ano sabe que aprendeu bastante neste período. Eu mesmo já encarei uma temporada de muitos anos abaixo de um chefe ciclotímico e bravo, mas que tinha bastante a ensinar. Muitos poderão dizer que eu sofri de uma espécie de Síndrome de Estocolmo corporativa. Mas o fato é que me preparei bastante, neste período, para liderar equipes e tirar o melhor delas sem ser descontrolado ou agressivo.
O fato é que só o desafio ensina. Este desafio não precisa ser embalado com agressões, xingamentos e demonstrações de preconceito, como era comum décadas atrás. Mas uma vida mansa dentro de uma empresa nada vai ensinar a quem está começando.
Já aqueles que enxergam o trabalho com interesse talvez não estejam viciados em adrenalina. Há pessoas que genuinamente gostam do que fazem e sentem falta do batente, especialmente os empreendedores. Para essa categoria, todo dia é dia para trabalhar, até porque é um tipo de pessoa que nunca se acomoda e sempre enxerga a linha de chegada muito longe.
Se cada empreendedor fosse pensar primeiro em sua qualidade de vida e depois em sua empresa, estaríamos em apuros. O país não geraria riqueza ou impostos. Para fazer a roda da economia girar, é preciso superar limites. E isso não é possível com preguiça e acomodação.