Venezuelan President and presidential candidate Nicolas Maduro reacts following the presidential election results in Caracas on July 29, 2024. Venezuela's President Nicolas Maduro won reelection with 51.2 percent of votes cast Sunday, the electoral council announced, after a campaign tainted by claims of opposition intimidation and fears of fraud. (Photo by Yuri CORTEZ / AFP)
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Publicado em 30 de julho de 2024 às 18h49.
Uma característica comum em todas as ditaduras socialistas é o número enorme de pessoas que desejam sair dessas nações – em contraposição à inexistência de interessados em morar nesses mesmos países. O caso da Venezuela ilustra bem este cenário. De 2017 até o início de 2024, cerca de um milhão de venezuelanos cruzaram a fronteira de Roraima e entraram no Brasil. Seria o mesmo que, em sete anos, oito milhões de pessoas saíssem daqui e fossem tentar a vida em outro lugar neste período (segundo dados do Ministério de Relações Exteriores, de 2017 até 2022, um total de 1 milhão de brasileiros trocaram a terra natal pelo exterior).
A insatisfação dos venezuelanos que os leva a emigrar tem duas origens. A primeira é econômica. A outra é política, já que vivem sob um Estado opressor e que se mantém artificialmente no poder desde 1999 (com Hugo Chávez, primeiramente, e depois com Nicolás Maduro). A eleição realizada neste final de semana, que manteve Maduro no poder, não é levada a sério – e, mais uma vez, expôs a manipulação de resultados eleitorais no país vizinho. Detalhe: o voto na Venezuela ainda é impresso.
Os cidadãos daquele país vivem sob a égide da inflação desenfreada e do desabastecimento. Uma das principais riquezas naturais, o petróleo, já não consegue abastecer os cofres nacionais. Em 1998, por exemplo, a produção venezuelana era de 3 milhões de barris diários. Hoje, está em 1,5 milhão.
A crise econômica naquele país é explicada pela claque esquerdista como consequência de um embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. Mas lembremos que essas medidas foram implementadas em 2017 – só que os problemas enfrentados pela Venezuela surgiram antes disso.
Um artigo publicado pelo jornal britânico “The Guardian”, de 2007 , mostra que naquele ano já havia um desabastecimento significativo, sem ovos, leite e açúcar nas gôndolas de supermercado. Dezessete anos atrás, no entanto, apesar disso, a situação econômica não era desesperadora como ocorre hoje.
Veio uma forte recessão que abateu o país no biênio 2009/2010. Conforme o quadro foi piorando, Chávez declarou guerra à burguesia local, afirmando que os mais ricos estavam sabotando a economia venezuelana, escondendo alimentos da população. “A burguesia apátrida me declarou uma guerra econômica”, declarou Chávez na ocasião. “Vamos ver quem pode mais: se vocês, burgueses desprezíveis, burgueses em pátria, ou nós”.
Colocar a culpa de barbeiragens econômicas nos mais ricos é um movimento clássico dos esquerdistas quando estão no poder. Mas, conforme veio o embargo americano em 2017, o Tio Sam passou a ser a explicação de todas as mazelas enfrentadas pela nação.
Mas há um detalhe interessante no chamado embargo: as medidas (que sofreram um relaxamento durante o mandato de Joe Biden) têm foco na compra de títulos do governo venezuelano ou de suas estatais. Mas a restrição é apenas a cidadãos e empresas americanas. Não há nenhuma restrição à Venezuela do ponto de vista comercial. Portanto, o argumento de que os EUA sejam responsáveis pela penúria venezuelana parece frágil e sem consistência.
Mas nenhuma outra evidência da insatisfação de venezuelanos com o regime de Maduro do que o fluxo de pessoas que cruzam a fronteira, que podem ultrapassar a marca de 400 pessoas por dia.
Quando isso vai acabar?
Somente quando houver um racha entre os militares que seguram o ditador no poder. Muitos membros deste governo sabem que, sem a impunidade proporcionada pela ditadura, eles iriam para a cadeia em um regime democrático. Por isso, enquanto esses fardados estiverem unidos, o ditador se manterá no Palácio de Miraflores. Mas, em algum momento, a discórdia se instalará nos quartéis. Quando será isso? Esperemos que em breve.