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A falta que uma amizade faz

Um estudo da Ipsos mostrou recentemente que os brasileiros são o povo que mais sente solidão no planeta

Fila para o ônibus: nosso cotidiano, cheio de aplicativos que oferecem conforto e comodidade, parece conspirar para a solidão (Roberto Parizotti/Fotos Públicas)
Fila para o ônibus: nosso cotidiano, cheio de aplicativos que oferecem conforto e comodidade, parece conspirar para a solidão (Roberto Parizotti/Fotos Públicas)

Um estudo da Ipsos mostrou recentemente que os brasileiros são o povo que mais sente solidão no planeta. A pesquisa, que envolveu 23 000 pessoas em 28 países, apontou que 50 % da população nacional se considera sozinha (a média mundial é de 33 %). Isso conflita com o estereótipo que temos de nossos compatriotas – geralmente alguém extrovertido, enturmado e cheio de amizades.

Nosso cotidiano, cheio de aplicativos que oferecem conforto e comodidade, parece conspirar para isso. Veja o caso do Tinder e dos outros apps de relacionamento. Antes, era necessário sair, encontrar pessoas, paquerar e, quem sabe, namorar. Hoje, basta escolher alguém na telinha do celular e esperar um “match”. Marca-se o encontro e vida que segue. Não deu certo? Tenta-se de novo. E de novo. E de novo.

São cerca de 12 milhões de pessoas que moram sozinhas no Brasil – dessas, 50 % são idosos. Mas isso não quer dizer necessariamente que esses todos indivíduos sejam lobos solitários e avessos à diversão e à conversa. Mas a chance de alguém estar sozinho em casa e permanecer dessa forma é razoável.

As chances de alguém se tornar solitário conforme fica mais velho são enormes. Uma pesquisa realizada pela Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford mostra que o pico em que nossos círculos sociais se expandem é em torno dos 25 anos de idade, tanto para homens como para mulheres. Depois disso, as pessoas se tornam mais seletivas e vão diminuindo o número de amigos.

Neste mundo polarizado e tecnológico, essa tendência parece se acentuar. Muita gente prefere se retrair a conhecer outras pessoas, com receio de brigar. Além disso, nós costumamos carregar características específicas de nossas gerações. Sair e buscar novos relacionamentos significa entrar em contato com hábitos que não são parecidos com os nossos – e valores igualmente diferentes. Não são todas as pessoas que têm disposição para isso.

Conviver com amigos, é preciso dizer, não é exatamente uma tarefa fácil. Para isso, precisamos estar abertos ao contraditório e a opiniões diferentes. Também é necessário ter empatia, paciência e diplomacia. No mundo de hoje, essas são mercadorias escassas e caríssimas.

Uma das maiores qualidades de um amigo é a sinceridade, que muitas vezes pode ser algo brutal. É como disse Oscar Wilde: “Amigos de verdade só te esfaqueiam pela frente”.

Para aceitar uma amizade de verdade, é preciso estar aberto às novidades que esta pessoa irá trazer para o relacionamento. Sem isso, a relação será sempre superficial e não será possível desenvolver laços ou criar elos que façam nossa mente evoluir.

Uma receita para a criação de novas amizades: não se privem de conhecer gente mais jovem. No princípio, os valores dos mais novos podem chocá-lo, mas vão forçá-lo a repensar a própria vida.

Quem tem filhos sabe disso: está sempre trombando com representantes da nova geração. Conviver com os jovens traz a renovação das ideias, mesmo que existam neles valores com os quais não concordamos. Mas, antes de discordar, que tal apenas ouvir e perguntar?

Trata-se de um exercício de civilidade maravilhoso. E que nos recicla diariamente. Portanto, se você fechou as portas para novas amizades, trate de reabri-las. Sua mente vai agradecer – e, com certeza, seu corpo também.